Vinte e cinco países e a União Europeia lançaram um apelo para o fim da guerra em Gaza, entre críticas ao modelo de distribuição de ajuda por parte de Israel quando, em paralelo, as forças armadas israelitas confirmaram a extensão das operações para Deir al-Balah, no centro do enclave.Num comunicado conjunto publicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, os chefes da diplomacia afirmam-se unidos numa “mensagem simples e urgente: a guerra em Gaza tem de terminar já”. Prossegue: “O sofrimento dos civis em Gaza atingiu novos níveis. O modelo de distribuição de ajuda do governo israelita é perigoso, alimenta a instabilidade e priva os habitantes de Gaza da dignidade humana. Condenamos a distribuição parcimoniosa de ajuda e o assassínio desumano de civis, incluindo crianças, que procuram satisfazer as suas necessidades mais básicas de água e comida. É horrível que mais de 800 palestinianos tenham sido mortos enquanto procuravam ajuda. A recusa do governo israelita em prestar assistência humanitária essencial à população civil é inaceitável. Israel tem de cumprir as suas obrigações ao abrigo do direito humanitário internacional.” O comunicado foi assinado pela comissária europeia para a Gestão de Crises Hadja Lahbib e por 17 ministros da UE, incluindo o português Paulo Rangel, mas ao qual faltaram, por exemplo, os homólogos europeus da Alemanha, Grécia, Hungria ou Roménia (no mesmo dia, Bucareste anunciou um acordo para a aquisição de sistemas antiaéreos israelitas no valor de 2 mil milhões de euros). O comunicado conjunto, apoiado fora da Europa pela Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Japão, apela para o governo israelita levantar “de imediato as restrições ao fluxo de ajuda humanitária e permita urgentemente que a ONU e as ONG humanitárias façam o seu trabalho de salvar vidas de forma segura e eficaz”. Também apela a todas as partes para “que protejam os civis e cumpram as obrigações do direito humanitário internacional, e classifica de “totalmente inaceitáveis” as ideias de juntar a população palestiniana numa “cidade humanitária”. .Israel ordena saída de palestinianos e alarga ataques ao centro de Gaza. Mais tarde, na Câmara dos Comuns, o ministro britânico David Lammy disse que as condições a que os habitantes da Faixa de Gaza foram submetidos proporcionam um “espetáculo grotesco, com um custo humano terrível”. Só no domingo, segundo as autoridades locais, foram mortos 115 palestinianos que procuravam comida, enquanto outros 19 morreram por desnutrição. Aos deputados, Lammy assegurou que o seu ministério está a desenvolver esforços para “mostrar que tem de haver um caminho viável para o Estado palestiniano envolvendo a Autoridade Palestiniana e não o Hamas.” O rei belga - por norma reservado sobre assuntos políticos - juntou a sua indignação. Durante um discurso alusivo ao dia da Bélgica, Philippe disse que os acontecimentos em Gaza são “uma vergonha para a humanidade” e disse apoiar o apelo do secretário-geral das Nações Unidas para que se ponha “imediatamente fim a esta crise insuportável”. Através do porta-voz, António Guterres disse estar chocado com a deterioração das condições dos habitantes de Gaza, “onde as últimas fontes de sobrevivência das pessoas estão a desaparecer”. O secretário-geral lembrou que Israel “tem a obrigação de permitir e facilitar por todos os meios ao dispor a ajuda humanitária prestada pelas Nações Unidas e outras organizações humanitárias”. Ao fim do dia, o governo israelita fez saber que “rejeita o comunicado conjunto porque está desligado da realidade e envia a mensagem errada ao Hamas”. No terreno, os habitantes da zona de Deir al-Balah testemunharam à AFP o avanço israelita com disparos dos tanques. “Não sei para onde podemos ir”, disse Hamdi Abou Moughsib, de 50 anos, à agência noticiosa.