Último gesto do Papa foi doar todos os bens às prisões romanas. Vaticano divulga projeto do túmulo

Milhares de pessoas têm feito questão de passar pela Basílica de São Pedro para um último adeus ao sumo pontífice.
Último gesto do Papa foi doar todos os bens às prisões romanas. Vaticano divulga projeto do túmulo
EPA/ALESSANDRO DI MEO

Vaticano divulga projeto do túmulo do Papa

O Vaticano divulgou esta quinta-feira o projeto do túmulo do Papa. Feito em mármore de origem liguriana, tal como Francisco pediu, terá apenas a inscrição Franciscus e permanecerá perto do Altar de São Francisco.

"Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho do corredor lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza desta mesma Basílica Papal, como indicado no anexo", pode ler-se no testamentod e Francisco divulgado pelo Vaticano.

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Milhares de pessoas têm feito questão de passar pela Basílica de São Pedro, que passou toda a noite aberta ao contrário do que estava inicialmente previsto, para um último adeus ao sumo pontífice.

O edifício deveria encerrar à meia-noite, mas as longas filas levaram à decisão de manter as portas abertas, de forma a permitir que toda a multidão prestasse uma homenagem ao líder da Igreja Católica.

O corpo de Francisco foi exposto para ser velado na quarta-feira e as exéquias irão terminar com despedidas solenes no sábado, com a transferência para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será realizada a cerimónia de sepultamento, como havia sido pedido pelo Papa, com uma única inscrição: “Franciscus”.

O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de acidente vascular cerebral (AVC), após 12 anos de pontificado.

Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.

A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer. O papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.

Nada mudou nos bairros lisboetas que o Papa Francisco visitou em 2023

“Nada foi feito” nos bairros lisboetas que o Papa visitou em 2023, quando esteve em Portugal e chamou a atenção para vidas como a de Raul, que há 93 anos mora numa casa térrea sem casa-de-banho nem água canalizada.

Raul Nunes Barata nasceu no Bairro da Liberdade, entre o Aqueduto das Águas Livres e o Parque Florestal de Monsanto. Nunca conheceu outra morada. Nunca soube o que era viver de outra forma. Toda a vida carregou bidons para ter água em casa e despejou o bacio na “retrete pública”.

Houve um tempo em que havia fila para a latrina pública. Hoje Raul é dos poucos a dar-lhe uso. No beco mesmo ao lado de casa, há uma retrete pública: um pequeno casebre sem porta que abriga o buraco no chão, tapado apenas com uma tábua de madeira. Todos os dias, o homem de 93 anos despeja ali o bacio.

Raul vive no “231 B” da Rua de São Jacob, numa casa com cerca de seis metros quadrados, onde quase não entra luz natural. Lá dentro há apenas uma cama de ferro rosa enferrujada, que ocupa praticamente toda a largura da casa. Aos pés da cama, junto à parede, está a televisão.

Foi naquele ecrã que viu a visita do Papa a Portugal, em agosto de 2023. Não quis sair de casa. Na altura, o bairro foi muito falado por causa de casas como a de Raul. Uns dias antes da visita papal, limparam as ruas e os moradores ouviram novas promessas de melhorias. Uns dias depois, caíram novamente no esquecimento.

“Estamos cansados de ser esquecidos. Precisamos que vejam estas pessoas”, apelou Cátia Aparício, nascida e criada no bairro da Serafina, que faz fronteira com o Liberdade.

“Em 2025 ainda há pessoas sem casa de banho nem saneamento básico, que têm de fazer as suas necessidades num balde e despejar para a rua. Ainda temos pessoas a viver em sítios em risco de derrocada”, alertou Cátia, que pertence à Associação de Moradores do Bairro da Serafina e Liberdade (AMBSL).

A casa de Raul é disso exemplo. As paredes são tijolo, cimento e alguns remendos. O telhado é feito apenas de telhas, sem revestimento que o proteja do frio ou do calor. As ligações elétricas estão à vista, umas ainda presas às paredes, outras já suspensas.

“Gostaria de dizer que é um caso isolado, mas é uma realidade de mais pessoas que aqui vivem”, lamentou Cátia, explicando que “rua sim, rua não, há dois, três e quatro casos que já foram retratados várias vezes e continuam sem ser vistos”.

