Autoridades moçambicanas justificam recusa de entrada a humoristas Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto
FOTO: D.R. / Facebook Gilmário Vemba

Autoridades moçambicanas justificam recusa de entrada a humoristas Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto

Diretor-geral do Serviço Nacional de Migração diz que os três humoristas tentaram entrar em Moçambique com visto de turismo, quando pretendiam realizar um espetáculo.
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O diretor-geral do Serviço Nacional de Migração (Senami) moçambicano justificou esta segunda-feira, 21 de julho, a recusa de entrada no país a três humoristas, incluindo Gilmário Vemba, por o terem tentado fazer com visto de turismo, quando pretendiam realizar um espetáculo.

“Vieram ao país mas não obedeceram aos critérios pelos quais eles vinham. Porque eles vinham para dar um espetáculo, um 'show'. É uma atividade cultural”, disse o diretor-geral, Zainedine Danane, questionado pela Lusa à margem do evento que assinalou esta segunda-feira os 50 anos do Senami, em Maputo.

O responsável acrescentou que o grupo - além do angolano Gilmário Vemba, também o português Hugo Sousa, o brasileiro Murilo Couto e um produtor português do espetáculo - chegou ao aeroporto internacional de Maputo no domingo, com a intenção de entrar no país com visto de turismo, que é emitido na fronteira após avaliação dos agentes de migração, conforme prevê desde 2023 a legislação moçambicana. Contudo, exclui desse tipo de autorização de entrada as atividades remuneradas, conforme diz ter sido detetado na verificação do Senami.

Autoridades moçambicanas justificam recusa de entrada a humoristas Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto
Humoristas Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto impedidos de entrar em Moçambique

Fonte ligada à produção do evento explicou à Lusa que o espetáculo, que contava com casa cheia, era do grupo “Tons de Comédia”, daqueles três humoristas, espetáculo que estava marcado para as 17:00 locais (16:00 em Lisboa) de domingo, no Centro Cultural China Moçambique, em Maputo.

“Infelizmente não vamos conseguir fazer o espetáculo", disse Gilmário Vemba, numa transmissão em direto na rede social Instagram, a partir do aeroporto, no domingo à noite, explicando que os três aguardavam desde as 14:00 (13:00 em Lisboa) pela entrada no país, desconhecendo o motivo e confirmando o cancelamento do espetáculo e reembolso dos bilhetes.

O grupo, segundo o diretor-geral do Senami, deixou o país esta manhã, num voo da TAP.

Zainedine Danane acrescentou que o promotor do evento em causa deveria “ter solicitado” uma credencial para o espetáculo às autoridades competentes moçambicanas, que posteriormente seria utilizada para o pedido de emissão de visto cultural para entrada no país.

“Então, não tendo solicitado esta credencial, é como se esta atividade não existisse. E como é que vais proferir um espetáculo se quem devia, se calhar, autorizar, não tem conhecimento? Estou-me a referir a questões legais”, sublinhou o diretor-geral do Senami, citando as alterações à lei de migração para a emissão de vistos para atividades culturais feitas em 2022.

A solo, Gilmário Vemba já tinha atuado em Moçambique no passado, sem registo de incidentes.

Dinis Tivane, assessor do político e ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique, afirmou ao início da noite de domingo, na sua conta na rede social Facebook, que Gilmário Vemba foi “impedido de entrar em Moçambique, por expor as suas opiniões”.

Em 08 de julho, Venâncio Mondlane e Gilmário Vemba partilharam publicamente um encontro, em Lisboa, exaltando “Anamalala”, que em língua macua, falada no norte de Moçambique, significa "vai acabar" ou "acabou" - expressão usada pelo político durante a campanha para as eleições gerais de 09 de outubro de 2024 e que se popularizou nos protestos por si convocados nos meses seguintes -, acrónimo do partido que está a tentar legalizar: Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamalala).

Moçambique viveu desde as eleições de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.

Segundo organizações não-governamentais que acompanham o processo eleitoral, cerca de 400 pessoas morreram em resultado de confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após um encontro entre Mondlane e Chapo, em 23 de março, repetido em 20 de maio, com vista à pacificação do país.

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