Para uns (incluindo o Hamas) é um “traidor”, um traficante de droga que conseguiu fugir da prisão quando a guerra começou após o ataque do 7 de outubro de 2023 e está a colaborar com Israel. Para outros é um herói, por estar disposto a enfrentar o grupo terrorista palestiniano que controla o enclave. Yasser Abu Shabab é o líder das Forças Populares, uma milícia anti-Hamas que está alegadamente a ganhar força no sul da Faixa de Gaza e conta com o apoio israelita.“Experimentámos a amargura e a injustiça que o Hamas nos infligiu”, disse Abu Shabab à emissora pública israelita KAN, numa entrevista a 6 de julho. “Assumimos a responsabilidade de confrontar esta agressão. Apoiamos qualquer força legítima que adote a ideia de acabar com a injustiça e a corrupção”, acrescentou o líder das Forças Populares.Há mais de um mês, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, admitiu que “ativou” alguns clãs palestinianos em Gaza que se opõem ao Hamas, seguindo os conselhos dos seus “oficiais de segurança”. A ideia é que está a poupar as vidas dos militares israelitas, apesar de perdas recentes. Mas não explicou de que forma os clãs tinham sido “ativados” por Israel, com membros dos seus serviços de informação a confirmar contudo, sob anonimato, aos media locais que estão a fornecer armas. Segundo algumas informações, haverá pelo menos seis clãs, principalmente no sul do enclave. Estes exercem controlo sobre algumas áreas - no caso das Forças Populares, as suas ações estão centradas no leste da cidade de Rafah, junto à fronteira de Kerem Sharom -, tendo em alguns casos havido tensões prévias e confrontos com o Hamas. As Forças Populares estarão ativas pelo menos desde junho de 2024.Na entrevista, Abu Shabab confirmou que o seu grupo está a cooperar com Israel na área de “apoio e assistência”, mas não no âmbito de “ações militares”. Um mês antes, noutra entrevista, mas à Rádio do Exército, tinha dito que não tinha ideologia política e confirmado que havia coordenação em questões administrativas com a Autoridade Palestiniana (que está à frente da Cisjordânia). O grupo armado liderado por Abu Shabab anunciou nas redes sociais - onde desde maio já publicou fotos e vídeos dos combatentes com armas automáticas - que estava a ajudar a proteger os carregamentos de ajuda humanitária que são distribuídos pela Fundação Humanitária de Gaza (que é apoiada por Israel e pelos EUA). Pelo menos 600 pessoas já terão morrido junto desses polémicos centros, segundo os cálculos das autoridades locais controladas pelo Hamas. Alguns palestinianos e outras organizações acusam contudo as Forças Populares de atacarem os comboios humanitários da ONU.Mas quem é afinal Abu Shabab? O líder das Forças Populares terá pelo menos 32 anos e pertence a um grande clã beduíno do sul da Faixa de Gaza. Segundo o dossier do Conselho Europeu de Relações Externas sobre as instituições e atores políticos palestinianos, terá alegadas ligações ao Estado Islâmico. De acordo com a mesma fonte, já terá estado preso por tráfico de droga (aparentemente durante vários anos, tendo sido libertado após os ataques de 7 de outubro). O irmão terá sido morto pelo Hamas.O grupo confirmou à Euronews que pelo menos 50 dos seus membros foram mortos pelo grupo terrorista palestiniano, que tenta mostrar a sua força face a potenciais rivais. “O Hamas matou mais de 50 dos nossos voluntários , incluindo membros da família do comandante Yasser, enquanto guardávamos os comboios de ajuda”, referiu um porta-voz ao canal europeu.“Não somos substitutos do Estado, nem somos parte de nenhum conflito político. Não somos combatentes profissionais, já que não nos envolvemos em táticas de combate de guerrilha”, indicou o grupo, em comunicado, à Euronews, reiterando que todos são voluntários. As estimativas é que o grupo tenha cerca de 300 membros, com o Hamas a temer não a sua força, mas que Abu Shabab possa inspirar outros e possa unir os diferentes clãs. No início de julho, o Ministério do Interior de Gaza (controlado pelo Hamas) deu-lhe dez dias para se render e enfrentar a justiça. É acusado de traição, colaborar com entidades hostis, formar um grupo armado e planear uma insurreição. “Eles cometeram o crime do 7 de outubro. Eles são a causa dos problemas do povo palestiniano, a perseguição dos civis e a morte de inocentes. Eles deviam julgar-se a eles próprios, não outras pessoas”, respondeu.