A maioria dos moradores já não quer abrir as portas de casa para mostrar a pobreza. Uns têm vergonha, outros têm medo de serem acusados de estar a denunciar o tráfico de droga crescente e quase todos perderam a esperança de que a exposição pública lhes traga soluções. “Andamos a pedir ajuda há mais de 30 anos e nada”, desabafou Vera Alves, presidente da associação de moradores.

A casa de Raul serviu agora de exemplo. Além da cama enferrujada e suportada por tijolos, o mobiliário resume-se a pouco mais do que um frigorífico, onde colou fotografias de quando era novo, da mulher e da mãe, mas também imagens de “dois ídolos”: Nossa Senhora de Fátima e Álvaro Cunhal. Junto ao frigorifico há um alguidar com água turva para lavar a pouca loiça que tem.

“Quando a minha mulher estava viva isto estava melhor”, admite. Raul diz não saber limpar nem cozinhar. Junto à cama tem uma mesinha improvisada com uma torradeira e um fogão elétrico de dois bicos onde faz café, chá e pouco mais. A luz é puxada da rua. A água vai buscar à bica pública situada a poucos metros de distância, mas que a idade e o peso dos dez litros que chega a carregar de uma só vez fazem parecer distante.

Com passos pequenos, Raul carrega os garrafões num percurso que sabe de cor. São cada vez menos os que usam a bica e Raul acredita que os outros só lá vão para poupar na conta da água, ao contrário de si, que não tem outra opção.

A falta de água canalizada também prejudica as limpezas. A casa está encardida e tem um cheiro difícil de identificar. A cama de Raul não tem lençóis, só cobertores e vários casacos enrolados na cabeceira a servir de almofada.

Há uns anos, já viúvo, partiu parte da parede e ocupou a casa térrea do lado. Ganhou mais cinco ou seis metros quadrados onde agora está um guarda-roupa velho e duas pequenas secretárias: Uma parece-se com um pequeno santuário, com várias Nossas Senhoras de Fátima e um Santo António em barro, na outra estão fotografias antigas, em tons sépia, da família, que Raul já não consegue nomear.

Além do que é visível, os moradores deparam-se muitas vezes com infestações de ratos e outras pragas, lembrou Vera Alves.

“Temos pessoas com problemas respiratórios, com asma, por causa das condições em que vivem. Temos casas onde chove como na rua, onde há falta de manutenção”, acrescentou o presidente da Junta de Freguesia de Campolide, Miguel Belo Marques (PS).

A maioria das casas degradadas dos dois bairros são património privado, mas Miguel Belo Marques diz que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) tem mecanismos que poderia usar, como pedir aos proprietários para que façam obras ou, “em situações extremas, tomar posse administrativa e fazer obras coercivas”.

Sobre o número de casas degradadas e a precisar de intervenção prioritária, o autarca socialista aguarda pelos resultados do estudo pedido em 2024 pela CML à Universidade Nova de Lisboa, mas lembra que a população não pode “ficar à espera para sempre, porque o tempo passa e as situações agravam-se”.

A estes problemas, Miguel Marques revela outro fenómeno de casas emparedadas, que foram ocupadas ilegalmente e depois arrendadas a preços especulativos. As vítimas são os arrendatários que chegam a pagar 500 a 600 euros a pessoas que não são proprietárias mas as exploram “como perfeitos agiotas”. Na visita pelo bairro, a Lusa encontrou uma dessas habitações, mas os moradores recusaram-se a falar.

Miguel Marques saúda o Papa Francisco por ter olhado para estes dois bairros de Campolide: “Não se esperava que o Papa resolvesse os problemas, mas ao chamar a atenção esperava-se que houvesse uma maior atenção e impulso da câmara e do Governo”, criticou.

Os moradores, como Cátia Aparício, também se queixam de “não terem respostas da câmara há imenso tempo. O senhor engenheiro Carlos Moedas [PSD] esteve cá, fez imensas promessas, como outros fizeram, mas a concretização é zero. As coisas que estão a acontecer ao nível de pavimentação já estavam previstas, mas a nível social não temos respostas”.

Em vésperas de se celebrar mais um ano da Revolução de Abril, os moradores do bairro da Liberdade sentem-se abandonados. “Há mais de 30 anos que nos prometem melhorias e não acontece nada. Esqueceram a Liberdade”, lamentou Vera Alves, já descrente de medidas que resolvam os problemas de quem “vive à margem da cidade”.

