Aos pedidos de transparência, chavismo promete repressão
Os protestos contra o anúncio dos resultados oficiais das eleições presidenciais na Venezuela, que deram a reeleição de Nicolás Maduro, estenderam-se dos bairros do leste de Caracas para os bairros populares e as favelas, e daí para o resto do país, onde foram derrubadas estátuas de Hugo Chávez. A violência estalou, tendo a ONG Foro Penal contabilizado seis mortos, e o procurador-geral indicado a morte de um militar, ferimentos em 48 elementos das forças de segurança e a detenção de 749 pessoas. Enquanto o candidato e a líder da oposição prometem não baixar os braços, o presidente da Assembleia Nacional apelou para a detenção destes.
“Estamos a enfrentar uma ofensiva internacional, global, do imperialismo norte-americano, de Elon Musk, da extrema-direita internacional e dos narcotraficantes colombianos para tomar conta do país através da criminalidade, do caos, da violência, da manipulação e da mentira”, afirmou Maduro, antes de uma reunião conjunta do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa Nacional.
Maduro disse que as armas apreendidas nos protestos entraram pela Colômbia onde está “o centro da conspiração” na qual o candidato Urrutia é o líder, acusa. “Ele esteve envolvido em operações secretas da CIA em El Salvador para, com a embaixada venezuelana, encobriu mercenários, assassinos que estavam a matar pessoas. É daí que vem, são agentes adormecidos da CIA”, disparou antes de dizer que “desta vez não haverá impunidade”.
Já na véspera o líder do regime chavista denunciara a preparação de um “golpe de Estado de carácter fascista”. Os seus correligionários mostraram estar do seu lado e prometem endurecer a repressão. Na Assembleia Nacional, o seu presidente Jorge Rodríguez, levou a voto de mão no ar uma declaração para reconhecer os resultados das eleições presidenciais. Além disso, pediu ao Ministério Público que prenda a líder da oposição María Corina Machado e o candidato Edmundo González Urrutia. “Com o fascismo não há diálogo, não se lhes dão benefícios processuais, não se lhes perdoa”, disse. “As leis são aplicadas a eles e o Ministério Público tem que agir não apenas com os bandidos viciados em drogas que são pagos para aterrorizar, mas também com os seus chefes. E não estou a referir-me apenas a María Corina Machado, mas também a Edmundo González, porque ele é o chefe da conspiração fascista.”
Antes tinha sido detido Freddy Superlano, coordenador político nacional do partido da oposição Vontade Popular. Durante a sessão na assembleia, o deputado Diosdado Cabello ameaçou com mais detenções de dirigentes políticos. “Temos as conversas e as comunicações, seja qual for o seu nome, seja qual for o seu apelido, eles vão ser presos”, ameaçou.
O general Vladimir Padrino, que é o ministro da Defesa, numa mensagem transmitida pela televisão, disse que as forças armadas estão em “absoluta lealdade e apoio incondicional” ao presidente. “Maduro é o nosso comandante-em-chefe, quem foi legitimamente reeleito pelo poder popular e proclamado pelo poder eleitoral para o período 2025-2031”, afirmou, antes de advertir que irá atuar “com contundência em perfeita união cívico-militar para preservar a ordem interna”.
Num comício realizado em Caracas, o candidato Urrutia, que a multidão chamava de “presidente”, instou as forças de segurança a não “reprimir o povo da Venezuela”, tendo acrescentado que “não há razão para tanta perseguição”. Já María Corina Machado disse que a oposição já sabia que “iam fazer todo o tipo de armadilhas”, e por isso construíram uma rede durante meses, tendo conseguido “salvaguarda e digitalizar” a ata oficial dos resultados “para que todos saibam que Edmundo González Urrutia ganhou”, disse.
A pressão internacional manteve-se, com a Casa Branca a afirmar que “qualquer repressão política ou violência contra manifestantes ou opositores é obviamente inaceitável”, e o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, a mostrar-se “extremamente preocupado” com as tensões pós-eleitorais na Venezuela. Já a Internacional Socialista, presidida pelo espanhol Pedro Sánchez, reiterou o apelo para uma “recontagem completa de todos os cadernos eleitorais”.
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