Rockeira, tecnocrata, 'outsider' e ecologista: as quatro vices de Sánchez
Há menos de dois anos, Pablo Iglesias fez depender o apoio da Unidas Podemos a um governo de Pedro Sánchez de um lugar para ele próprio como vice-primeiro-ministro. Foi preciso Espanha ir a segundas eleições, mas conseguiu o que queria. Agora deixará esse cargo para ser candidato às eleições autonómicas antecipadas em Madrid, previstas para 4 de maio. A sua saída (ainda sem dada marcada) não implica que o sócio minoritário perca a única vice-presidência do governo que tinha, mas deixa quatro mulheres nesses lugares.
A primeira vice-primeira-ministra, e na prática número dois de Sánchez, continuará a ser Carmen Calvo, que tem a área política. É ministra da Presidência do Governo, das Relações com as Cortes (Congresso dos Deputados e Senado) e da Memória Democrática. Iglesias, que tinha também a pasta dos Direitos Sociais e da Agenda 2030, era o segundo vice-primeiro-ministro. Mas, com a sua saída, esse lugar ficará nas mãos de Nadia Calviño, responsável pelos Assuntos Económicos e a Transição Ecológica.
Isto porque a escolhida pelo líder da aliança Unidas Podemos para o substituir foi a ministra do Trabalho e da Economia Social, Yolanda Díaz, que quis continuar com a essa missão. E Sánchez queria garantir que a hierarquia da área económica ficava como até agora, pelo que Díaz será a terceira vice-primeira-ministra. Em quarto, como até agora, continuará Teresa Ribera, que é a ministra da Transição Ecológica e Desafio Demográfico.
Espanha já tinha tido três vice-presidências de Governo, mas uma quarta foi algo inédito após as eleições de novembro de 2019. A decisão de Sánchez foi vista como uma forma de diluir o poder de Iglesias - ele só tinha insistido em ter uma vice-presidência (além de quatro ministérios) e também terá sido apanhado de surpresa. O primeiro-ministro justificou a decisão como forma de mostrar a importância que dava aos temas ambientais. E, na prática, além de Sánchez, na hierarquia só a primeira vice-primeira-ministra, Carmen Calvo, estaria à frente de Iglesias.
A pasta dos Direitos Sociais e da Agenda 2030, que até agora estava nas mãos do líder da Unidas Podemos, será assumida por Ione Belarra. A subida a ministra da secretária de Estado para a Agenda 2030 deixará o governo de Sánchez com mais ministras (serão 12) do que ministros (serão 11, contando com o próprio primeiro-ministro). "Espanha não voltará a ser nunca mais um país de mulheres sem voz", tinha dito Sánchez, na apresentação do seu executivo, em janeiro de 2020. Elas também já tinham sido maioria no seu primeiro governo (11 contra 7), após a moção de censura a Mariano Rajoy, em junho de 2018.
No grupo das quatro vice-primeiras-ministras, Yolanda Díaz será agora a outsider. A galega, de 49 anos, é militante do Partido Comunista Espanhol, um dos que fazem parte da Esquerda Unida, que desde 2016 vai aliada com o Podemos às eleições. Iglesias - que foi seu assessor na corrida às eleições galegas em 2012 - coloca-a também como futura candidata da aliança Unidas Podemos às legislativas.
Díaz é uma das ministras mais bem avaliadas. No barómetro do Centro de Investigações Sociológicas de janeiro tinha 4,6 pontos, só ficando atrás de Margarida Robles (5,1) e de Calviño (5). Apesar de a saída de Iglesias poder significar menor atrito na coligação, já que Díaz é apontada como mais dialogante, ela também já esteve envolvida em choques com Calviño.
A tecnocrata e independente, que também é galega, tem 52 anos e ocupou cargos técnicos nos governos socialistas e conservadores ena Comissão Europeia. Não tinha experiência política antes de Sánchez a chamar para, em 2018, promovendo-a a vice-primeira-ministra já em 2020 - e propondo a sua candidatura a líder do Eurogrupo, após a saída de Mário Centeno.
A quem não falta experiência política é à andaluza Carmen Calvo, de 63 anos. A número dois de Sánchez, fã assumida de rock (tem todos os álbuns de Metallica, mas também gosta de rock latino), foi ministra da Cultura de José Luis Zapatero (e antes na Andaluzia). Doutorada em Direito Constitucional, tem vários livros sobre feminismo, tendo tido a pasta da Igualdade no primeiro governo de Sánchez.
O grupo das quatro fica completo com Teresa Ribera, madrilena de 51 anos que trabalha com questões ambientais há mais de 15 anos. Já tinha sido secretária de Estado desta área com Zapatero, foi diretora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais, com sede em Paris e em 2015 fez parte do grupo de peritos que Sánchez contactou para elaborar o programa eleitoral do PSOE.