Raul Barata nasceu no bairro há quase um século, há décadas que ouve promessas, mas já não acredita que algo mude. A sua rua foi alcatroada pela autarquia, mas a civilização passou ao lado do nº 231 B.

Lusa

Ativistas LGBT prestam homenagem ao Papa que os acolheu

Ativistas LGBT quiseram marcar presença na Basílica de São Pedro em Roma para homenagear o primeiro Papa que promoveu o seu acolhimento pela Igreja e deu os primeiros passos para o seu reconhecimento.

“O Papa Francisco foi único, ele passou o verdadeiro ensinamento de Jesus de amor ao próximo e esperamos que o sucessor continue esse legado que nos deixou”, afirmou à Lusa o brasileiro William Rodrigo, 39 anos.

Vestido com as cores do Brasil e uma bandeira LGBQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, interssexuais, assexuais e pansexuais), à saída da Basílica de São Pedro onde rezou, William Rodrigo assume-se como um católico que gostaria de voltar a ser praticante.

“Demorou um pouco, mas conseguimos ver o Papa”, disse, sorrindo, o ativista do estado de Santa Catarina, que vive em Roma há sete anos.

“Estou com a bandeira ‘pride’ porque o Papa Francisco foi um Papa que abraçou a causa, que rompeu barreiras e acolheu a nossa comunidade”, explicou o ativista.

O Papa Francisco insistiu sempre no acolhimento de “todos, todos, todos”, uma frase dita em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude, e, por diversas vezes, reuniu-se com movimentos LGBT.

Em dezembro de 2023 foi publicada a declaração "Fiducia Supplicans" (Suplicando a Confiança), pela Doutrina da Fé, que aborda as chamadas "relações irregulares", vínculos monogâmicos de pessoas que não casaram pela Igreja.

Os padres passaram a ter permissão de realizar bênçãos a casais do mesmo sexo, mas também casais do sexo oposto que ainda não são casados, sem que isso signifique que as relações passem a ser abençoadas.

Esta decisão foi criticada por conservadores e por progressistas, gerando uma das polémicas que mostram a atualização do Vaticano, sem colocar em causa a doutrina.

Dentro da Cúria, os mais conservadores alinharam-se com o cardeal eleitor norte-americano Raymond Burke, um cardeal norte-americano crítico da abertura do Vaticano e defensor de um regime mais rigoroso no que respeita às relações homossexuais ou divorciados.

Para Marco Pecce, um outro ativista LGBT, Francisco mostrou uma “grande abertura mental, que acabou com os tabus e o discurso contra o movimento”.

“Era uma pessoa muito boa que falava a linguagem das pessoas e procurava compreender todos”, disse, mostrando-se receoso em relação ao futuro, como sucede com alguns movimentos progressistas na Igreja católica.

Agora, “esperamos que esse acolhimento que o Papa Francisco nos deu continue com o novo Papa, porque Deus é amor”, resumiu William Rodrigo.

Lusa

Tribunal de Hong Kong autoriza cardeal Joseph Zen a assistir ao funeral

O Cardeal Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, foi autorizado a deixar a cidade semiautónoma da China para assistir ao funeral do Papa Francisco na Cidade do Vaticano, informou hoje a agência Associated Press.

Zen, de 93 anos, deixou Hong Kong na quarta-feira à noite, depois de ter apresentado um pedido num tribunal para recuperar o passaporte, revelou a sua secretária à AP.

As autoridades confiscaram o passaporte a Zen após ter sido temporariamente detido ao abrigo de uma lei de segurança nacional imposta por Pequim na região administrativa especial em 2022.

Zen está entre os críticos que, nos últimos anos, afirmaram que o acordo do Vaticano com as autoridades chinesas sobre a nomeação de bispos traiu os católicos chineses que se mantiveram fiéis aos Vaticano. Também criticou o secretário de Estado Pietro Parolin, o responsável pelas negociações com Pequim, como um “homem de pouca fé”.

Parolin é considerado um dos principais candidatos a ser o próximo Papa, dada a sua proeminência na hierarquia católica.

Na terça-feira, Zen emitiu uma crítica ao Vaticano, questionando a razão pela qual as reuniões pré-conclave começaram já nesse dia.

