Biden mantém operações de retirada e avisa Estado Islâmico: "Vamos fazer-vos pagar"

Dois atentados fazem pelo menos 60 mortos em Cabul, segundo a BBC. Onze fuzileiros e um médico da Marinha norte-americana estão entre as vítimas mortais. A primeira explosão foi numa das entradas do aeroporto e a segunda junto ao hotel Baron, próximo desse mesmo local. Estado Islâmico já reivindicou os ataques

O presidente dos Estados Unidos assegurou que a operação de retirada de cidadãos do Afeganistão vai continuar, apesar dos ataques terroristas levados a cabo pelo Estado Islâmico esta terça-feira que fizeram pelo menos 60 mortos, entre os quais 12 militares norte-americanos, e prometeu retaliação, num tom agressivo: "Não vamos esquecer nem vamos perdoar o que aconteceu. Vamos fazer-vos pagar."

Num discurso a partir da Casa Branca, Biden também garantiu que os Estados Unidos não serão "dissuadidos por terroristas" e que vão manter a retirada de milhares de civis do país até 31 de agosto, apesar do atentado.

"Ainda há uma oportunidade nos próximos dias, entre agora e o dia 31, de conseguir retirá-los", afirmou Biden. "Sabendo que é muito possível que tenhamos outro ataque, os militares chegaram à conclusão de que é isso que devemos fazer. Acho que eles estão certos", completou o presidente norte-americano.

Biden negou ainda ter qualquer indicação de um "conluio" entre os talibãs e os militantes do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na preparação dos ataques desta quinta-feira em Cabul.
"Até agora, não há evidências dadas por nenhum dos comandantes no terreno de que houve conluio entre o Talibã e o EI para a realização do ocorrido hoje",

Antes, Biden condenou os atentados, disse estar constantemente em contacto com o comando militar, apelidou de heróis os soldados norte-americanos que têm estado a retirar civis do Afeganistão e lembrou o filho, que, após ter servido o país no Iraque, foi diagnosticado com um cancro no cérebro e acabou por morrer.

Estado Islâmico reivindica ataque

O líder do Comando Central dos Estados Unidos, general Kenneth McKenzie, confirmou 12 mortes e 15 feridos entre os militares norte-americanos nos ataques desta tarde em Cabul, atribuindo a autoria das explosões a bombistas suicidas do Estado Islâmico. A estação televisiva britânica BBC, citando fontes médicas, refere que o ataque terá provocado pelo menos 60 mortos e mais de 140 feridos.

Numa conferência de imprensa no Pentágono, o general Kenneth McKenzie disse que os terroristas detonaram-se com bombas do lado de fora do aeroporto, a que se seguiu um ataque armado.

Pelo menos 12 soldados norte-americanos morreram e 15 ficaram feridos no duplo atentado. Duas fontes militares norte-americanas confirmaram à agência AP que das 12 vítimas mortais, 11 eram fuzileiros ('marines') e um médico da Marinha.

Entretanto, surgiram notícias de uma terceira explosão em Cabul, após o duplo atentado no exterior do aeroporto, onde as forças internacionais tentam retirar do Afeganistão milhares de cidadãos estrangeiros e afegãos.

A terceira explosão na capital afegã foi ouvida por muitos cidadãos e jornalistas locais, que logo partilharam nas redes sociais, e ocorreu poucas horas depois do duplo ataque bombista no aeroporto internacional de Cabul, mas, segundo disse o porta-voz oficial dos talibãs à BBC, ter-se-á tratado de uma explosão controlada por parte das forças norte-americanas, a destruir algum equipamento.

O ataque bombista ocorreu em dois pontos distintos: um, junto a um hotel da capital afegã, e outro, junto a um dos portões do aeroporto de Cabul, onde se aglomeram milhares de afegãos tentando fugir do país antes do final da ponte aérea organizada pelos Estados Unidos e seus parceiros da NATO.

O Estado Islâmico já reivindicou entretanto a autoria dos ataques, através da sua agência de notícias Amaq, no seu canal oficial no Telegram.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, convocou uma reunião dos membros permanentes do Conselho de Segurança para discutir a caótica situação no Afeganistão. Guterres enviou cartas para convidar formalmente os Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China a se reunirem na segunda-feira, informaram diplomatas à AFP. Um porta-voz de Guterres confirmou a reunião.

