Busan está a mudar. Resta saber se irá ou não mostrá-lo ao mundo na Expo 2030

A segunda maior cidade da Coreia do Sul cresceu graças aos seus portos, mas agora quer recuperar a zona ribeirinha do Porto Norte para os cidadãos. As obras já começaram e vão avançar, independentemente de o projeto ser ou não o escolhido para acolher a Exposição Mundial dentro de sete anos. Decisão será em novembro.

A Expo"98 mudou para sempre a zona oriental da cidade de Lisboa, que de outra forma poderia ter continuado durante muitos mais anos abandonada. Em Busan, a segunda maior cidade da Coreia do Sul, a exposição mundial não é o motor de desenvolvimento - as obras para devolver a frente marítima do Porto Norte à cidade e aos cidadãos já começaram há muito tempo. Acolher a Expo 2030 será uma forma de mostrar esta revolução urbana ao mundo. Mas, independentemente de a candidatura ser ou não a vencedora na votação do próximo mês de novembro, as mudanças estão a acontecer.

"Busan is ready" ("Busan está preparada") lê-se pelos quatro cantos da Coreia do Sul, desde grandes faixas no aeroporto internacional de Incheon, que serve a capital, Seul, até aos pequenos rótulos das garrafas de cerveja - à qual os sul-coreanos gostam de adicionar um shot de soju. O slogan está nos muitos tapumes de obras que enchem a cidade, que é o maior porto sul-coreano e o sexto maior do mundo em número de contentores, e a 384 metros de altura no observatório Busan X the Sky, no 100.º andar da torre Haeundae LCT Landmark Tower, a mais alta da cidade e a segunda mais alta do país (411,6 metros).

A viagem de elevador é uma experiência imersiva de menos de um minuto, com as paredes a transformarem-se em ecrãs de vídeo. A subir, fazemos uma viagem de balão, a descer, mergulhamos até às profundezas do estreito da Coreia. Do observatório, lá em cima, é possível ver não os 1,5 quilómetros de comprimento da praia urbana de Haeundae - uma ponte de vidro permite ver as ondas a rebentar em baixo, não recomendada aos que têm vertigens -, mas também parte da linha costeira recortada da cidade. A zona do Porto Norte, onde a revolução está a acontecer, fica, contudo, escondida.

A melhor forma de ver o que está a mudar é numa viagem de barco pela baía, delimitada pela ponte Busanhamgdaegyo - uma das sete em redor da cidade. Os terrenos já estão a ser preparados e a zona de contentores que ainda não foi mudada para outros portos será dentro em breve, para poder avançar a nova fase de construção.

Busan é um porto comercial desde o século XV, tendo a cidade rodeada de montanhas sido a capital temporária depois da invasão da Coreia do Norte em 1950 - quando se tornou no último reduto de defesa das forças sul-coreanas antes da entrada em cena das tropas das Nações Unidas. Era o porto que permitia manter a ligação ao resto do mundo e principalmente aos aliados. Os seus 300 mil habitantes passaram a um milhão, com a chegada dos refugiados, e depois do armistício de 1953 a cidade e o seu porto tornaram-se num dos motores do desenvolvimento económico e financeiro do país. Atualmente tem 3,4 milhões de habitantes.

O porto de Busan não é um, mas quatro, contando ainda com terminal de navios de cruzeiro. Em 1996, as autoridades decidiram devolver a frente marítima de um deles, o Porto Norte, à cidade e aos cidadãos. É lá que está a crescer um novo projeto de desenvolvimento e onde os sul-coreanos esperam acolher a Expo 2030. "Transformar o nosso mundo, navegar para um futuro melhor" é o tema proposto para a exposição mundial, que os coreanos querem acolher de 1 de maio a 31 de outubro de 2030.

Um dos membros da organização, Hwang hyun-ki, explicou a um grupo de jornalistas estrangeiros que visitou a cidade a convite da Associação de Jornalistas da Coreia do Sul que, como 2030 é o ano dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o plano é juntar as duas ideias. Assim, apesar deste tema principal, a exposição tem três subtemas relacionados com esses ODS - viver de forma sustentável com a natureza, tecnologia para a humanidade e uma plataforma para cuidar e "partilhar" pessoas. Uma resposta a três desafios globais: as alterações climáticas, as desvantagens da transformação digital e a desigualdade entre nações.

