IGCP: "É cedo para ser perentório sobre contágio" da Grécia
Em entrevista ao Dinheiro Vivo, Cristina Casalinho começa por considerar que a crise grega é uma "novidade em termos de gestão de crise para qualquer estado europeu". A presidente do IGCP revela que Portugal dispõe atualmente de uma almofada financeira de 14,9 mil milhões e já iniciou o financiamento para 2016. Quanto ao contágio da crise grega sobre Portugal, a responsável considera ser ainda cedo para afirmar a sua existência.
Portugal está preparado e 'blindado' para enfrentar esta crise e a possível saída da Grécia? De que forma?
A crise grega é um fenómeno inaudito, pelo que é uma novidade em termos de gestão de crise para qualquer estado europeu. Atualmente, em consequência da gestão de crise da dívida soberana, a União Monetária dotou-se de instrumentos capazes de proteger estados em risco de pressão financeira. Foi criado o Mecanismo Europeu de Estabilidade, que pode disponibilizar fundos ou linhas de crédito cautelares a estados em risco de pressão financeira. O BCE está a executar um programa de expansão quantitativa que poderá ser reconfigurado em caso de necessidade e existe ainda o OMT (programa de compras definitivas de dívida pública), o qual nunca foi ativado. Portanto, a UEM dispõe presentemente de instrumentos que ajudam ao isolamento de pressão de mercados sobre determinados mercados.
A almofada financeira que Portugal dispõe é suficiente para enfrentar esta crise? E daria para cobrir durante quanto tempo as necessidades de financiamento do país?
No caso de Portugal, a almofada de financeira ascende no presente a cerca de 14,9 mil milhões de euros e o país já iniciou o financiamento do ano seguinte. Com efeito, o Tesouro pretende atingir reservas de liquidez de 9,8 mme no final do ano, enquanto apenas se antecipa financiamento de 7,6 mme.
O contágio no mercado secundário é hoje evidente. É expectável que também se alastre às operações de financiamento no mercado primário? E a crise na Grécia poderá levar o IGCP a alterar os seus planos de financiamento para o segundo semestre?
É muito cedo para se ser perentório sobre a existência de contágio e quais as implicações para os próximos meses. Assim, Espanha, Itália e Portugal registaram alargamento de spreads face à Alemanha e outros mercados do centro da Europa; mas, também EUA ou UK beneficiaram de alguns sinais de fuga para a qualidade. É precipitado fazer comentários sobre o acesso ao mercado nos próximos meses apenas com indicações do dia de hoje. Acresce que esta semana vários estados europeus realizam leilões: Espanha, França e Itália. Importa acompanhar como correm estes leilões, em termos de procura, taxa de colocação e emissão.