Um ataque junto ao aeroporto e outro perto de hotel

Na conferência de imprensa no Pentágono, ​​​​​​​o general Kenneth Mckenzie diz que as operações de retirada de cidadãos internacionais e colaboradores afegãos vão continuar e admitiu que a ameaça de novos ataques "é real".

Mckenzie apontou ainda falhas às forças talibãs, por não terem garantido postos de controlo eficazes em redor do aeroporto.

O general explicou que dois bombistas suicidas detonaram explosivos perto de Abbey Gate, portão principal de entrada ao aeroporto de Cabul, e no vizinho Baron Hotel. Além disso, vários homens armados do EI abriram fogo contra civis e militares. "Estamos preparados para tomar medidas contra o Estado Islâmico", garantiu McKenzie, ao afirmar que as forças americanas estão "preparadas e em prontidão para se defender" de possíveis novos ataques.

Entretanto, o presidente norte-americano Joe Biden tem uma conferência de imprensa agendada para as 22.00 (hora de Portugal Continental).

O número de vítimas provocado pela explosão junto a uma das entradas do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, terá sido assim bem superior ao do primeiro balanço feito pelo porta-voz dos talibãs, que apontava para entre 13 e 20 mortos, entre os quais crianças, e pelo menos 52 feridos

"As nossas informações iniciais mostram que entre 13 e 20 pessoas foram mortas, e 52 feridas nas explosões no aeroporto de Cabul", disse Zabihullah Mujahid á agência France-Press.

"Podemos confirmar que a explosão na Abbey Gate foi o resultado de um ataque complexo que resultou num número de baixas norte-americanas e civis", escrevia o assessor de imprensa do Pentágono, John Kirby, no Twitter, poucos depois do incidente, sem especificar se essas baixas são feridos ou mortos. "Também podemos confirmar pelo menos uma outra explosão no ou perto do Hotel Baron, a uma curta distância da Abbey Gate", acrescentou.

Kirby, novamente no Twitter, falava de "um número" de militares mortos, "um número" de outros feridos e "um número" de afegãos vítimas do ataque "hediondo".

O hotel Baron, em cujas proximidades terá ocorrido uma das explosões, tem sido usado pelos países ocidentais para ajudar à retirada de Cabul. No Twitter, o alegado proprietário do hotel disse que a explosão foi no exterior e não há vítimas ou danos no interior do espaço.

Um fotojornalista da AFP contabilizou, num hospital de Cabul, pelo menos cinco corpos e dezenas de feridos. O hospital confirmou mais tarde seis mortos. Primeiras indicações apontam para pelo menos 60 feridos.

Segundo informações dos militares dos Estados Unidos, a explosão no aeroporto foi um ataque suicida, horas depois de as forças aliadas terem emitido um alerta da iminência de um atentado terrorista, que estaria a ser preparado pelo Estado Islâmico - Província de Khorasan (o ramo local do Estado Islâmico). Este grupo ainda não reclamou a autoria dos ataques.

Um porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, condenou os ataques, indicando que as explosões ocorreram em zonas sob o controlo norte-americano, de acordo com a agência Reuters.

Militares portugueses estão bem

Entretanto, o Ministério da Defesa garante que os quatro militares portugueses destacados no Afeganistão encontram-se bem.

Os quatro militares em questão, integrados no contingente espanhol, têm a missão de apoiar a retirada de 116 pessoas que constam nas listas prioritárias do Governo português, e que incluem cerca de 20 interpretes afegãos que trabalharam com as Forças Nacionais Destacadas portuguesas e os seus familiares.

Em declarações à RTP na quarta-feira, o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, adiantou que os quatro militares estão a trabalhar "dentro do aeroporto", por não existirem condições para saírem do local, tendo como missão "ajudar" os indivíduos que constam nas listas prioritárias a "entrar dentro do aeroporto e a passar para os aviões".

"É uma missão de risco, com certeza que é, porque toda a situação é uma situação extremamente delicada e difícil. Os nossos militares estão preparados e treinados para isso, com todas as qualidades necessárias para desempenhar bem a sua missão", afirmou Gomes Cravinho na altura

Este ataque verificou-se poucos minutos depois de terem sido disparados tiros contra um avião militar italiano, que descolava do aeroporto de Cabul.

