Banco Mundial vai apoiar Moçambique a ser centro energético em África
O presidente do Banco Mundial (BM), Ajay Banga, afirmou este sábado (19 de julho) que Moçambique tem condições únicas em África para ser o centro energético do sul do continente, prometendo apoio a projetos para aumentar a capacidade produtiva.
“Neste país, têm tudo para criar o tipo certo de capacidade de energia e transmissão. E, francamente, nesta parte de África, ninguém tem a capacidade ou a capacidade para fazer o que pode ser feito com os ativos deste país”, afirmou Ajay Banga, em declarações aos jornalistas após visitar a Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB).
Instalada na província de Tete, com uma capacidade de 2075 MW e uma das maiores do continente, a barragem foi o ponto inicial da primeira visita do presidente do BM a Moçambique, de dois dias, a convite do Presidente moçambicano, Daniel Chapo.
“Ele tem algumas prioridades que partilhamos. Uma delas é a energia. Está muito interessado em utilizar os ativos de Moçambique, que são a energia hidroelétrica, o gás natural, a energia solar, o sol, o vento”, reconheceu Banga, dirigindo-se a Chapo, que por sua vez assumiu querer ver o país como “‘hub’ da distribuição de energia elétrica” na África austral.
Nas declarações conjuntas com o presidente do BM, Daniel Chapo recordou que o gás natural – Moçambique tem das maiores reservas em África – já é uma fonte importante de produção de energia, a reforçar com a construção em curso de novas centrais.
“Nós queremos produzir energia não só a partir de hidroelétricas, mas também sabem muito bem que Moçambique tem gás. Já estamos a produzir energia através do gás, temos vários projetos neste momento que estão na manga e outros que estão já em curso”, garantiu Chapo, deixando o apelo ao presidente do BM: “Podem vir investir nesta matriz energética toda.”
Ajay Banga garantiu a Chapo a disponibilidade do BM e suas agências para apoiar os vários projetos energéticos em curso, como o reforço da produção em Cahora Bassa, com a central norte da hidroelétrica – a concluir até 2032 - e um parque solar (400 MW), ou a nova barragem de Mphanda Nkuwa, de 1.500 MW, a concluir até 2031, avaliada em 4,5 mil milhões de euros, também no rio Zambeze, área que pouco antes sobrevoou com o Presidente moçambicano.
“Estamos a discutir com o Governo de Moçambique a ideia de investir em mais 1.500 MW a jusante daqui, um projeto em cascata. E, entretanto, também estamos a investir em capacidade solar, 400 MW”, sublinhou, assumindo que há outros projetos no setor “ainda mais interessantes” no país.
“Se olharmos para um quadro de 10 anos do pensamento deste Presidente, que eu partilho, o objetivo é fazer de Moçambique uma potência energética e torná-lo o ‘back office’ [centro] energético da parte sul de África. Penso que se trata de uma verdadeira oportunidade e de algo em que devemos trabalhar em conjunto”, apontou Ajay Banga.
Um processo que, disse, deve envolver “parcerias público-privadas” e com isso garantindo o apoio das várias agências do BM, do financiamento às questões técnicas.
“Penso que tudo isto junto é como uma orquestra que está a tocar uma boa música. É preciso tocar muitos instrumentos para que a música funcione. E penso que é essa a parceria que estamos a discutir. Não é a única coisa que vamos fazer com Moçambique, mas é provavelmente a mais importante”, sublinhou o presidente do Banco Mundial.
Acrescentou que em Moçambique “há oportunidades” no turismo, nos corredores económicos “e de qualificação para os jovens”, sendo por isso um país “dotado de ativos”: “E se conseguirmos que esses jovens tenham ocupações produtivas, esperança e otimismo, penso que teremos um grande futuro para este país”.
Chapo enfatizou que Moçambique quer concentrar a relação com o BM em “quatro áreas principais”, como o turismo, para “catapultar” o seu potencial, na agricultura, nos recursos minerais e energia, e ainda nas infraestruturas, nomeadamente o desenvolvimento dos três corredores de transportes que ligam os portos ao interior e à fronteira com os países vizinhos.
A HCB é uma sociedade anónima de direito privado, detida em 85% pela estatal Companhia Elétrica do Zambeze e pela portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN) em 7,5%, possuindo a empresa 3,5% de ações próprias.
A barragem foi construída no período colonial português e a sua albufeira é a quarta maior de África, com uma extensão máxima de 270 quilómetros em comprimento e 30 quilómetros entre margens, ocupando 2.700 quilómetros quadrados e uma profundidade média de 26 metros, abastecendo também os países vizinhos.