Blinken diz ser “imperativo” fazer mais para proteger os civis em Gaza
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, garantiu este domingo aos líderes árabes que os EUA são contra a retirada forçada dos palestinianos de Gaza, defendendo que estes “devem poder regressar às suas casas”. No seu périplo pelo Médio Oriente antes de voltar a Israel, pela quarta vez desde o ataque do Hamas e o início da guerra, Blinken disse ainda ser “imperativo” fazer mais para proteger os civis em Gaza.
“Os civis palestinianos devem poder regressar às suas casas, assim que as condições permitirem. Não podem, não devem, ser pressionados a deixar Gaza”, afirmou o secretário de Estado aos jornalistas em Doha, já depois de vários encontros com dirigentes do Qatar e de ter reunido, mais cedo, em Amã com o rei Abdullah II da Jordânia. Blinken tem ainda previsto passar pelos Emirados Árabes Unidos e pela Arábia Saudita antes de ir a Israel, estando na agenda também uma ida à Cisjordânia ocupada.
No Qatar, o primeiro-ministro disse que a morte do Número 2 do Hamas num ataque em Beirute, na semana passada, afetou a capacidade de mediação de Doha na questão dos reféns. Contudo, o xeque Mohammed Bin Abdulrahman al-Thani disse na conferência de imprensa com Blinken que continuará a tentar, insistindo com este na necessidade de pressionar para um cessar-fogo. Foi a mediação do Qatar e do Egito que abriu a porta à libertação de vários reféns, levados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro, antes da semana de pausa humanitária em que mais de uma centena foram libertados.
O chefe da diplomacia jordana, Ayman Safadi, anunciou entretanto que está a coordenar com várias capitais árabes um plano, baseado na solução de dois Estados, para acabar com a guerra e resolver o conflito israelo-palestiniano. “Estamos a trabalhar num plano com um objetivo claro, um calendário e passos, que se baseie na solução de dois Estados, para resolver o conflito”, disse Safadi, citado pela agência noticiosa estatal jordana Petra.
O plano inclui a “unidade sólida de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental”, o reconhecimento de um Estado palestiniano independente e soberano com base nas fronteiras delineadas em 4 de junho de 1967, e estipula “medidas práticas” a serem executadas “de acordo com prazos específicos e com garantias reais”.
Safadi não deu pormenores sobre a execução do plano, referindo que o mesmo só poderá ser posto em prática se “a agressão bárbara contra a Faixa de Gaza for travada e for posto termo à catástrofe humanitária sem precedentes que está a causar”.
Enquanto prosseguem as movimentações diplomáticas, Israel continua a atacar a Faixa de Gaza, com o chefe de Estado-Maior, Herzi Halevi, a dizer que os combates podem durar todo o ano. “2024 vai ser desafiante”, indicou, falando também da ameaça que representa o grupo xiita libanês Hezbollah mais a norte. Os militares israelitas admitiram ontem que o ataque da véspera do Hezbollah, em retaliação pela morte do Número 2 do Hamas, em Beirute, causou danos na sua base em Meron.
Entretanto, em Gaza, mais três jornalistas morreram num alegado ataque israelita, incluindo o filho do correspondente da Al-Jazeera, Wael al-Dahdouh, que já perdeu a mulher, dois outros filhos e um neto no início da guerra. “Lamento profundamente. Trata-se de uma tragédia inimaginável”, declarou Blinken sobre esta situação.
Em 24 horas, pelo menos 113 palestinianos terão morrido, elevando para 22 835 o número total de mortos desde o início da guerra, segundo as contas das autoridades locais, controladas pelo Hamas.
Depois de ter focado a atenção no norte da Faixa de Gaza, no primeiro momento da guerra, Israel acredita já ter destruído a estrutura do grupo terrorista palestiniano nessa área, focando-se agora no centro e no sul. Segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, a região é “densa e saturada de terrorista”, com uma “cidade subterrânea de túneis”.
Na Cisjordânia ocupada, a polícia israelita matou este domingo uma criança palestiniana, num posto de controlo, depois de os agentes terem disparado contra um veículo que supostamente os tentava atropelar. A menina de 4 anos não estava no carro em causa, mas num outro veículo que também estava a passar pelo posto de controlo. O alegado autor do ataque, um jovem palestiniano, também foi morto. Com Lusa
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