A sua secretária disse que Zen regressaria a Hong Kong após o funeral do Papa, que está marcado para sábado. Mas disse não ter a certeza da data exata do regresso.

Não é a primeira vez que Zen tem de pedir autorização para deixar Hong Kong, cidade vizinha de Macau. Em 2023, passou por procedimentos semelhantes para prestar homenagem ao falecido Papa Emérito Bento XVI. Nessa viagem, encontrou-se com o Francisco numa audiência privada.

Zen foi detido pela primeira vez em 2022 por suspeita de conluio com forças estrangeiras ao abrigo da lei de segurança nacional. Na altura, a detenção provocou uma onda de choque na comunidade católica.

O religioso foi multado em 2022 depois de ter sido considerado culpado de não registar um fundo agora extinto que visava ajudar manifestantes presos na sequência dos protestos pró-democracia que, em 2019, abalaram Hong Kong. A audiência do recurso contra a condenação está agendada para dezembro.

Pequim e o Vaticano cortaram as relações diplomáticas na sequência da subida ao poder do Partido Comunista Chinês (PCC), em 1949, e da expulsão de padres estrangeiros do continente chinês.

A grande divergência que se seguiu centrou-se na nomeação dos bispos, com Pequim e a Santa Sé a reclamar para si esse direito. A China tem cerca de 12 milhões de católicos, mas as manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica Católica Chinesa, a igreja aprovada pelo PCC e independente do Vaticano.

No entanto, muitos dos católicos chineses continuaram a celebrar a sua fé em igrejas clandestinas que se mantinham fiéis exclusivamente ao Vaticano.

Em 2018, ambos assinaram o referido acordo criticado por Joseph Zen e que visou reunir os católicos divididos entre as igrejas oficial e clandestina. Segundo o documento, o Governo chinês retém a autoridade de propor os nomes dos candidatos a bispos, mas é o Papa que tem a palavra final, podendo aprovar ou recusar a nomeação.

Num sinal de relações cada vez mais cordiais, a China e o Vaticano anunciaram em outubro passado que tinham renovado a validade do documento por um período de quatro anos.

A Constituição chinesa reconhece oficialmente a “liberdade de crença religiosa”, ou seja, o direito de acreditar numa religião, mas não menciona a “liberdade religiosa”, que tem um âmbito mais vasto.

O PCC desconfia de qualquer organização que possa ameaçar a sua autoridade e vigia de perto os locais de culto na China.

Timorenses prestam última homenagem a Francisco no sábado em Tasi Tolu

Os timorenses vão prestar a última homenagem ao Papa, que morreu na segunda-feira, com a realização de uma missa no sábado em Tasi Tolu, local onde Francisco celebrou a eucaristia quando visitou Timor-Leste em setembro passado.

“A missa vai realizar-se no mesmo local onde o Santo Padre celebrou, com o objetivo de recordar as suas mensagens dirigidas ao povo, ao país e à juventude timorense”, disse hoje à Lusa o vigário episcopal da Arquidiocese de Díli, Juvito Araújo.

“Depois do carinho do Papa por todos nós em setembro passado, as pessoas querem voltar a participar nesta celebração”, salientou o padre.

A missa será celebrada a partir das 18:00 locais (10:00 em Lisboa) pelo bispo da diocese de Baucau, Leandro Maria Alves, no dia em que se realiza também o funeral do Papa Francisco.

Segundo o vigário episcopal da Arquidiocese de Díli, o próximo sábado será uma oportunidade para mostrar ao mundo, mais uma vez, o carinho que o povo timorense tem pelo Papa.

Francisco visitou Timor-Leste durante três dias, entre 09 e 11 de setembro de 2024, tendo celebrado uma missa para 600.000 pessoas em Tasi Tolu.

No evento, que está a ser organizado em conjunto pelo Governo e a igreja católica, espera-se a presença de entre 25 e 30 mil pessoas, que deverão usar t-shirts brancas com a imagem do Papa Francisco e chapéus.

“Os fiéis vindos de outras dioceses que desejem regressar a este local histórico podem fazê-lo, fazendo o percurso a pé, se necessário”, afirmou o padre Juvito Araújo.