O vídeo de apresentação da candidatura recorre a dois trunfos da Coreia do Sul - as suas séries e filmes e o K-pop. O início do vídeo faz referência à série Squid Game, um sucesso mundial através da plataforma Netflix. Os "concorrentes" deparam-se com os problemas que enfrenta o planeta e são convidados a participar no "projeto coexistência". Em cena entram depois os BTS, provavelmente o grupo de K-pop mais famoso do mundo, embaixadores honorários da candidatura de Busan - dois dos sete elementos são da cidade. "Enquanto no Squid Game só há um sobrevivente, o projeto coexistência da Coreia tem um final diferente, onde todos sobrevivemos juntos no lindo planeta Terra", dizem, explicando que a Expo 2030 em Busan "está aberta a todos os que querem mudar o futuro".

O projeto ocupa uma área de 3,43 milhões de metros quadrados, equivalente a cerca de 480 campos de futebol, estando dividido em zonas temáticas, zonas de pavilhões dos países participantes e diferentes praças e áreas culturais, sempre com a natureza e a água como um dos pontos de destaque. Haverá uma floresta urbana e ilhas artificiais, incluindo um projeto de uma cidade flutuante para refugiados climáticos, que está a ser desenvolvido junto com o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN Habitat).

Depois do final da Expo 2030, ou se a candidatura de Busan não for a vencedora na eleição de novembro - Roma (Itália), Odessa (Ucrânia) e Riade (Arábia Saudita) são os adversários -, a zona será transformada numa área de negócios, inovação e tecnologia. Ao todo, as autoridades esperam investir na transformação cerca de 5,7 mil milhões de dólares (5,3 mil milhões de euros).

A Coreia do Sul tem experiência neste tipo de projetos. No topo da G-Tower na zona de Songdo, em Incheon, a norte de Seul, tem-se uma vista privilegiada para o Central Park. Um curso de água atravessa o parque, em redor do qual crescem arranha-céus com formato de ondas (maiores ou menores) ou uma casa de espetáculos assente na água. Não é de estranhar. Há 30 anos, toda a zona era precisamente mar, tendo os edifícios que se veem do observatório IFEZ, no 33.º andar, nascido nos últimos 20 ou 25 anos. Ao longe veem-se outros a serem construídos, num projeto que ainda não acabou.

O país é a quarta maior economia da Ásia e a 10.º maior do mundo, contando com marcas conhecidas como a Samsung - que nasceu na década de 30 como um entreposto comercial e transformou-se num conglomerado de empresas que vão dos mais comuns telemóveis até ao setor farmacêutico -, a Hyundai ou a LG. Apesar de tecnicamente estar ainda em guerra com a Coreia do Norte, o país continua a desenvolver-se e procura, a nível político, um papel mais ativo na promoção da liberdade, da paz e da prosperidade na região indo-pacífica.

Uma mensagem que o vice-ministro para os Assuntos Políticos, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Choi Young-sam, passou durante a Conferência Mundial de Jornalistas, que se realizou em Seul. A estratégia do governo, atualmente liderado pelo presidente conservador Yoon Suk-yeol, na região indo-pacífica é de inclusão, não excluindo nenhum país, de confiança, com a procura de parcerias confiáveis, e reciprocidade, à procura de cooperação que possa beneficiar mutuamente os vários parceiros.

Adversários

Além da Coreia do Sul e de Busan, outros três países e cidades apresentaram candidaturas para organizar a Expo 2030. A escolha será feita na assembleia-geral do Gabinete Internacional de Exposições, em novembro deste ano, através de uma votação onde cada país tem direito a um voto.

Roma, Itália: Depois de Milão, em 2015, Itália quer voltar a receber uma Expo. Desta vez a candidata é a capital italiana. Roma quer organizar a exposição na zona de Tor Vergata, onde há um campus universitário de excelência, mas também uma zona residencial que tem sido negligenciada nas últimas décadas. "Pessoas e territórios: regeneração, inclusão e inovação" é o tema proposto para a Expo.

Odessa, Ucrânia: "Renascimento. Tecnologia. Futuro" é o tema proposto para Odessa, que apresentou a sua candidatura em outubro de 2021. Apesar da guerra na Ucrânia, a candidatura não foi retirada - ao contrário do que aconteceu com Moscovo, na Rússia, que desistiu da candidatura que apresentou. "O tempo da vitória ucraniana virá e depois a reconstrução do nosso país vai tornar-se no mais importante projeto económico, tecnológico e humanitário do nosso tempo", disse num vídeo de apresentação o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.


Riade, Arábia Saudita: Depois do Dubai em 2021 e 2022 (a pandemia de covid obrigou a adiar a exposição de 2020), a península arábica quer voltar a receber a Expo. "A Era da Mudança: juntos por um amanhã previsto" é o tema que os sauditas propõem para a Expo 2030 caso Riade seja escolhida. O local preciso para o projeto, de 338 hectares, seria a norte da capital, à volta de Wadi Al Sulai, um vale histórico.

susana.f.salvador@dn.pt

DN viajou a convite da Associação de Jornalistas da Coreia do Sul.

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