“11 vezes não” dizem estudantes contra Noboa e as 11 perguntas do referendo.
“11 vezes não” dizem estudantes contra Noboa e as 11 perguntas do referendo.RODRIGO BUENDIA / AFP

Apagões e violência antes de referendo sobre crime

Consulta popular promovida pelo presidente equatoriano para endurecer combate aos grupos de narcotráfico acontece durante crises de segurança, de energia e diplomática.
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Uma tempestade paira sobre o Equador. Além da violência incessante, duas crises sem precedentes, uma diplomática e outra energética, afetam o país cujos eleitores são este domingo chamados a um referendo, com o qual o governo pretende alimentar sua guerra contra o narcotráfico. Prova de que o tema está na ordem do dia, nos últimos dias foram assassinados dois presidentes de câmara e o governo incluiu traficantes mexicanos e colombianos numa lista de alvos militares.

Quase 13,6 milhões dos 17,7 milhões de habitantes são chamados a votar sim ou não a 11 questões colocadas pelo presidente, Daniel Noboa. Entre as principais propostas está a extradição de cidadãos nacionais relacionados com o crime organizado, num país onde bandos ligados ao tráfico de drogas impõem um regime de terror. Em janeiro, um ataque deixou cerca de 20 mortos e levou Noboa a declarar conflito armado interno. Militares foram destacados para as prisões e em operações nas ruas para acabar com a violência, que em 2023 registou o recorde de 43 homicídios por 100 mil habitantes, em comparação com seis por 100 mil habitantes em 2018, segundo dados oficiais.

À guerra interna somou-se uma crise internacional, após a incursão policial na embaixada mexicana em Quito, no início de abril, por ordem do presidente, para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, investigado por corrupção. A operação custou ao país uma condenação internacional e uma ação no Tribunal Internacional de Justiça.

A extradição está no centro do debate num país que pede mão de ferro contra os bandos. Na vizinha Colômbia, Pablo Escobar travou uma guerra contra o Estado para evitar a sua prisão nos Estados Unidos, com explosões de carros, sequestros e assassínios de políticos, jornalistas e juízes. Além disso, os equatorianos decidirão sobre a participação dos militares no controlo de armas, aumento das penas para o crime organizado e a possibilidade de forças públicas utilizarem armas apreendidas. Noboa também propôs reconhecer a arbitragem internacional em disputas comerciais e autorizar o trabalho à hora.

Há oposição por parte de sindicatos e da poderosa organização indígena Conaie, protagonistas de revoltas que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005. “O país atravessa momentos extremamente difíceis, nos quais sofremos ataques em resposta ao combate contundente que travamos contra o crime organizado”, disse o secretário de Comunicação, Roberto Izurieta.

A crise energética provocada por uma seca histórica levou Noboa a decretar estado de emergência por 60 dias, a suspender a jornada de trabalho por dois dias e a determinar cortes de energia de pelo menos 13 horas. Na terça-feira voltou atrás na política para poupar eletricidade e disse que não haveria cortes, mas os apagões acabaram por acontecer nos dias seguintes. “Quiseram arruinar-nos com sabotagem na área elétrica, quiseram arruinar-nos com uma campanha suja e tentaram até com pressão internacional sancionar-nos como país porque estão nervosos”, disse Noboa, que se mostrou otimista de que o sim vencerá.

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