O padre Juvito Araújo pediu também aos fiéis para respeitarem as regras estabelecidas pelo Governo, já entregues à Polícia Municipal de Díli, para garantir uma celebração ordeira e segura.

Xanana Gusmão afirma que Francisco foi exemplo dentro da igreja

O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, afirmou hoje que o Papa Francisco, que morreu na segunda-feira, foi um exemplo dentro da igreja católica e um homem corajoso, que nunca se calou perante a guerra.

“Foi um exemplo dentro da igreja. Não apenas conhecedor de orações e da missa, mas alguém que respondia às necessidades morais, sociais e políticas da sociedade”, disse Xanana Gusmão.

O primeiro-ministro timorense falava aos jornalistas no aeroporto internacional Nicolau Lobato, em Díli, depois de ter chegado da Austrália, onde esteve em visita privada.

“O Papa Francisco é um Papa profundamente admirado em todo o mundo. Admirado pela sua coragem. Nunca se calou perante a guerra. Pedia sempre aos que fazem a guerra que olhassem, primeiro, para as vítimas, porque quando fazem guerra, são os outros que sofrem, são os outros que morrem”, disse Xanana Gusmão.

O chefe do Governo timorense recordou também a última intervenção proferida pelo Papa Francisco sobre Gaza.

No domingo, nas celebrações da Páscoa e um dia antes de morrer, o Papa Francisco denunciou a “dramática e desprezível situação humanitária em Gaza” e apelou para o cessar-fogo e para a libertação dos reféns.

“Pedimos-lhe que continue a olhar por nós, especialmente por aqueles que só olham para si próprios, e já não veem como vive o povo”, acrescentou Xanana Gusmão.

Fiéis exaltam humildade e tolerância de Francisco no maior Santuário católico do Brasil

Na cidade de Aparecida, que abriga o maior santuário católico do Brasil, centenas de fiéis prestam homenagem ao Papa Francisco, exaltando o exemplo de humildade, amor e tolerância como legados deixados pelo líder da Igreja Católica, que morreu segunda-feira.

No dia a seguir à morte do Papa, a Lusa esteve no Santuário Nacional de Aparecida, local que guarda a imagem original de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, e que reuniu 200 mil pessoas em 2013, durante uma visita de Francisco ao país sul-americano lusófono.

Ana Laura de Lara Menck, 26 anos, participava numa peregrinação a cavalo com um grupo de pessoas que percorreram mais de 400 quilómetros até Aparecida quando soube da morte do Papa. Contou à Lusa que a notícia abalou todo o grupo e que ela ficou em choque.

“O Papa Francisco com certeza era uma pessoa que eu admirava muito, um exemplo de fiel. E nós também sabemos que agora estamos sem o nosso maior pastor. Para nós fiéis católicos é uma perda irreparável”, afirmou.

O Santuário de Nossa Senhora Aparecida é muito procurado por fiéis e, de acordo com seus administradores, recebeu mais de 9 milhões de visitantes em 2024.

O local abriga uma pequena imagem de Nossa Senhora encontrada por pescadores em 1717 no rio Paraíba do Sul, cujo aparecimento nas águas foi associado a milagres que a tornaram um símbolo de fé, proteção e esperança para os brasileiros.

O Brasil tem quase 183 milhões de católicos, 13% do total mundial, segundo dados do Vaticano referentes a dezembro de 2022. O país abriga o maior número de católicos do mundo, apesar de ter registado um aumento expressivo no número de evangélicos.

“Para a gente foi um choque, uma dor, um aperto do coração. Porque, para nós, ele é Deus na Terra, ele é o que nos guia, ele que nos explica, que traz o Espírito Santo até nós, até nossas casas. E parece que o mundo desabou”, disse Adriele Menck Pissinato, 32 anos.

“É uma dor, uma dor como se fosse perdido um parente tão próximo da gente. Querendo ou não, ele era o nosso pai, o nosso guia espiritual na Terra”, acrescentou.

Gilmar Francisco Araújo, outro brasileiro que recebeu a notícia da morte de Francisco quando viajava até Aparecida de bicicleta, exaltou a importância do discurso de união do pontífice como um legado para a Igreja Católica.

“O Papa representava para a gente uma figura importante porque ele conseguiu unir a Igreja num momento crucial da humanidade, onde os valores, a família, são coisas que estão sendo deixadas de lado”, apontou.

