Caso de corrupção que levou à queda do chanceler já fez um detido. O que se sabe?

As autoridades austríacas detiveram esta terça-feira (12 de outubro) a primeira pessoa no processo de corrupção que levou Sebastian Kurz, chanceler austríaco, a abandonar o cargo.
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Não foi revelada a identidade da pessoa detida, mas sabe-se que é uma mulher e que estaria, alegadamente, a destruir provas relacionadas com o processo em curso, segundo um meio de comunicação social local. A mulher envolvida, trabalhadora numa empresa de sondagens, é suspeita de ter apagado dados do disco rígido do seu computador, mesmo antes do início das buscas policiais.

O escândalo veio a público quando os procuradores austríacos procederam a uma série de buscas que incluíam a sede do partido de Kurz - Partido Popular Austríaco - e da própria chancelaria governativa. O mandado de busca tinha uma extensão que ultrapassava as 100 páginas, onde o primeiro caso de alegada corrupção remontava a 2016.

Nessa data, o Chanceler era Ministro dos Negócios Estrangeiros e, juntamente com os seus aliados, conseguiu retirar Reinhold Mitterlehner de líder do partido. Kurz ocupou esse lugar em 2017, tendo ganhado as eleições do seu país no final desse ano, ascendendo a Chanceler.

Mas, qual a verdadeira acusação sobre Kurz? Os procuradores acusam-no de se ter apropriado de fundos do Ministério das Finanças, usando esses fundos para financiar sondagens manipuladas que beneficiassem a sua própria imagem. O meio usado para a publicação dessas mesmas sondagens foi o jornal austríaco The Oesterreich, fazendo-o em troca de publicidade pública bastante lucrativa.

Estima-se que o chanceler demissionário terá lesado o Estado e os seus contribuintes em, pelo menos, 300 mil euros.

Thomas Schmid, conselheiro e amigo próximo de Kurz, servia de ponte de ligação entre o Chanceler e os oficiais do Ministério das Finanças. Os procuradores envolvidos no caso tiveram acesso a mensagens de telemóvel que mostram que o círculo íntimo de Kurz não tinha a imprensa em grande consideração.

Sempre que alguma notícia não era favorável à governação do Chanceler, Schmid, entre outros, explicava que isso acontecia porque "ainda não lhes tinham oferecido nenhum dinheiro", mas que rapidamente iria encontrar um elo de ligação no respetivo meio de comunicação para controlar a sua linha editorial, subornando-a. Kurz também aparece como interveniente na troca de correspondência.

Os envolvidos até agora negam todas as acusações, embora Kurz tenha vindo a público dizer que "todas as mensagens eram trocadas no calor do momento" e que "não deveriam ser retiradas do contexto". O antigo Chanceler entendeu, ainda assim, que não teria condições para continuar no poder, afirmando que "ao dia de hoje, não repetiria o conteúdo daquelas mensagens".

Para além de Kurz e do seu partido, estão a ser investigadas 10 pessoas e três organizações/empresas.

Schmid e o atual Ministro das Finanças, Gernot Bluemel, estão também a ser alvo de interrogatório. Todos os envolvidos podem cumprir pena efetiva, se condenados.

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