Primeiro foi a abertura de negociações entre os EUA e o Irão sobre o nuclear; depois uma trégua acordada com os rebeldes Houthis, no Iémen, ignorando Israel. Esta segunda-feira foi a libertação do último refém norte-americano ainda vivo na Faixa de Gaza, um gesto de boa-vontade do Hamas para com o presidente Donald Trump tendo em vista mais negociações para garantir um cessar-fogo. E, a partir desta terça-feira, uma viagem pelo Médio Oriente do inquilino da Casa Branca que não inclui uma ida a Telavive. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, diz que não há qualquer problema na relação “excelente” que tem com Trump. Mas as ações e gestos do presidente norte-americano parecem dizer o contrário. E deixam Netanyahu ainda mais isolado face às sete frentes de guerra em que diz estar envolvido. Irão, Houthis e Hamas são apenas três delas, mas são três em que Washington parece querer alcançar resultados sem ouvir aquele que até agora era visto como o principal aliado na região. A decisão dos EUA de negociar com o Irão, que Israel vê como a principal força desestabilizadora à frente do chamado “eixo de resistência”, foi a primeira indicação de que as coisas podiam não estar bem entre Trump e Netanyahu. Os israelitas insistem que Teerão não pode ser autorizado a enriquecer urânio e em várias ocasiões equacionaram bombardear locais ligados ao programa nuclear iraniano, especialmente após serem eles próprios alvos dos mísseis do Irão. Mas a Administração de Trump optou por sentar-se à mesa com representantes de Teerão, em busca de uma solução diplomática, com o enviado especial da Casa Branca para o Médio Oriente, Steve Witkoff, a entrar em contradição sobre se o Irão seria ou não autorizado a manter o programa nuclear para fins civis (primeiro disse que sim, depois que não). As negociações decorrem com a mediação de Omã. Mas foi o anúncio do fim dos bombardeamentos aos Houthis no Iémen que apanhou Israel de surpresa - especialmente porque surgiu dias depois de eles terem atingido o aeroporto de Telavive com um míssil. Trump não terá discutido previamente com Netanyahu a trégua, que protege os navios norte-americanos no Mar Vermelho, mas não inclui qualquer proteção a Israel. “A mensagem à região era clara: Israel já não é uma prioridade de topo dos EUA”, escreveu o correspondente diplomático do Ynet, Itamar Eichner. “Trump está a avisar Netanyahu, ’Querido, já estou farto de ti’”, indicou a comentadora israelita Dana Fahn Luzon num debate televisivo, citado pelo Times of Israel.Refém livreTrump também só terá informado Netanyahu da libertação de Edan Alexander, um soldado com dupla nacionalidade israelita e norte-americana, depois de o acordo alcançado. A libertação do refém será um gesto de boa-vontade do grupo terrorista palestiniano, que espera chegar a um acordo para um cessar-fogo e o fim da guerra. Netanyahu, congratulando-se com a libertação, disse que esta só é possível devido à “pressão militar” de Israel. .Refém norte-americano foi libertado pelo Hamas e já está em Israel.O primeiro-ministro insiste que esta é a única forma de conseguir a libertação dos restantes 58 reféns (35 deles já dados como mortos), tendo rejeitado até agora a negociação de um cessar-fogo e retomado as operações militares após a libertação de Alexander. Ainda assim, Netanyahu aceitou voltar a enviar esta terça-feira uma delegação até Doha para negociar a libertação de mais reféns. O último golpe de Trump a Netanyahu é a sua viagem inaugural neste segundo mandato. A escolha foi o Médio Oriente, com passagem pela Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos - não Israel. Pior, a primeira paragem incluirá um encontro com líderes árabes, onde deve estar o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, o presidente do Líbano, Joseph Aoun, e o da Síria, Ahmed al-Sharaa. Em relação a este último, antigo líder do grupo Hayat Tahrir al-Sham (considerado terrorista nos EUA), Trump admitiu esta segunda-feira que poderá levantar as sanções que existem desde o tempo do regime de Bashar al-Assad.