Internacional
07 outubro 2022 às 08h04

Nobel da Paz para bielorrusso Ales Bialiatski, russa Memorial e ucraniano Centro para as Liberdades Civis

Este ano houve 343 candidaturas, das quais 251 pessoas e 92 organizações. A cerimónia de entrega do prémio é a 10 de dezembro, dia de aniversário de Alfred Nobel, em Oslo.

O bielorrusso Ales Bialiatski, que está atualmente detido, a organização russa Memorial e o ucraniano Centro para as Liberdades Civis são os galardoados deste ano com o Nobel da Paz. Em plena guerra da Ucrânia, o Comité Nobel Norueguês quis chamar a atenção para a "importância da sociedade civil para a paz e a democracia", oferecendo um presente envenenado ao presidente russo, Vladimir Putin, que faz hoje 70 anos.

"Os laureados do Nobel da Paz representam a sociedade civil nos seus países. Há muitos anos que promovem o direito a criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Fizeram um esforço excecional em documentar os crimes de guerra, abusos de direitos humanos e o abuso do poder. Juntos demonstraram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia", indicou a presidente do comité, Berit Reiss-Andersen.

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O Comité Nobel diz querer, com a entrega do prémio Bialiatski, à Memorial e ao Centro para as Liberdades Civis "honrar três campeões dos direitos humanos, da democracia e da coexistência pacífica nos países vizinhos da Bielorrússia, Rússia e Ucrânia". E considera que "por meio dos seus esforços consistentes a favor dos valores humanistas, do antimilitarismo e dos príncipios do Direito, os laureados deste ano revitalizaram e honraram a visão de Alfred Nobel de paz e fraternidade entre as nações", considerando que esta é "uma visão mais necessária no mundo de hoje".

Apesar de o Nobel ser conhecido no dia de anos de Putin, Reiss-Andersen nega que com a sua escolha o Comité se esteja a dirigir ao presidente russo, alegando que o prémio "não é contra alguém", mas distingue ações positivas. "A atenção que o presidente Putin atraiu para si mesmo, que é relevante neste contexto, está na repressão da sociedade civil e dos defensores dos direitos humanos", afirmou, dizendo que era isso que queriam chamar a atenção com o prémio.

Andersen apelou às autoridades bielorrussas para que libertem Ales Bialiatski, um dos responsáveis pelo movimento de democracia que emergiu na Bielorrússia em meados da década de 1980 e fundador da organização Viasna (Primavera) em 1996, em resposta à alteração constitucional que deu poderes ditatoriais ao presidente Alexander Lukashenko.

Bialiatski foi detido entre 2011 e 2014 e está detido desde 2020, sem julgamento, após novas demonstrações contra o regime. "Apesar das tremendas dificuldades pessoais, Bialiatski não cedeu um centímetro na sua luta pelos direitos humanos e democracia na Bielorrússia", indicou o Comité Nobel.

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O Nobel da Paz distingue ainda duas organizações, a russa Memorial e o ucraniano Centro para as Liberdades Civis. A Memorial foi fundada em 1987, ainda nos tempos da União Soviética, por um outro laureado com o Nobel, Andrei Sakharov, centrada na ideia de que "confrontar os crimes do passado é essencial para prevenir que novos ocorram".

Após a queda da União Soviética, a Memorial tornou-se na maior organização de defesa dos Direitos Humanos da Rússia e a mais fiável fonte de informação sobre presos políticos nos centros de detenção russos. "Como parte do assédio do governo à Memorial, a organização foi carimbada desde cedo como 'agente estrangeiro'", refere o Nobel, sendo que em dezembro do ano passado as autoridades russas decretaram o fecho do centro de documentação, mas os responsáveis recusam fechar.

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Finalmente o Centro para as Liberdades Civis nasceu em Kiev em 2007, com o objetivo de "fazer avançar os direitos humanos e a democracia na Ucrânia", fazendo campanha, entre outros, para que o país se filiasse no Tribunal Penal Internacional.

"Depois da invasão da Rússia, em fevereiro de 2022, o Centro para as Liberdades Civis desenvolveu esforços para identificar e documentar os crimes de guerra russos contra a população civil ucraniana", lembra o Comité Nobel. "Em colaboração com parceiros internacionais, o centro está a desempenhar um papel pioneiro com vista a tornar os culpados responsáveis pelos seus crimes", acrescenta.

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Este ano havia 343 candidatos (251 dos quais são pessoas e 92 organizações). Um número superior aos 329 candidatos do ano passado e o segundo mais elevado de sempre, sendo o recorde ainda o de 2019, com 376 candidatos.

O ano passado o Nobel da Paz foi entregue à jornalista filipina Maria Ressa e ao russo Dmitry Muratov, pela defesa da liberdade de expressão.