"Barril de pólvora. "Advertências sobem de tom em todas as direções

Retórica inflamada entre Telavive e os grupos armados da Palestina e do Líbano, e entre o Irão, EUA e o "fantoche israelita". Ministro da Defesa assegura que a invasão terrestre ao enclave será a última porque aquela destruirá o Hamas.
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Através de panfletos lançados pelo ar, o governo israelita voltou a avisar os palestinianos da Cidade de Gaza para saírem do norte do enclave. O ministro da Defesa israelita reiterou o objetivo de pôr fim ao Hamas, a organização islamista à frente da Faixa de Gaza e responsável pelo ataque terrorista de dia 7. Já o primeiro-ministro advertiu o Hezbollah, com sede no Líbano, para não se intrometer. O secretário da Defesa norte-americano também repetiu os avisos ao Irão e aos grupos que patrocina, enquanto o chefe da diplomacia se mostrou preocupado com a hipótese de pessoal dos EUA vir a ser atacado. Em Teerão, a expressão para classificar o Médio Oriente é "barril de pólvora", e dali também veio o aviso de que a continuação dos ataques israelitas poderá levar a região para "fora de controlo".

Israel continuou a campanha de ataques aéreos à Faixa de Gaza, tendo na noite de sábado para domingo atingido em especial Deir al-Balah, no centro do território, e matado pelo menos 80 pessoas, segundo o Hamas, quando o número total de vítimas no enclave ultrapassa as 4650. Mas os ataques não se limitaram à Faixa de Gaza: na Cisjordânia, uma mesquita no campo de refugiados de Jenin foi alvo das forças israelitas, tendo matado duas pessoas e ferido três outras. O porta-voz dos militares israelitas, Richard Hecht, disse que havia um "complexo terrorista" subterrâneo que estaria a ser utilizado pelo Hamas e pela Jihad Islâmica para organizar um ataque iminente. Uma "bomba-relógio", comentou. Já a Autoridade Palestiniana considerou os ataques aéreos na Cisjordânia uma "escalada perigosa".

DestaquedestaqueA Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) disse que nos últimos ataques israelitas morreram mais 12 empregados, num total de 29.

Além disso, o regime sírio disse que os israelitas efetuaram ataques aéreos aos aeroportos de Damasco e Alepo, tendo os mesmos ficado com as pistas fora de serviço. O exército israelita atacou também, embora de "forma acidental", uma torre de vigilância fronteiriça do Egito. Ao que comunicou o exército egípcio, "fragmentos de um projétil de um tanque israelita" atingiram a torre junto da fronteira entre os dois países em Kerem Shalom. Telavive pediu de imediato desculpas num incidente que causou um número indeterminado de "ferimentos ligeiros".

Do lado israelita, um soldado foi morto e três outros foram feridos pelo disparo de um míssil antitanque durante uma incursão do exército israelita na Faixa de Gaza. Os militares israelitas afirmaram que o objetivo do ataque era localizar prisioneiros do Hamas na zona de Khan Yunis, e "destruir as infraestruturas terroristas", ao que as Brigadas Qassam, o braço armado do Hamas, anunciaram ter empurrado as forças israelitas para fora do território.

Com a campanha militar ainda na primeira fase, o ministro da Defesa israelita Yoav Gallant disse que os esforços para erradicar o Hamas "podem demorar um mês, dois ou três, mas no final, o Hamas deixará de existir". Até agora 13 dirigentes do Hamas foram mortos, a crer nas declarações do próprio grupo e de Israel. A invasão terrestre a Gaza deve ser a última "pela simples razão de que, depois disso, o Hamas não existirá mais", assegurou.

DestaquedestaqueAs vidas de 120 bebés em incubadoras estão em risco se não chegar combustível para os geradores de energia elétrica em Gaza, alertou a Unicef. Mais de 1750 crianças morreram nos bombardeamentos.

