Angola e Portugal. Uma relação económica que resiste a sucessivas crises

Angola e Portugal são parceiros económicos em larga escala desde há muito, no comércio e investimento bilateral, nos laços culturais e na língua, na partilha do passado histórico..Apesar dos solavancos e retrocessos dos últimos anos, os números falam por si: segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), “é um mercado de elevada dimensão (35,6 milhões de habitantes)”..“Portugal tem com Angola uma relação económica sólida, caracterizada por mais de 4000 empresas exportadoras”, sendo “o terceiro maior destino das exportações portuguesas para fora da Europa (extra-UE), contando ainda com “mais de 400 empresas de capital português instaladas no país”..Estão bancos, grandes nomes da energia e indústria, construtoras civis, sociedades de advogados e consultoras, retalho alimentar, agroindústria. CGD, BCP, Novo Banco, Galp, Mota-Engil, Revigrés, Secil, Sovena, Sicasal, Sumol+Compal, Grupo Nabeiro, Cunha Vaz, Morais Leitão. A lista é longa, indica a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA)..Considerando todos os mercados de Portugal, Angola é o 9.º maior nas exportações de mercadorias. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), Angola comprou 1263 milhões de euros (sobretudo em máquinas, bens para uso industrial, alimentos e bebidas, material de transporte), mas só comprou 271 milhões em produtos angolanos, apesar do valor ainda expressivo do crude..“Não obstante a crise e o decréscimo das exportações para Angola, Portugal continua a ser um dos seus principais parceiros comerciais. Os bens alimentares e os vinhos têm grande destaque nas preferências dos angolanos”, confirma a AICEP..No investimento, é de registar o ciclo muito negativo que se seguiu à crise soberana e financeira portuguesa (2010-2014), com a posição de investimento direto estrangeiro (IDE) de Angola em Portugal a esvair-se até 5,1 mil milhões de euros em meados de 2019. A seguir veio a pandemia, e os números pioraram, mas tal foi, por assim dizer, transversal a quase todas as origens de IDE. Foi um tempo de exceção..Mas, no início de 2022, quando a Rússia abriu guerra contra a Ucrânia e fez disparar novamente o preço do crude, o investidor “Angola” renasceu das cinzas e, paulatinamente, subiu na sua posição de investimento em solo nacional até 7 mil milhões de euros no final do segundo semestre deste ano. Um salto de 40% face a igual período de 2019, pré-pandemia. Os dados são do Banco de Portugal, as contas do DN..Até à derrocada financeira portuguesa, na década de 2010, e à ascensão fulgurante da economia angolana - propulsionada pela subida em flecha dos preços do petróleo, o maior recurso natural do país africano (sobretudo a partir de 2008, o ano do terceiro choque petrolífero) - Angola posicionou-se como investidor estratégico e de relevância superior, injetando enormes quantidades de capital, comprando posições em grandes empresas portuguesas e bancos, no imobiliário, etc. Foram os casos dos bancos (BES, BCP, BPI), da Galp, do Grupo Amorim, das telecomunicações (NOS)..Ato contínuo, neste processo de escala, também Portugal ganhou, e muito, nestes anos, com a abertura do exuberante mercado angolano, que atraiu centenas de empresas portuguesas, solidificou e fez crescer ainda mais as que já lá estavam, tornando-se, como se sabe, destino de emigração de muitos portugueses que encontraram em Angola a possibilidade de novo recomeço e ascensão profissional quando, na altura, a economia portuguesa emagrecia com a terapia de choque da austeridade, que gerou desemprego, esmagou salários, mas que também reduziu a dívida..A crise portuguesa e a derrocada de grandes empresas e bancos acabou por expor muitas fragilidades e más práticas, envolvendo capitais procedentes de Angola e muitas figuras de proa do regime do antigo presidente José Eduardo dos Santos. Muitos casos acabaram no foro da Justiça, de onde ainda não saíram, aliás..Em cima disto, o valor do petróleo afundou, retirando poder de fogo a Angola e, como se sabe, o país também não escapou à crise financeira e a uma forte desvalorização da moeda nacional (kwanza)..Mas esse tempo parece que pode ser passado. Hoje, Angola e Portugal estão a reconstruir a relação forte e com um empenho renovado dos Governos de Luanda e Lisboa.Como referido, quase todos os números da economia provam que a relação está numa fase claramente ascendente..A AICEP explica que “Angola é a terceira maior economia da África subsaariana e segundo maior produtor petrolífero do continente africano [a seguir à Nigéria], é um país rico em recursos naturais - com destaque para o setor dos hidrocarbonetos [petróleo e gás], que representa cerca de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) e 90% das exportações”..No entanto, há caminho a fazer. “Apesar do seu grande potencial, e do papel crucial no relançamento das economias locais, o turismo e o retalho sofrem um acentuado défice de infraestruturas, desde hotéis a vias de transporte”, observa o mais recente estudo da AICEP, entidade que é tutelada pelo Ministério da Economia de Portugal..“Em Angola, os principais setores de atividade onde as empresas portuguesas poderão encontrar oportunidades e que aportarão valor acrescentado à política angolana de diversificação económica são, nomeadamente, agrícola e agroalimentar, têxtil, farmacêutico, turismo, energias renováveis e tecnologias de informação e comunicação (TIC)”, reforça a agência do Governo português.

Angola e Portugal. Uma relação económica que resiste a sucessivas crises

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