“Ele veio para um momento de união, um momento de expectativa para a Igreja Católica. Estou muito triste, a gente espera que venha um novo Papa que dê continuidade ao trabalho que ele fez ao longo desses poucos anos de papado”, completou.

Já para Valdinei Alves de Oliveira, 68 anos, Francisco foi um ser humano em quem as pessoas colocaram toda a esperança de que a Igreja pudesse ser aquilo que o Evangelho pede.

“A grande maioria dos brasileiros, inclusive, nesse momento, nós podemos dizer que não só os católicos, mas cristãos, muçulmanos, enfim, todas aquelas pessoas que acreditam na justiça, na paz, no amor, que têm a sua fé, viam em Francisco esse ser humano capaz de agregar as religiões para que a gente possa entender que o mundo quer nada mais do que a união de todos”, afirmou.

“Perder um ser humano como o Papa Francisco, a gente tem que sentir, e vai sentir muito. E, ao mesmo tempo, a gente vai ter que orar para que o seu substituto possa dar continuidade a esse trabalho tão bonito que o Papa Francisco começou”, concluiu.

Lusa

Francisco pegou imagem de Nossa Senhora ao colo e isso tocou o povo no Brasil

A última visita do Papa Francisco ao maior Santuário católico do Brasil, em 2013, ficou marcada pelo momento em que pegou na imagem de Nossa Senhora Aparecida ao colo, disse à Lusa Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida.

“Foi um privilégio a vinda do Papa Francisco a Aparecida porque não estava no ‘script’ do Vaticano e ele fez questão de dedicar à Aparecida um momento apostólico, um momento de presença”, lembrou o arcebispo brasileiro.

“O Papa ama muito Nossa Senhora, mas também Nossa Senhora Aparecida, que ele chama de mãezinha. Ele, quando aqui esteve, pegou a imagem de Nossa Senhora no colo e isso tocou muito o coração do povo de Deus (…) Não podemos esquecer que Francisco, com essa devoção à Nossa Senhora Aparecida, mãe de Jesus, valorizava muito o Santuário”, acrescentou.

A passagem de Francisco pelo maior santuário católico do Brasil aconteceu em julho de 2013, pouco tempo depois de ser eleito sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica, num evento paralelo à XXVIII Jornada Mundial da Juventude, organizada no Rio de Janeiro. Mais de 200 mil fiéis estavam presentes no Santuário, segundo as autoridades locais.

O Santuário de Nossa Senhora Aparecida é o principal destino de peregrinos e devotos do Brasil porque abriga uma pequena imagem de Nossa Senhora encontrada por pescadores em 1717 no rio Paraíba do Sul, cujo aparecimento nas águas foi associado a milagres que a tornaram um símbolo de fé, proteção e esperança para os fiéis brasileiros.

O Brasil tem quase 183 milhões de católicos, 13% do total mundial, segundo dados do Vaticano referentes a dezembro de 2022. O país sul-americano lusófono ainda abriga o maior número de católicos do mundo, apesar de registar um aumento expressivo no número de evangélicos.

Francisco já havia visitado a cidade e o Santuário de Aparecida em 2007, quando era conhecido apenas como Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo e Cardeal de Buenos Aires.

“Eu convivi com ele durante um mês aqui, porque eu participei da Assembleia da Quinta Conferência de Aparecida, e ele ainda não era Papa, mas estava sempre no meio do povo, sempre rezando no santuário, lá nos pés da imagem e se comunicando muito”, contou à Lusa.

“E uma das coisas mais bonitas é que ele era o encarregado, enfim, de toda a assembleia, e colocou lá esse pensamento sobre a presença dos peregrinos em Aparecida que contagiou positivamente a assembleia, quer dizer, os 400 bispos da assembleia foram tocados pela fé dos peregrinos e da mãe Aparecida”, completou.

O arcebispo brasileiro também fez questão de realçar que Francisco é amado pelos fiéis porque “ia sempre ao encontro do povo, sempre, em todas as viagens apostólicas, mas, aqui no Brasil, de modo especial. Então, esse carinho do Papa pelo povo é sumamente evangelizador e humanizador”.

Orlando Brandes mencionou que recebeu pessoalmente uma chamada de Francisco durante a pandemia da covid-19, que vitimou mais de 700 mil pessoas no Brasil.

