Inspirações e desafios das mulheres na área STEM

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Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, decidimos inquirir mulheres que trabalham num setor altamente tecnológico, como o da energia, sobre as suas experiências, inspirações e desafios. Trata-se de uma área de atividade onde as mulheres desempenham um papel cada vez mais importante, mesmo se, em funções de liderança, ainda existe menor representatividade face aos homens.

Começámos por perguntar às nossas interlocutoras qual o fascínio que nelas exerce a área da tecnologia.

Para Ana Filipa Ribeiro, Product Owner na E-Redes, na área tecnológica não existe monotonia. Para a doutorada em matemática aplicada, de 35 anos, "saber que tudo o que fazemos tem impacto na empresa e no dia-a-dia das pessoas é muito recompensador".

Daniela Simões, Mestre em Engenharia de Computadores e Telemática e CEO da Muvext SA, de 26 anos, é peremptória: "o que mais me fascina é a capacidade e a velocidade de evolução: felizmente, ainda não sabemos o que não sabemos!"

Marta Jordão, Key Account Manager da Helexia, de 42 anos, é engenheira do ambiente e tem um mestrado em mecânica, no ramo da termodinâmica também não tem dúvidas: "criatividade e inovação aliada ao impacto social, sobretudo ligada ao cluster das energias renováveis."

Para Olga Frazão, de 50 anos, Marketing & Communication Manager da Voltalia, o que mais a entusiasma é "a melhoria da eficiência e a da eficácia em todos os processos desde os mais básicos até a mais sofisticados como a Inteligência Artificial".

Joana Abreu, Gestora de Cibersegurança da E-Redes, de 34 anos e com formação em matemática e aplicações, diz: "Entusiasmo-me particularmente por temas relacionados com a automatização de processos e as possibilidades que temos hoje em dia de fazer as coisas acontecer sem que seja necessária uma intervenção manual".

Questionadas sobre se a perspetiva da mulher pode acelerar os processos de mudança em termos de sustentabilidade e transição energética, todas sem exceção apontam a diversidade como uma mais-valia na procura de novas soluções.

Marta Jordão é muito clara: "será natural que uma maior diversidade alavanque abordagens inovadoras, mais criativas no encontrar das melhores soluções para os desafios do futuro."

Daniela Simões particulariza: "as mulheres são, tendencialmente, muito competentes em trabalho colaborativo, o que é necessário para a resolução de qualquer problema complexo e multifacetado."

Quanto ao que podemos fazer, enquanto sociedade, para aumentar a representatividade feminina em cargos de liderança nas áreas STEM, as respostas refletem a complexidade da tarefa em mãos. Ana Filipa Ribeiro aponta a educação, formação e desenvolvimento profissional como um dos aspetos mais decisivos.

Para Olga Frazão, as mulheres "devem ser mais ativas na defesa dos seus direitos enquanto profissionais. Não se trata de reivindicar, mas sim de se assumirem como tão merecedoras quanto os homens."

Para Joana Abreu, é necessária maior representatividade nas empresas. E, por isso, "é importante que, nas escolas básicas e secundárias, se promovam atividades do foro científico e tecnológico, para despertar mais cedo o interesse nestas áreas e se acabar de vez com certos clichés de que as mulheres têm mais apetência para a Saúde e a Educação e os homens para a Engenharia e a Tecnologia."

Adicionalmente, Marta Jordão propõe "adaptar os planos de marketing e comunicação de promoção dos cursos tecnológicos, desenvolvendo conteúdos que também tenham como alvo os interesses naturais do público feminino, despertando neste uma imagem mais apelativa das carreiras de engenharia e do mundo tecnológico."

Daniela Simões aponta que, chegando ao mercado de trabalho, também há muito por fazer: "deve manter-se a preocupação na criação e manutenção de um ambiente de trabalho não discriminatório e justo, que analisa e valoriza os colaboradores com base no mérito e não no género."

O desafio na manutenção do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é tradicionalmente mais exigente para as mulheres. Todavia, as nossas entrevistadas parecem concordar que este é um tema em que houve maior progressão.

Joana Abreu acha que "a sociedade evoluiu muito na última geração". Ana Filipa Ribeiro aponta também que "o teletrabalho permite-nos encontrar o equilíbrio necessário ao bem-estar pessoal e familiar".

Daniela Simões realça: "é importante dividir a vida com alguém que respeite a necessidade de foco, tempo e até de gestão pessoal para que seja possível encontrar um equilíbrio dinâmico em que as partes possam evoluir quer na área profissional, quer na pessoal." Mas remata: "a mulher deve ocupar o seu espaço, como um ser completo com todas as suas necessidades e não deve abdicar ou comprometer o seu sucesso profissional em prol de assumir uma gestão da vida familiar que afete negativamente o seu progresso profissional, se esse for o seu desejo."

Instada a revelar o melhor conselho profissional que recebeu e que daria às jovens que se preparam para iniciar a sua vida profissional, Ana Filipa Ribeiro escolheu o seu lema do dia-a-dia: "Tudo é possível a quem acredita!" E completa: "Se existe uma vocação para a área tecnológica, arrisquem e venham descobrir que o IT não é cinzento, nem aborrecido." Joana Abreu mantém presente a frase: "o impossível vai-se fazendo".

Olga Frazão tem como uma das suas referências a frase: "Só não erra quem não faz" e conclui, em tom de partilha: "sejam honesta convosco próprias e serão muito mais felizes".

Para Daniela Simões é importante "uma postura confiante permite que as ideias sejam ouvidas e, embora em meios maioritariamente masculinos seja esperada uma postura menos assertiva por parte das mulheres, sintam-se livres para continuarem a ser diretas e eficientes."

Para Marta Jordão, "é essencial ter uma ideia clara de metas profissionais e criar um plano de ação a partir dai. Ter espírito aberto para uma constantemente aprendizagem para nos mantermos atualizados sobre as tendências na área onde atuamos. Apontaria ainda a resiliência e a capacidade de nos adaptarmos à mudança como outros fatores fundamentais que irão ajudar qualquer jovem a superar obstáculos e a alcançar os seus objetivos."

Finalmente, pedimos às nossas interlocutoras que nos revelassem com que mulher inspiradora, figura história ou atual, gostariam de jantar.

Marta Jordão foi a mais abrangente: "Nenhuma em específico e todas! São muitas as mulheres que me inspiram! A maioria mulheres incógnitas que tenho a sorte de conhecer, outras vezes de ler sobre elas ou viver com elas momentos de partilha e experiências de vida que são verdadeiras inspirações e força."

Olga Frazão escolhia a Michelle Obama, "porque é genuína, humilde e resistente."
Ana Filipa Ribeiro indica "Angelina Jolie pelo seu caráter humanitário e ativista."

Daniela Simões é peremtória: "Megan Smith, não só por todo o seu mérito profissional mas também pelo seu posicionamento em defesa da inclusão e diversidade, que se concretiza, também, através da empresa que fundou, a Shift7, que com recurso a tecnologia e dados trabalha para resolver problemas sociais, ambientais, equidade e inclusão."

Já Joana Abreu hesitou um pouco, mas: "talvez Joan Clarke, uma matemática do século XX que trabalhou com Turing na descodificação das Enigmas e a quem foi recusado o título de Matemática, por ser mulher. Teríamos era que jantar cedo, para ter tempo de lhe perguntar tudo o que gostaria!"

As entrevistas estão disponíveis na íntegra em Welectric

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