Ataques pessoais no debate a dois a pensar no segundo lugar no Iowa
Na contagem decrescente para o caucus do Iowa, o debate entre Nikki Haley e Ron DeSantis na CNN ficou marcado pelos ataques pessoais, com ambos a acusarem-se mutuamente de desonestidade e incompetência - “quanto mais perde, mais mente... não transformem isto num jogo de beber ou vão ficar intoxicados”, disse a ex-embaixadora na ONU, com o governador da Florida a acusá-la, por seu lado, de estar sempre a dar “tiros nos pés”. Mais uma vez, o vencedor foi o ausente da sala: o ex-presidente Donald Trump, que esteve num evento a solo na Fox News e continua a ser o grande favorito à vitória. Mas ser número dois no Iowa pode ser mais importante do que ganhar.
“Gostaria que Donald Trump estivesse neste palco. É contra ele que estou a concorrer”, disse a determinada altura a antiga governadora da Carolina do Sul. Tal como nos anteriores debates, o ex-presidente foi convidado, mas não aceitou estar presente, tendo sido alvo de ataques contidos. Haley criticou-o pelo aumento do défice, por não ter sido suficientemente forte contra a China e por não ter conseguido travar a imigração ilegal. Já DeSantis repetiu o que tem vindo a dizer, alegando que o ex-presidente só está preocupado com as suas questões, enquanto ele está preocupado com as questões de todos.
Se, por um lado, os candidatos têm dificuldade em atacar quem está ausente e segue tão destacado nas sondagens - tem 52% das intenções de voto no Iowa, contra 17,7% de Haley e 16,2% de DeSantis, segundo a sondagem do site fivethirtyeight -, por outro têm que garantir que são a alternativa caso qualquer um dos quatro processos criminais que o ex-presidente enfrenta fizer mossa ou se o Supremo Tribunal decidir, de surpresa, que ele não pode estar no boletim de voto por “insurreição”. Além disso, o ex-presidente ainda tem que escolher o candidato a vice - a campanha de Trump deixou entender que os debates serviram para isso.
O maior crítico do ex-presidente, Chris Christie, resolveu suspender a campanha na quarta-feira. O ex-governador de Nova Jérsia deixou a corrida, mas conseguiu minar as perspetivas dos adversários - em vez de apoiar um e ajudar a unir o partido numa candidatura alternativa. Sem saber que o microfone estava ligado, Christie disse de Haley: “Vai ser esmagada.” DeSantis não ficou melhor, com o ex-governador a dizer que ele lhe tinha ligado “petrificado” ao saber da desistência.
Caucus no Iowa
O pontapé de saída para as eleições é já na segunda-feira, com o caucus no Iowa, que vai revelar o que pensam os eleitores para lá de sondagens. Os caucus são reuniões de eleitores, com discursos e debates, antes de se votar para escolher o candidato. Já as primárias, funcionam como eleições tradicionais, onde cada eleitor vai depositar o voto ao longo do dia. O caucus no Iowa é, desde a década de 1970, o primeiro na corrida, sendo que este ano o democrata se arrasta até 5 de março (a Super-Terça-Feira).
O grande favorito a ganhar o caucus republicano é Trump, mas o tamanho da vitória e como os principais adversários se comportam é tão ou mais importante - até porque, normalmente, quem ganha no Iowa não ganha a nomeação republicana (Trump foi segundo em 2016, atrás de Ted Cruz).
Como o Wall Street Journal resumiu, se Trump vencer com grande margem, isso significa que os eleitores não estão preparados para virar a página, indo mesmo contra os seus dirigentes. A popular governadora do Iowa, Kim Reynolds, e um dos mais importantes líderes evangélicos locais apoiaram DeSantis. Já Haley gastou mais do que outro candidato em anúncios.
Se Trump ganhar com menor distância, mas os dois principais adversários tiverem empatados (parece ser o cenário segundo a sondagem), o ex-presidente também pode descansar. Significa que, apesar de haver eleitores que não confiam nele, estão divididos entre os seus rivais, abrindo-lhe a porta a ganhar em mais estados - foi assim que aconteceu em 2016.
A ameaça para Trump surge se, mesmo vencendo, houver um claro segundo classificado. Esse terá oportunidade de ganhar impulso para as próximas corridas (a nível de apoios financeiros e foco da atenção dos eleitores), sendo que as primárias de New Hampshire são já a 23 de janeiro.
susana.f.salvador@dn.pt