Bolsonaro critica indígena que discursou na cimeira do clima. "Levaram uma índia para atacar o Brasil"
O chefe de Estado criticou o facto de ser uma brasileira a criticar o próprio Brasil, algo que, segundo referiu, não acontece com outros países.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, criticou, esta quarta-feira, a ativista indígena Txai Suruí, que discursou na 26.ª Cimeira das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia, acusando-a de "atacar o Brasil".
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O chefe de Estado criticou o facto de ser uma brasileira a criticar o próprio Brasil, algo que, segundo referiu, não acontece com outros países.
"Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá, para substituir o Raoni [um dos principais líderes indígenas brasileiros], para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu (alguém) atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém já viu o americano criticando as queimadas no estado da Califórnia? É só aqui", disse Bolsonaro a apoiantes, em Brasília.
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A jovem indígena, de 24 anos, participou na segunda-feira na abertura da COP26, em representação das comunidades indígenas do Brasil, ao contrário de Jair Bolsonaro, que foi um dos grandes ausentes da cimeira.
Estudante de direito e jovem ativista do estado de Rondônia, a jovem falou na COP26 sobre os desafios enfrentados pelas comunidades indígenas brasileiras devido à desflorestação descontrolada e às consequências das alterações climáticas.
Na cimeira, Txai Suruí, fundadora do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia, criticou "mentiras vazias e promessas falsas" e advogou que os povos indígenas precisam de participar das decisões sobre as alterações climáticas.
Nos, os povos indígenas, estamos na linha de frente da emergência climática lutando com nossas vidas e devemos estar no centro dessa discussão. Sem povos indígenas não existe equilíbrio climático. #cop26 pic.twitter.com/d2k3gLeUGd
"Tenho apenas 24 anos, mas meu povo vive na Floresta Amazónica há pelo menos seis mil anos. Meu pai, o grande chefe Almir Suruí, me contou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje, o clima está a aquecer, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo e as nossas plantações não florescem como no passado. A Terra está falando: ela nos diz que não temos mais tempo", disse, citada pelo jornal O Globo.
Os indígenas Suruís ou Paiter-Suruís vivem na região de fronteira entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Antes do contacto com a civilização branca, o grupo étnico tinha cerca de 5.000 membros, mas agora não chegam a 1.000.