Coube ao primeiro-ministro Netanyahu advertir para as "consequências devastadoras para o Hezbollah e para o Estado do Líbano", caso o grupo xiita decidisse juntar-se ao conflito. "Vamos atingi-lo com uma força que nem sequer pode imaginar." As ações militares e as declarações dos governantes israelitas levaram o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir Abdollahian, a fazer também uma advertência: "Gostaria de alertar os Estados Unidos e o regime fantoche israelita que se não puserem imediatamente fim aos crimes contra a humanidade e ao genocídio em Gaza, tudo é possível a qualquer momento e a região pode tornar-se fora de controlo."

Em paralelo, depois de Washington ter anunciado o envio de mais sistemas de defesa antiaérea para Israel, o secretário de Estado Antony Blinken disse estar à espera de ataques contra as forças norte-americanas na região e que os EUA estão a trabalhar para responder. Mais direto, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, avisou que o seu país "não hesitará em agir" militarmente contra qualquer organização ou país que queira expandir o conflito no Médio Oriente entre Israel e o Hamas. "Preservamos o nosso direito de nos defendermos e não hesitaremos em agir em conformidade", afirmou.

Papa e Biden falam sobre conflitos
O Papa Francisco conversou ao telefone durante 20 minutos com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre "as situações de conflito no mundo e a necessidade de identificar os caminhos para a paz", informou o Vaticano.

Perante os seus fiéis reunidos na praça de São Pedro, o pontífice argentino pediu o fim do conflito entre Hamas e Israel, expressou o temor de uma escalada da guerra e fez um apelo para a permissão de entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza enquanto lamentou a "grave situação humana".

"A guerra, qualquer guerra, é sempre uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parem! Parem!", clamou. Do alto da janela do Palácio Apostólico, Francisco denunciou os ataques ao hospital anglicano Al Ahli e da igreja ortodoxa de São Porfírio, onde foram mortos pelo menos 18 palestinianos cristãos.

Manifestações Europa fora
Em Paris, Bruxelas ou Sarajevo, mas também em Roterdão ou Copenhaga, milhares juntaram-se nas ruas em defesa da Palestina, enquanto em Berlim, Genebra e também na capital francesa promoveram-se reuniões por Israel, contra o antissemitismo e a pedir a libertação dos cerca de 200 reféns.

Cerca de 15 mil manifestantes, segundo uma estimativa da polícia, reuniram-se em Paris para exigir o fim das operações militares israelitas, a pedido de 40 organizações. Na capital da Bélgica, uma multidão estimada em 12 mil pela polícia reuniu-se em frente às instituições da UE com o mesmo objetivo. Na capital bósnia houve quem comparasse o cerco sérvio a Sarajevo, nos anos 1990, à situação em Gaza.

O presidente alemão Frank-Walter Steinmeier discursou em Berlim perante 10 mil pessoas para denunciar o antissemitismo e apoiar Israel. Na véspera, cerca de 100 mil pessoas marcharam em Londres para exigir o fim da guerra declarada por Telavive.

Sánchez pede trégua humanitária
Regressado do Cairo, onde participou numa cimeira pela paz que mostrou as divisões entre os países árabes e os países ocidentais, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez manifestou ao homólogo israelita Benjamin Netanyahu "profunda preocupação com a proteção de todos os civis e com a necessidade de a ajuda humanitária chegar à população de Gaza de forma suficiente e sustentada". Na primeira conversa entre os dois chefes de governo desde os ataques do Hamas a Israel, no dia 7, Sánchez acrescentou que "para que isso aconteça, é necessário um cessar-fogo humanitário".

O líder socialista, cujo governo em funções exerce também a presidência do Conselho da UE, reiterou "a condenação dos ataques terroristas do Hamas contra Israel e o seu direito de se defender contra eles, dentro dos limites do direito internacional e humanitário".

Presidente israelita adia visita a Portugal
O presidente de Israel, Isaac Herzog, adiou uma visita a Portugal que estava prevista para o início de novembro, informou o homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa. Segundo nota divulgada na página oficial de Belém, o Presidente da República falou ao telefone com Herzog, a pedido deste. "O Presidente de Israel queria explicar o adiamento da visita a Portugal (que estava prevista para início de novembro), bem como informar o Presidente português da posição do seu país sobre a situação atual", refere a nota..

cesar.avo@dn.pt

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