“Ele teve a grande generosidade e bondade de telefonar para cá, se solidarizando com o povo brasileiro, dizendo, 'olha, estou acompanhando toda a realidade do Brasil' e queria se informar também como é que estava a questão da pandemia por aqui, um gesto extraordinário”, pontuou.

“Portanto, o Papa também nos cativou e cativou a todos por essa proximidade, por essa simplicidade no falar e, claro, por seu profetismo, pela sua mística e pela coragem com que conduziu o pontificado. Eu resumiria em quatro palavras esse pontificado: Primeiro, alegria, segundo, misericórdia, terceiro, esperança e quarto, coragem”, concluiu.

Quase 50 mil pessoas já passaram pela Basílica de São Pedro desde quarta-feira. Fila para ver o Papa é de dois quilómetros

Quase 50 mil pessoas já passaram pela Basílica de São Pedro, onde se encontra o corpo do Papa Francisco, desde a manhã de quarta-feira, anunciou esta quinta-feira o Vaticano.

Entre as 11h00 de quarta-feira (10h00 em Lisboa) no Vaticano e as 08:30 desta quinta-feira (07h30 em Lisboa), 48 600 pessoas passaram diante do caixão do Papa para lhe prestar homenagem, incluindo 13 mil fiéis durante a madrugada.

Segundo a agência de notícias italiana ANSA, a fila para entrar na Basílica de São Pedro é de dois quilómetros e começa na Piazza Risorgimento.

O velório do Papa vai durar três dias. Já o funeral será realizado no sábado, quando são esperados religiosos, várias autoridades e líderes de todo o mundo para participarem nas exéquias.

61 mil pessoas já passaram pela Basílica de São Pedro

61 mil pessoas já passaram pela Basílica de São Pedro, onde se encontra o corpo do Papa Francisco, desde a manhã de quarta-feira, anunciou esta quinta-feira diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em conferência de imprensa.

Entre as 11h00 de quarta-feira (10h00 em Lisboa) no Vaticano e as 13h00 desta quinta-feira (12h00 em Lisboa), 61 mil pessoas passaram diante do caixão do Papa para lhe prestar homenagem, incluindo 13 mil fiéis durante a madrugada.

Último gesto de Francisco foi doar todos os seus bens às prisões romanas

O último gesto do Papa Francisco foi doar todos os seus bens, cerca de 200 mil euros, às prisões romanas, divulgou o secretário e deputado do partido italiano Mais Europa, Riccardo Magi.

"O último gesto do Papa Francisco foi um sinal muito forte. Bergoglio decidiu doar todos os seus bens, cerca de 200 mil euros, a financiar projetos na prisão de Rebibbia e no centro de detenção juvenil Casal del Marmo. Um gesto que diz muito sobre a centralidade da questão prisional e das condições dos reclusos. Um verdadeiro termómetro da nossa civilização", escreveu na rede social X.

"Este gesto obriga todos a enfrentar uma realidade incómoda. E deve levar todos, a começar pelo governo Meloni, a recolocar com força a questão das prisões no centro do debate político. O Papa Francisco passou anos a levar conforto espiritual àqueles que perderam a liberdade: as pessoas esquecidas, muitas vezes tratadas como lixo. Agora cabe à política pôr em prática campo de ações concretas para trazer o tema da dignidade de volta ao centro prisões", acrescentou.

Roma está em pré-conclave para decidir perfil do novo Papa, diz consultor do Vaticano

O consultor da Congregação dos Bispos Eduardo Baura considerou que as Congregações Gerais funcionam como “uma espécie de pré-conclave” para que os cardeais se conheçam e definam o perfil do futuro Papa, a eleger depois às portas fechadas.

“Nas congregações gerais há quase um pré-conclave” para “definir o perfil do futuro Papa”, afirmou Eduardo Baura, que é professor de direito canónico na pontifícia universidade de Santa Cruz, em Roma, que pertence à Opus Dei.

O sacerdote referia-se às reuniões diárias dos cardeais para decidir o funcionamento quotidiano da Santa Sé, que servem muitas vezes para se conhecerem e perceberem até porque Francisco nomeou muitos nomes de fora de Itália e da Cúria Romana.

