Acordo a 27. "Histórico". "Sinal forte". "Futuro conjunto". Ucrânia tem estatuto de candidato

Um "sinal muito forte para a Rússia", disse Macron sobre a decisão que também inclui Moldávia na lista dos países à porta do bloco.

Primeiro foi a Comissão Europeia, que na semana passada recomendou ao Conselho Europeu a concessão do estatuto de candidato à adesão europeia a Kiev e Chisinau. Ontem à tarde, o Parlamento Europeu aprovou com 529 votos a favor e 45 contra uma resolução em que apelava para que os chefes de Estado e de governo aprovassem "sem demora" a decisão. E ela chegou poucas horas depois.

"Acordo. O Conselho Europeu acaba de decidir sobre o estatuto de candidato à UE para a Ucrânia e a Moldávia", anunciou o presidente do Conselho, Charles Michel, nas redes sociais. "Um momento histórico. Hoje deu-se um passo crucial no vosso caminho em direção à UE", acrescentou o belga, em referência aos povos dos dois países. "O nosso futuro é em conjunto." Charles Michel deixou também uma mensagem de parabéns aos georgianos. "O Conselho Europeu decidiu reconhecer a perspetiva europeia da Geórgia e está pronto para conceder o estatuto de candidato assim que as prioridades pendentes forem resolvidas."

Volodymyr Zelensky e Maia Sandu, chefes de Estado da Ucrânia e da Moldávia, usaram a mesma palavra para se congratularem com a decisão: "Histórico."

Um "sinal muito forte para a Rússia", foi como reagiu o presidente francês Emmanuel Macron, que há semanas sugerira a criação de uma comunidade política europeia que agrupasse os aspirantes à integração no bloco e outros não interessados, como a Noruega, a Suíça ou o Reino Unido.

Veto búlgaro

A reunião foi precedida de um encontro com os líderes dos países a que Bruxelas denomina de Balcãs ocidentais (Montenegro, Albânia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Macedónia do Norte e Kosovo), dominada pelo veto da Bulgária à Macedónia do Norte. "Um grave problema e um sério golpe na credibilidade da União Europeia", disse o primeiro-ministro macedónio Dimitar Kovacevski.

Sófia queixa-se de Skopje não ter tornado realidade os compromissos assinados entre ambos os países no tratado de amizade, relativos à herança cultural e linguística comum (os búlgaros alegam que os macedónios falam búlgaro mas não reconhecem como tal), assim como os direitos da minoria búlgara que vive naquele país.

"É uma vergonha que um país da NATO, a Bulgária, sequestre dois outros países da NATO, nomeadamente a Albânia e a Macedónia do Norte, em plena guerra quente no quintal da Europa, com 26 outros países parados num assustador espctáculo de impotência", reagiu o primeiro-ministro albanês. "A Bulgária é uma vergonha, mas não é apenas a Bulgária", disse Edi Rama. "A razão é o espírito tortuoso do alargamento - o seu espírito totalmente tortuoso. A Bulgária é a sua expressão mais espantosa. O espírito do alargamento passou de uma visão partilhada de toda uma comunidade para o sequestro de estados membros individuais", concluiu.

O primeiro-ministro búlgaro Kiril Petkov, cujo governo de coligação foi derrubado na véspera por uma moção de censura, estava a trilhar um caminho de aproximação à Macedónia e disse ter esperança que o parlamento aprove o fim do bloqueio.

À entrada para a cimeira, o chanceler alemão disse que o bloco devia admitir a Ucrânia como candidato, mas ao mesmo tempo efetuar reformas internas para se poder avançar com um alargamento a leste. Olaf Scholz defendeu que a UE deve passar a decidir com maioria qualificada, de modo a que os países individuais não possam bloquear decisões em áreas-chave como a política externa. "Isto pode ser feito sem alterações aos tratados", disse Scholz, aludindo à cláusula-ponte introduzida com o Tratado de Lisboa, e que permite contornar a exigência de unanimidade.

Scholz disse também que as futuras reformas da UE deveriam concentrar-se na salvaguarda da democracia e do estado de direito na UE. "Nunca deve haver dúvidas de que todos os estados-membros declaram que esta é uma condição essencial das suas próprias perspetivas nacionais, mas também uma condição essencial da União Europeia."

O vice-chanceler alemão, Robert Habeck, anunciou entretanto que o seu país vai entrar no nível de "alarme", o segundo de três fases do plano de emergência energético. Na prática, permite a reativação das centrais a carvão e até o aumento de preços do gás para que o seu consumo desça. Berlim tem como objetivo chegar a dezembro com 90% das reservas de gás, mas teme que a Rússia, o principal fornecedor, possa deixar de fornecer o combustível, depois de ter feito cortes nos últimos dias.

No leste da Ucrânia, as tropas russas continuam a avançar nos arredores de Severodonetsk, com Kiev a reconhecer que as suas unidades, em menor número e com menos capacidade de fogo, tiveram de se retirar para não ficarem cercadas. O Estado-Maior ucraniano disse, no entanto, que foi "repelida" uma ofensiva russa na cidade vizinha de Lysychansk. O ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, anunciou a chegada dos sistemas avançados de lançadores múltiplos HIMARS, em número não revelado, pelo que é uma incógnita se este armamento poderá contrabalançar a batalha pelo Donbass. Depois deste envio, os EUA comprometeram-se a enviar mais 428 milhões de euros em armamento e munições, incluindo mais HIMARS.

cesar.avo@dn.pt

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