A explosão ocorreu junto de um dos portões de entrada do aeroporto, onde costumam estar milhares de pessoas à espera que os seus documentos sejam analisados para poderem deixar o Afeganistão.

As forças aliadas continuam a apelar às pessoas para abandonarem as imediações do aeroporto por se manter o alerta de ataque terrorista iminente.

Apesar do ataque, a Casa Branca não estará a planear alterar o plano para a retirada até 31 de agosto.

Reino Unido vai continuar operação de retirada

O Reino Unido vai manter as suas operações no aeroporto de Cabul, apesar dos atentados que mataram mais de uma dezena de pessoas, incluindo fuzileiros norte-americanos, anunciou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

"Vamos continuar a nossa operação. E estamos agora a chegar ao fim, ao fim mesmo", disse Boris Johnson, citado pela agência France-Press (AFP).

Johnson falava após uma reunião do gabinete interdepartamental de crise, conhecido por COBRA, que convocou na sequência do ataque em Cabul.

"Claramente, o que este ataque mostra é a importância de continuar este trabalho tão rápida e eficazmente quanto possível nas horas restantes, e é isso que vamos fazer", disse o primeiro-ministro britânico.

Johnson disse que a "esmagadora maioria" dos afegãos elegíveis e as suas famílias já saíram do Afeganistão, no âmbito da operação interacional de resgate de estrangeiros e nacionais afegãos.

Boris Johnson reiterou que espera que os talibãs permitam a saída daqueles que "desejem deixar o Afeganistão" depois de 31 de agosto, dia agendado para a retirada final das forças internacionais.

Reações

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, condenou os "ataques cobardes e desumanos" junto ao aeroporto de Cabul, pedindo esforços internacionais para evitar o ressurgimento do terrorismo no Afeganistão.

"Condeno veementemente os ataques cobardes e desumanos ao aeroporto de Cabul", escreveu Ursula von der Leyen no Twitter. Vincando ser "essencial fazer tudo o que estiver ao alcance para garantir a segurança das pessoas no aeroporto", a líder do executivo comunitário defendeu que "a comunidade internacional deve trabalhar em estreita colaboração para evitar um ressurgimento do terrorismo no Afeganistão e não só".

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, também condenou "veementemente" aquele que classificou como "horrível ataque terrorista", defendendo uma rápida e segura retirada de civis.

"Condeno veementemente o horrível ataque terrorista fora do aeroporto de Cabul", escreveu Stoltenberg igualmente no Twitter. Após tal explosão, a prioridade da NATO "continua a ser retirar o maior número possível de pessoas para um local seguro o mais rapidamente possível", vincou o responsável. "Os meus pensamentos estão com todos os afetados e os seus entes queridos", disse ainda Stoltenberg.

Tiros contra avião militar italiano

Minutos antes da explosão, um avião militar italiano C130, em serviço no Afeganistão, foi alvo de tiros de uma metralhadora quando descolava na pista do aeroporto de Cabul, esta quinta-feira, avança a agência noticiosa italiana Sky TG24.

Os tiros foram disparados pelas tropas afegãs para dispersar a multidão no aeroporto, porém acabou por atingir o avião italiano, que descolava com cerca de 100 cidadãos afegãos. O avião C130 não ficou danificado pelos disparos.

A correspondente do Sky TG24, Simona Vasta, que estava a bordo do avião, disse que foram momentos de "pânico a bordo" durante as manobras de descolagem.

Estes são os últimos dias para o transporte aéreo de cidadãos afegãos antes do prazo estabelecido a 31 de agosto.

Aliados pedem para evacuar aeroporto de Cabul

Os três países emitiram avisos simultâneos, muito específicos e quase idênticos na quarta-feira à noite.

As pessoas que se encontram no aeroporto sobretudo "nas entradas leste e norte devem sair imediatamente", disse o Departamento de Estado norte-americano, citando "ameaças à segurança".

A diplomacia australiana alertou para uma "ameaça muito elevada de ataque terrorista", enquanto Londres emitiu um aviso semelhante.

