0s números desta história impressionam. Um vídeo sobre vigilância de transações bancárias publicado por um deputado brasileiro tornou-se o terceiro conteúdo mais visto em 24 horas da história da internet global com 156 milhões de visualizações. E ao terceiro dia superava os 308 milhões. Com isso, o parlamentar ultrapassou o presidente Lula da Silva e é agora, com 15,6 milhões, o segundo político do país mais seguido nas redes, atrás apenas do seu ídolo, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas o número mais impressionante, para muitos, é outro: 28, a idade de Nikolas Ferreira.O vídeo que catapultou o deputado do Partido Liberal (PL) foi sobre uma proposta do governo para ampliar a vigilância do Pix, modalidade de pagamento equivalente ao MB Way, de forma a combater sonegações e fraudes. Nikolas não afirmou que o governo iria taxar a plataforma mas disse que o primeiro passo estava dado, gerando um ruído que obrigou o governo a recuar da ideia inicial, para irritação de Lula, que determinou que a partir de agora todas as medidas sensíveis passem pela aprovação dele.“Não sei se o Nikolas é o mais hábil político brasileiro na internet mas é parte importante de uma rede de direita que faz a agenda e cria alcance, como é exemplo esse vídeo, que, sublinhe-se, não traz desinformação, traz uma interpretação, o que é parte da luta política, sobre um tema transversal, porque no Brasil até trabalhadores informais e mesmo mendigos de rua usam Pix”, diz Fernanda Sarkis, mestre em comunicação política, ao DN.Os números impressionantes perseguem Nikolas - aliás, consta que é ele quem os persegue obsessivamente - desde há três anos, quando foi o deputado mais votado em 2022, à frente de Guilherme Boulos, do esquerdista PSOL, que concorreu por São Paulo, estado mais populoso. Com o registo, passou a terceiro deputado mais votado da história, superado apenas pelo recordista Eduardo Bolsonaro (PL), eleito em 2018, e por Enéas Carneiro (Prona), eleito em 2002, ambos por São Paulo.Em Minas Gerais, quase triplicou os números do anterior mais votado, Patrus Ananias (PT), em 2002, e ficou à frente de um dos seus inimigos políticos, André Janones (Avante), apoiante fervoroso de Lula. Em terceiro, surgiu Duda Salabert (PDT), a mulher mais votada. Mas Nikolas discordou: para ele, a mulher mais votada foi Greyce Alias (Avante) porque Duda é uma mulher trans. “Quando mudarem a biologia, aí vocês dão o título para outro. Até lá: parabéns, Greyce”.A transfobia já é uma das marcas de Nikolas: no Dia Internacional da Mulher de 2023 foi ao púlpito da Câmara de peruca loira para atacar deputadas trans, como a citada Duda Salabert ou Érika Hilton, do PSOL, outra das suas rivais no Congresso; e, depois de a irmã filmar uma jovem trans, menor, a ir à casa de banho feminina da escola, expôs o vídeo nas redes sociais. Noutra ocasião, o jovem deputado, que defende a virgindade dos noivos até ao casamento, votou contra a proposta municipal de batizar um centro de saúde em Belo Horizonte com o nome de Marielle Franco, a vereadora executada em 2018, chamando-a de “abortista”. Na sequência, sugeriu o nome de Brilhante Ustra, torturador da ditadura militar. Contra-ataqueMas é nas redes que Nikolas se sente em casa, conforme os números atingidos esta semana atestam. Foi, por isso, pelas redes que o governo contra-atacou. E com sucesso. A deputada lulista Erika Hilton, uma das citadas rivais do parlamentar, respondeu ao bolsonarista com um vídeo no mesmo tom, onde lembrou, entre outros argumentos, que quem afirmou querer taxar o Pix foi Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro.“Ela, que tem um quinto do tamanho da rede dele, conseguiu ter um impacto de um terço do que ele teve, chegando ao top-10 mundial de alcance em 24 horas, proporcionalmente é ainda mais notável”, regista Fernanda Sarkis.Em paralelo, depois de o senador Flávio Bolsonaro ter criticado a intenção do governo, Fernando Haddad, ministro das Finanças, respondeu que foi esse tipo de fiscalização que permitiu notar “uma movimentação absurda” nas contas do primogénito de Bolsonaro no caso das “rachadinhas” - Flávio supostamente desviava dinheiro do salário dos funcionários do seu gabinete - numa troca de palavras que acabará nos tribunais.“Talento extraordinário”À direita, entretanto, Nikolas é visto depois do vídeo como um prodígio capaz de chegar a governador, senador ou até presidente. “É um talento extraordinário, jovem, inteligente, firme. Nas próximas eleições pode ser candidato a governador de Minas ou a deputado novamente, já que para senador não tem idade” disse Altineu Côrtes, o líder parlamentar do PL a O GLOBO, a propósito dos 35 anos como idade mínima no Senado.Imediatamente, o deputado Eros Biondini, PL, apresentou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para reduzir o limite de idade para o Senado e para... a Presidência da República para 30 anos.Bolsonaro, que está inelegível, deixou claro à rádio Auriverde o que pensa do tema: “Alguns, de pequena idade, estão se lançando já, ‘eu sou candidato, eu vou resolver’”. O próprio Nikolas, em entrevista nos EUA, pôs água na fervura: “Senado? Sim. Presidência? Tenho três candidatos, Jair, Messias e Bolsonaro”. .Brasileiros que desaprovam Lula já são a maioria