Israel atingiu Beirute com os chamados ataques de precisão, neste caso um prédio residencial.
Israel atingiu Beirute com os chamados ataques de precisão, neste caso um prédio residencial.EPA/WAEL HAMZEH

Benjamin Netanyahu sem tréguas nas Nações Unidas

No ano passado, o discurso do PM israelita antevia um Médio Oriente em paz. Agora está à beira de uma segunda frente de guerra total e, apesar da iniciativa diplomática de aliados, a ordem é de prosseguir.
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Benjamin Netanyahu discursa hoje na Assembleia Geral das Nações Unidas e o contraste com o tom exibido no ano passado não poderia ser maior. O primeiro-ministro israelita, que em 2023 se apresentou como um arauto da paz, está agora no meio de uma guerra e à beira de iniciar outra, tendo rejeitado a proposta franco-americana de um cessar-fogo com o Hezbollah.

Fazendo uso de um mapa onde a Palestina não constava, em setembro do ano passado Netanyahu mostrava-se otimista ao dizer que se estava na iminência de um acordo histórico entre a Arábia Saudita e Israel, o que iria “verdadeiramente criar um novo Médio Oriente”.

É de esperar que desta vez o líder israelita use o púlpito para se defender das críticas de parte significativa da comunidade internacional (e do seu próprio povo) pela forma como lidou com o ataque terrorista do Hamas: uma guerra que, volvido quase um ano, não deu os frutos que desejava (fim da organização islamista, libertação dos cativos, Faixa de Gaza desmilitarizada), impede um acordo com os sauditas, e tem um fatura tão pesada para os civis que o Tribunal Internacional de Justiça analisa um caso de genocídio e o Tribunal Penal Internacional pode emitir a qualquer momento um mandado de captura a Netanyahu. 

Em consequência do agravamento das operações contra o movimento xiita libanês, Netanyahu só viajou de véspera para os Estados Unidos, tendo adiado a partida em duas ocasiões. Na quarta-feira à noite surgiu a notícia de que Washington e Paris, com o apoio de outros países, propuseram um cessar-fogo de três semanas de forma a permitir que, nessa janela temporal, se concluísse o acordo entre Israel e o Hamas para uma trégua e a libertação dos reféns em cativeiro há quase um ano. Foi na sequência dos ataques de 7 de outubro e da resposta militar israelita que o Hezbollah começou a atacar de forma diária o norte israelita, o que causou dezenas de milhares de deslocados. 

“Apelamos para um cessar-fogo imediato de 21 dias ao longo da fronteira Israel-Líbano para dar espaço à diplomacia”, lia-se na declaração assinada por Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Qatar, Reino Unido e União Europeia. Mas o projeto foi abortado pelo governo de Netanyahu. “As notícias sobre um cessar-fogo são incorretas. Trata-se de uma proposta franco-americana, à qual o primeiro-ministro nem sequer respondeu”, disse, em comunicado, o gabinete do governante israelita. Pelo contrário, foram dadas instruções às forças armadas para “continuarem os combates com toda a força e de acordo com os planos apresentados” e, em Gaza, os “combates vão prosseguir até se alcançarem todos os objetivos”. À chegada a Nova Iorque, Netanyahu repetiu, mais palavra menos palavra, a ideia. 

Israel Katz, ministro dos Negócios Estrangeiros que substitui Netanyahu na ausência deste, confirmou que em Telavive não se pensa em pausas. “Não haverá cessar-fogo no norte. Vamos continuar a lutar com todas as nossas forças contra a organização terrorista Hezbollah até à vitória e ao regresso em segurança dos habitantes do norte.” Ainda que Netanyahu considerasse a hipótese do calar das armas, tendo em conta o aumento da pressão internacional, os seus aliados de extrema-direita também se fizeram ouvir. Itamar Ben-Gvir (ministro da Segurança) ameaçou de imediato demitir-se, provocando o fim do executivo, e Bezalel Smotrich (Finanças) disse que “não se deve dar tempo ao inimigo para recuperar dos fortes golpes sofridos para se reorganizar e continuar a guerra ao fim de 21 dias”.

Indiferentes às iniciativas diplomáticas, as forças israelitas prosseguiram no bombardeamento a alvos do Hezbollah com o que dizem ser “ataques precisos”. Um desses ataques, segundo Telavive, terá matado o comandante da unidade dos drones organização pró-iraniana, Mohammed Srour, conhecido como Abou Saleh, no sul de Beirute. Desconhece-se se também se enquadram na definição de “ataques precisos” os que mataram 23 sírios na localidade de Younine, no leste, na quarta-feira, e uma cidadã francesa, de 87 anos, numa aldeia no sul do Líbano, na quinta-feira. 

cesar.avo@dn.pt

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