Vários analistas apontam o discurso do então Jorge Bergoglio sobre a necessidade de modernização da Igreja numa das Congregações Gerais após a renúncia de Bento XVI como a principal razão para a sua escolha pelo colégio cardinalício de então.

“O que está previsto é que estas congregações sirvam para resolver os problemas imediatos que surjam, concretamente para marcar a data do funeral, para marcar a data do início do conclave e outras questões que possam surgir”, mas “também têm de discutir o estado geral da Igreja”, os “problemas da evangelização no mundo contemporâneo e quais são os desafios que têm de ser enfrentados”, explicou Eduardo Baura.

E por isso, “naturalmente, ao falar destas questões, já se está a traçar, de alguma forma, o perfil do novo Papa”, reconheceu o docente.

Lusa

Pedro Strecht propõe data da morte do Papa para Dia Nacional da Luta Contra os Abusos Sexuais de Crianças

Pedro Strecht, médico pedopsiquiatra que coordenou em 2022-23 a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal propôs, num artigo publicado no 7MARGENS, que a data da morte do Papa Francisco seja consagrada como Dia Nacional da Luta Contra os Abusos Sexuais de Crianças.

"Em 2019, o Papa Francisco escreveu uma carta apostólica, Vós Sois a Luz do Mundo, onde afirma: 'Os crimes de abusos sexuais ofendem Nosso Senhor e implicam sofrimento psicológico, físico e social' das vítimas. Para esse tipo de crime pediu de forma firme: 'tolerância zero'", recorda Pedro Strecht.

Terços de Francisco começam a esgotar nos quiosques perto do Vaticano

Pagelas, medalhas ou terços com imagens do Papa Francisco, que morreu na segunda-feira, começaram a esgotar nos quiosques e lojas perto da Basílica de São Pedro, com muitos artigos comprados por atacado pelos fiéis, para recordarem estes dias.

“Só a uma senhora vendi 90 terços”, diz Eugénio, que trabalha num quiosque de venda de artigos religiosos, na Praça Maior a 50 metros da Praça de São Pedro.

“Eu queria 10 medalhas destas”, afirmou, quase de imediato, Marie Salva, uma francesa que está em Roma e que quer levar lembranças para a família.

“Sou católica, já tenho muitas recordações de Roma. Mas o Papa Francisco é especial e sei que há pessoas que querem ter algo que lhes recorde uma pessoa tão boa”, afirmou Maria Salva, cerca de 60 anos.

A febre da compra de recordações lembra a Eugénio os tempos de João Paulo II, um sinal da devoção universal de Francisco, mesmo entre quem não é católico.

“Quando chegam os chineses e japoneses levam tudo o que tenha”, explicou.

Já pediu ao fornecedor mais terços, porque já esgotou os que tinha para vender. Agora, está a vender os de uma outra loja, mais afastada do Vaticano.

“As pessoas vão ver a urna na Basílica e depois querem ter uma coisa que lhes lembre este momento”, explica Artur, que trabalha numa loja de 'souvenirs' turísticos perto da rua da Conciliação, defronte da Praça de São Pedro.

A australiana Astrid é um desses exemplos. “Fui ver o Papa e quero levar algumas coisas para a família, lá em casa”, explicou à Lusa a turista que incluiu Roma na viagem de três semanas que está a fazer pela Europa.

Se Francisco é um ícone nos artigos religiosos, o seu antecessor é menos visível.

Bento XVI já pouco destaque tem nas montras, ao contrário de João Paulo II, que ainda é capa de calendários em 2025.

Mas a estrela maior é Francisco, uma tendência que se tem acentuado ao longo do pontificado, até pela grande procura dos latino-americanos.

Bento XVI “foi um bom Papa, mas este é mais carismático”, reconhece Eugénio.

E o futuro Papa? Eugénio não sabe e diz que o mais importante é o futuro da Igreja.

“Eu vendo estas coisas, mas sou católico. Quero é o bem da Igreja e o nosso bem”, mas “se ele for carismático, será melhor para as vendas”, admitiu.

O corpo de Francisco foi exposto para ser velado na quarta-feira e as exéquias irão terminar com despedidas solenes no sábado, com a transferência para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será realizada a cerimónia de sepultamento, como havia sido pedido pelo Papa, com uma única inscrição: “Franciscus”.

O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.

Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.

A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer. O papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.

DN/Lusa

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