Biden da Silva? Bolsonaristas já questionam idade de Lula
"Nós encontramos o país sem ministérios, sem funcionários, com um rombo de quase 300 mil milhões de reais, tão destruído como a Faixa de Gaza”, disse Lula da Silva, na inauguração de um campus universitário, em São Paulo, no sábado, dia 29, a propósito da transição do governo de Jair Bolsonaro para o seu. Ciro Nogueira, ministro do executivo anterior, contra-atacou: “presidente Biden da Silva, o Brasil não é a Faixa de Gaza! Sua perda de contato com a realidade só aumenta. Como disse o New Tork Times sobre o outro Biden, o seu tempo passou”. E colocou, definitivamente, na agenda política brasileira a questão da idade de Lula.
Lula tem 78 anos. Fará 81 dois dias depois da data marcada para a segunda volta das eleições presidenciais de 2026. Terminaria o mandato em dezembro de 2030, com 85. Joe Biden, cujo vigor físico e mental tem sido amplamente debatido nos EUA entre republicanos e, sobretudo, democratas, está a poucos meses de completar 82. Por isso, era uma questão de tempo para que bolsonaristas, como Ciro Nogueira, transferissem o debate de Washington para Brasília.
“O debate (...) também ganhará força no Brasil quando o presidente Lula concorrer em 2026”, prevê Josias de Souza, colunista do portal UOL. “Esse debate do fator etário, que já está ocorrendo, vai ocorrer de forma mais intensa ainda lá na frente e, como disse o próprio Lula sobre Biden, só o candidato pode saber em que condições ele se encontra”, acrescentou.
Para João Felipe Marques, professor da Universidade de Pernambuco ouvido pelo site Poder360, “o presidente brasileiro parece apto a disputar uma eleição e a articular politicamente”. “Mas é importante lembrar que, como os mandatos duram quatro anos, novas questões relacionadas à condição física podem surgir, exigindo uma análise racional dos líderes partidários”.
Com Jair Bolsonaro, que tem menos dez anos do que Lula, inelegível, os candidatos da direita que se perfilam em 2026 são Tarcísio de Freitas, 49 anos, governador de São Paulo, Romeu Zema, 59, governador de Minas Gerais, Ronaldo Caiado, 74, governador de Goiás, e Ratinho Junior, 43, governador do Paraná.
Do lado do atual governo, os nomes mais falados para eventual substituição de Lula são o do vice-presidente Geraldo Alckmin, 71, e o do ministro das Finanças, Fernando Haddad, 61.
Lula, entretanto, não foge do assunto - nem o dos EUA, nem o do Brasil. “Eu, pessoalmente, gosto do Biden. Já me encontrei com ele várias vezes. Acho que ele tem um problema, mas quem sabe da condição dele é ele”, disse em entrevista à Rádio Princesa, em Feira de Santana, na Bahia.
“Mas se ele não está em condições, o Partido Democrata pode indicar outra pessoa, entretanto, é melhor eles tomarem uma decisão, isso tem que ser levado muito em conta porque o presidente dos EUA é muito importante para todo o mundo, mas o que o debate mostrou foi, de um lado, um cidadão mentiroso e, do outro, o Biden com uma certa morosidade para responder às coisas”.
Sobre a sua condição, pelo contrário, faz questão de se afirmar em ótima forma. Antes das eleições de 2022 disse ter “energia de 30 e tesão de 20” e agora já afirmou que “se for para impedir que os trogloditas voltem ao poder deste país, os meus 80 transformam-se logo em 40”.
“Acordo todos os dias às 5:30 com vontade de trabalhar e se for necessário trabalho até altas horas da noite”, acrescentou Lula, que chegou a trocar, em março, o nome do presidente francês Emmanuel Macron pelo de Nicolas Sarkozy, chefe de estado do país europeu nos seus primeiros mandatos no Planalto, uma gafe vista, pelos aliados, como natural e momentânea mas, pela oposição, como indício alarmante.
Para concluir, Lula lembrou conversa nos últimos dias com dois antigos presidentes do Brasil. “Fui visitar o [José] Sarney, com 94 anos, e ele está preocupado com as eleições de 2026, a cabecinha dele está a mil por hora, fui visitar Fernando Henrique, com 93, e a cabeça dele está boa...”.
Segundo o articulista Ricardo Noblat, do site Metrópoles, “a comunicação da presidência vai apostar em imagens do presidente se exercitando, tendo agendas externas a Brasília e repetindo o bordão sobre a ‘tesão’ que sente em ser presidente da República”, de forma a afastar a imagem da Biden da sua.
“Cada vez que fala, presidente Biden da Silva, o Brasil se espanta e não reconhece quem um dia você foi”, reforçou Ciro Nogueira, que chegou no passado a ser aliado de Lula e crítico de Bolsonaro antes de ser convidado para o governo de extrema-direita e mudar de lado. “Como o presidente norte-americano - questionado por seus próprios aliados por problemas cognitivos - não é de hoje que o presidente Lula vem produzindo frases desastrosas e prejudiciais ao país. A imprensa, com o cuidado que nunca teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro, chama esses excessos de ‘controvérsias’”, acrescentou. Nos últimos dias, frases de Lula sobre política orçamental e cambial levaram a uma alta do dólar no país.
Gleisi Hoffmann, a presidente da formação política de Lula, o Partido dos Trabalhadores, contradisse o ministro de Bolsonaro e a expressão “Biden da Silva”. “O tempo dele [Lula] não passou, não, Ciro Nogueira. Não crie ilusões, porque o tempo da democracia, da verdade e da justiça nunca passa”, afirmou, via rede social X. Para Hoffmann, “não adianta torcer pela vitória de Trump, do mesmo jeito que torceram pelo golpe do brucutu [brutamontes] na Bolívia“. “O nosso país é o Brasil e é aqui que o presidente Lula está mostrando como se governa um país”.