Gusttavo Lima, cantor do estilo sertanejo universitário de sucesso no Brasil, anunciou pré-candidatura à presidência da República, em 2026. O anúncio, visto na imprensa como fait divers e nos meios políticos como fogo de palha, conseguiu, no entanto, agitar a direita brasileira, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que mesmo inelegível confia poder concorrer ou, pelo menos, liderar o processo de sucessão, a Ronaldo Caiado, o governador de Goiás já autodeclarado pré-candidato que é amigo de Lima. “O Brasil precisa de alternativas, estou cansado de ver o povo passar necessidade”, disse Lima, 35 anos, cujo nome de baptismo é Nivaldo Batista Lima, no anúncio. Apoiante de Bolsonaro nas eleições passadas, Lima afirmou ainda que “chega dessa história de direita e de esquerda”. “Não é sobre isso, é sobre fazer um gesto para o país, no sentido de colocar o meu conhecimento em benefício de um projeto para unir a população”, continuou.Falta ao cantor, entretanto, uma condição para ser candidato: ter um partido que o acolha e apoie. “Nós vamos conversar e marcar o dia de filiação dele ao União Brasil”, disse Caiado, filiado nesse partido, à revista Veja.À direita, aliás, a iniciativa foi vista como acordo entre Caiado e Lima. “Interlocutores do ex-presidente Jair Bolsonaro veem a decisão do cantor (...) como um ‘jogo casado’ com o governador Caiado”, escreveu Igor Gadelha, colunista do jornal Metrópoles. “Com o anúncio, Lima chamaria para si a atenção, especialmente de partidários de Bolsonaro”.E o ato chamou mesmo a atenção. Cleitinho Azevedo, senador do Republicanos, partido ligado à IURD, reagiu logo: “Quem dera se mais pessoas como você, que não é bandido, que não é ladrão, que nunca precisou de político para viver, entrasse na política (...) você tem o meu apoio”.Alessandro Vieira, do MDB, diz levar a sério o nome do sertanejo. “Erra quem menospreza (...) por não perceber a carência de representação política que aflige desde o cidadão comum ao sertanejo milionário”.O PL, de Bolsonaro, e o PRTB, partido de Pablo Marçal, candidato que obteve votação surpreendente nas eleições de outubro para prefeito de São Paulo, mostraram interesse em acolher o autor de Gatinha Assanhada. “Virá aí uma nova safra política. Bem-vindo, Gusttavo”, declarou Marçal ao jornal Folha de S. Paulo..Já Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, o partido do presidente Lula da Silva, afirmou que o cantor tem direito a ser candidato mas criticou o discurso direcionado aos ouvidos dos grandes produtores agrícolas. “O problema é mentir para tentar impulsionar candidatura, dizendo que o agronegócio paga muito imposto, é o setor mais subsidiado da nossa economia”, disse. À esquerda, Lula deve ser candidato à reeleição.Lima apresenta-se depois de ter sido notícia por ligação a um esquema de lavagem de dinheiro via jogo ilegal na internet. A 23 de setembro teve mesmo mandado de prisão expedido por uma juíza, além de pedido de suspensão do passaporte e do porte de arma, mas não foi detido por estar nos EUA. Depois, um desembargador revogou.Huck, Pelé e outrosLima não é o primeiro pré-candidato presidencial famoso vindo de fora da política. Sílvio Santos, fundador do canal SBT, chegou a candidatar-se à presidência em 1989, a primeira eleição pelo voto direto após quase três décadas, duas semanas antes da primeira volta.Mas foi impedido de concorrer por, entre outros problemas apontados, ser questionada a legitimidade de um dono de um grande veículo de comunicação poder ir a votos. Santos, que morreu no ano passado, agitou, no entanto, as eleições que Collor de Mello acabaria por vencer, ao chegar a somar 30% das intenções de voto em sondagens.Luciano Huck, apresentador de programas de fim de semana, foi falado como candidato presidencial em 2018 e em 2022 para representar uma terceira via aos candidatos do PT, Fernando Haddad e Lula, mas não foi adiante. Em 2018, chegou a receber a bênção de Fernando Henrique Cardoso e, em 2022, Roberto Freire, presidente do partido Cidadania, disse esperá-lo com um tapete vermelho como candidato do partido.“Não quero, mas isso não quer dizer que eu esteja fora do debate público”, vem afirmando o comunicador. Também um dos principais apresentadores brasileiros de programas de “telecrime”, José Luiz Datena, disse à revista Veja em 2021, que só entraria na política como candidato presidencial. Três anos depois concorreu a prefeito de São Paulo mas não foi além de 1,8% dos votos numa campanha em que atirou uma cadeira à cabeça do citado Marçal num debate.No desporto, Pelé disse, numa entrevista à Folha de São Paulo em 1989, pretender criar um partido político próprio para conseguir eleger-se presidente. “Se eu for candidato, vou procurar fazer um plano com antecedência e participar nos debates na TV”, afirmou. Foi ministro do Desporto de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 1998. O também ex-futebolista e senador Romário manifestou o desejo de concorrer à presidência da República mas a campanha dececionante para governador do estado do Rio de Janeiro em 2018 - foi quarto classificado com 8,6% dos votos - tê-lo-á demovido de voos mais altos.