"Se estiver na área do aeroporto, deixe-o para um lugar seguro e aguarde instruções adicionais. Se for capaz de sair do Afeganistão em segurança por outros meios, faça-o imediatamente", indicou o Governo britânico.

Há "informações muito, muito credíveis de um ataque iminente", diz ministro britânico

O ministro britânico com a tutela das Forças Armadas, James Heappey, disse hoje à BBC que há "informações muito, muito credíveis de um ataque iminente" no aeroporto.

Heappey admitiu que as pessoas estão desesperadas para partir", acrescentando que a informação sobre esta ameaça é "mesmo muito credível" e uma real possibilidade.

Estes avisos surgiram depois de o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ter dito que os rebeldes talibãs se tinham comprometido a deixar partir cidadãos dos Estados Unidos e afegãos em risco e ainda no país após 31 de agosto.

"Os talibãs comprometeram-se publicamente e em privado a proporcionar e permitir a passagem segura de americanos, outros estrangeiros e afegãos em situação de risco no futuro, após 31 de agosto", afirmou o responsável, sem especificar como será organizada qualquer saída, uma vez que as forças norte-americanas deverão deixar o país até ao final do mês, prazo confirmado na terça-feira pelo Presidente dos EUA, Joe Biden.

Também a Alemanha disse, na quarta-feira, ter recebido garantias dos talibãs de que os afegãos podiam deixar o país em voos comerciais, após a retirada final das tropas norte-americanas naquela data.

O chefe adjunto do gabinete político dos talibãs no Qatar, Sher Abbas Stanekzai, "garantiu que os afegãos com documentos válidos continuarão a poder viajar em voos comerciais após 31 de agosto", escreveu, na rede social Twitter, Markus Potzel, um diplomata alemão que está a negociar com fundamentalistas islâmicos afegãos, no final de uma reunião no emirado.

A Bélgica anunciou que a retirada de cidadãos e afegãos, sob proteção belga, terminou na quarta-feira à noite.

França sem condições de retirar pessoas de aeroporto de Cabul a partir de sexta-feira à noite

O primeiro-ministro francês afirmou esta quinta-feira que o país não estará mais em condições de retirar pessoas do aeroporto de Cabul depois de sexta-feira à noite.

Castex disse à rádio francesa RTL: "A partir de amanhã à noite, não estaremos em condições de retirar pessoas do aeroporto de Cabul".

Mais de 2000 afegãos e centenas de franceses foram retirados por França desde o início da operação, na semana passada.

Os Países Baixos também juntaram-se hoje aos países europeus que suspenderam ou anunciaram a suspensão do seu envolvimento na operação de resgate de estrangeiros e afegãos em curso no aeroporto de Cabul.

"Os Países Baixos foram hoje informados pelos EUA que têm de partir"

Numa carta ao parlamento, os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa informaram que o governo vai suspender hoje os voos, a pedido dos Estados Unidos.

"Os Países Baixos foram hoje informados pelos EUA que têm de partir e provavelmente irão organizar os últimos voos ainda hoje", disseram os ministros na carta, segundo a agência de notícias AFP.

Na terça-feira, numa cimeira virtual com outros líderes do G7, Biden excluiu o alargamento da presença militar norte-americana em Cabul além de 31 de agosto, citando um "sério e crescente risco de ataque" do grupo extremista Estado Islâmico (EI) ao aeroporto.

Dinamarca avisa que já não é seguro voar para Cabul

O ministro da Defesa da Dinamarca avisou mesmo que já não é seguro voar de e para Cabul.

Em declarações à cadeia de televisão TV2, na quarta-feira, Trine Bramsen disse que havia cerca de 90 pessoas -- além dos últimos soldados e diplomatas enviados para ajudar a retirar cidadãos -- no último voo que deixou a capital do Afeganistão.

A Polónia fez saber que já concluiu a sua operação no Afeganistão, depois de retirar cerca de 1300 pessoas de Cabul, noticias a AFP.

"Mais de 1300 pessoas foram transportadas para a Polónia", disse esta quinta-feira o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Marcin Przydacz, a jornalistas em Varsóvia, acrescentando que as operações de retirada estavam a ser interrompidas "por razões de segurança".

Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e aliados na NATO, incluindo Portugal.

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