Uma tempestade paira sobre o Equador. Além da violência incessante, duas crises sem precedentes, uma diplomática e outra energética, afetam o país cujos eleitores são este domingo chamados a um referendo, com o qual o governo pretende alimentar sua guerra contra o narcotráfico. Prova de que o tema está na ordem do dia, nos últimos dias foram assassinados dois presidentes de câmara e o governo incluiu traficantes mexicanos e colombianos numa lista de alvos militares..Quase 13,6 milhões dos 17,7 milhões de habitantes são chamados a votar sim ou não a 11 questões colocadas pelo presidente, Daniel Noboa. Entre as principais propostas está a extradição de cidadãos nacionais relacionados com o crime organizado, num país onde bandos ligados ao tráfico de drogas impõem um regime de terror. Em janeiro, um ataque deixou cerca de 20 mortos e levou Noboa a declarar conflito armado interno. Militares foram destacados para as prisões e em operações nas ruas para acabar com a violência, que em 2023 registou o recorde de 43 homicídios por 100 mil habitantes, em comparação com seis por 100 mil habitantes em 2018, segundo dados oficiais..À guerra interna somou-se uma crise internacional, após a incursão policial na embaixada mexicana em Quito, no início de abril, por ordem do presidente, para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, investigado por corrupção. A operação custou ao país uma condenação internacional e uma ação no Tribunal Internacional de Justiça..A extradição está no centro do debate num país que pede mão de ferro contra os bandos. Na vizinha Colômbia, Pablo Escobar travou uma guerra contra o Estado para evitar a sua prisão nos Estados Unidos, com explosões de carros, sequestros e assassínios de políticos, jornalistas e juízes. Além disso, os equatorianos decidirão sobre a participação dos militares no controlo de armas, aumento das penas para o crime organizado e a possibilidade de forças públicas utilizarem armas apreendidas. Noboa também propôs reconhecer a arbitragem internacional em disputas comerciais e autorizar o trabalho à hora..Há oposição por parte de sindicatos e da poderosa organização indígena Conaie, protagonistas de revoltas que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005. “O país atravessa momentos extremamente difíceis, nos quais sofremos ataques em resposta ao combate contundente que travamos contra o crime organizado”, disse o secretário de Comunicação, Roberto Izurieta..A crise energética provocada por uma seca histórica levou Noboa a decretar estado de emergência por 60 dias, a suspender a jornada de trabalho por dois dias e a determinar cortes de energia de pelo menos 13 horas. Na terça-feira voltou atrás na política para poupar eletricidade e disse que não haveria cortes, mas os apagões acabaram por acontecer nos dias seguintes. “Quiseram arruinar-nos com sabotagem na área elétrica, quiseram arruinar-nos com uma campanha suja e tentaram até com pressão internacional sancionar-nos como país porque estão nervosos”, disse Noboa, que se mostrou otimista de que o sim vencerá.