"Calem-se as armas!" O apelo do Papa Francisco à paz no Iraque
O Papa Francisco chegou ontem ao Iraque com uma mensagem de paz e um apelo para a convivência pacífica entre os vários grupos étnicos e religiosos. "Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte", pediu num discurso durante um encontro com as autoridades iraquianas, a sociedade civil e o corpo diplomático, no palácio presidencial em Bagdad. "Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias! Dê-se espaço a todos os cidadãos que querem construir juntos este país, no diálogo, no confronto franco e sincero, construtivo", disse.
No início da peregrinação de três dias - "venho como peregrino para os animar no testemunho de fé, esperança e caridade" -, o Papa lamentou a "morte, a destruição e as ruínas ainda visíveis" deixadas pelos "infortúnios das guerras, o flagelo do terrorismo e conflitos sectários muitas vezes baseados num fundamentalismo incapaz de aceitar a convivência pacífica de vários grupos étnicos e religiosos, de ideias e culturas diferentes".
Francisco defendeu que "a diversidade religiosa, cultural e étnica, que há milénios caracteriza a sociedade iraquiana, é um recurso precioso para se lançar mão e não um obstáculo a ser eliminado". E defendeu que é "indispensável assegurar a participação de todos", para "que ninguém seja considerado cidadão de segunda classe". Em especial dos cristãos: "A sua participação na vida pública, como cidadãos que gozam plenamente de direitos, liberdades e responsabilidades, testemunhará que um são pluralismo religioso, étnico e cultural pode contribuir para a prosperidade e a harmonia do país."
Fazendo referência também à crise provocada pela pandemia de covid-19, o Papa lançou um apelo para se repensar os estilos de vida. "Trata-se de sair deste tempo de provação melhores do que éramos antes, de construir o futuro mais sobre o que nos une do que sobre o que nos divide", reforçou. "Depois de uma crise, não basta reconstruir. É preciso fazê-lo bem, de modo que todos possam ter uma vida digna. De uma crise não se sai igual ao que se era antes: sai-se ou melhor ou pior", afirmou Francisco.
Ainda no avião da Alitalia, no qual viajou com 74 jornalistas de Roma para Bagdad, o Papa disse estar "feliz por retomar as viagens" - é a primeira que faz em 15 meses. "Esta é uma viagem emblemática", referiu, dizendo também que é "um dever para com uma terra martirizada durante tantos anos".
Na Catedral Sírio-Católica da Nossa Senhora da Salvação, em Bagdad, Francisco lembrou "os irmãos e irmãs" que ali "pagaram o preço extremo da sua fidelidade ao Senhor e à sua Igreja". Há dez anos, a igreja foi palco de um massacre, com a morte de 58 fiéis às mãos de seis bombistas suicidas do Estado Islâmico. "Que a recordação do seu sacrifício nos inspire a renovar a nossa confiança na força da Cruz e da sua mensagem salvífica de perdão, reconciliação e renascimento", disse, num encontro com bispos, sacerdotes e outros representantes da Igreja. Lembrando que a comunidade católica no país é apenas "um grão de mostarda" (são cerca de 400 mil, mas há duas décadas eram 1,5 milhões), agradeceu o trabalho de todos os religiosos e o facto de terem continuado ao lado dos fiéis apesar das guerras e da perseguição.
Na agenda do Papa para este sábado está um histórico encontro com o líder dos xiitas iraquianos, o grande ayatollah Sayyid Ali Al-Husayni Al-Sistani, na sua casa em Najaf. Depois, Francisco segue para Nassiriya, onde presidirá a um encontro inter-religioso na planície de Ur, terra natal de Abraão, o pai das três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islão. Ao final do dia, no regresso a Bagdad, preside à missa na Catedral Caldeia de São José.