Seis dias após a demissão de António Costa, que na manhã de 7 de novembro de 2023, de um momento para o outro, deixou de ter condições para superar o recorde de longevidade no poder desde o 25 de Abril, estabelecido por Cavaco Silva, Mário Centeno instruiu o gabinete de comunicação do Banco de Portugal para divulgar um comunicado. Na última linha, quis pôr um ponto final num dos factos políticos do turbilhão causado pela Operação Influencer: “É inequívoco que o senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo.”.Foi o culminar de uma semana em que o PS assistiu, em estado de choque, à forma como se desfez a segunda maioria absoluta que obteve nas urnas, por vontade de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República dissolveu a Assembleia da República, na sequência da demissão de António Costa, a quem avisara de que o faria caso o secretário-geral do PS trocasse o Governo por um cargo europeu..Ainda assim, esgrimindo o argumento dos 120 deputados eleitos pelos socialistas em 2022, Costa apresentou o governador do Banco de Portugal, seu antigo ministro das Finanças, como a solução para liderar o Executivo no resto da legislatura que deveria durar até 2026..O convite de António Costa a Mário Centeno foi feito por telefone, no dia em que o primeiro-ministro se demitiu, alegadamente com conhecimento de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas dois dias mais tarde, após uma reunião do Conselho de Estado inconclusiva, com empate entre defensores da dissolução da Assembleia da República e da solução de continuidade, coube ao Chefe de Estado tomar a decisão que permitiu aprovar o Orçamento do Estado antes de se iniciar o processo que culminou na vitória da Aliança Democrática nas Eleições Legislativas de 10 de março, terminando o ciclo de governação socialista..Na noite de 9 de novembro, à entrada de uma reunião da Comissão Política do PS, Costa lamentou que Belém não tivesse optado pela “solução estável” de um “Governo forte e renovado” do seu partido, liderado por Centeno, “uma personalidade de forte experiência governativa”, além de ser “respeitado e admirado pelos portugueses, com forte prestígio internacional”..Nesse dia, à saída de um almoço-debate do American Club, o governador do Banco de Portugal escusara-se a responder a perguntas de jornalistas acerca da possível indigitação para ser o próximo primeiro-ministro de Portugal. Mas a notícia espalhara-se e acabou por gerar mal-estar com o Palácio de Belém..Depois de Centeno ter dito ao Financial Times que recebera um convite de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa para “considerar a possibilidade” de liderar o Governo, com a Comissão de Ética do Banco de Portugal a querer ouvi-lo devido à intenção de deixar de ser governador, o Presidente da República negou tal possibilidade, a 13 de novembro, num comunicado..“O Presidente da República desmente que tenha convidado quem quer que seja, nomeadamente o governador do Banco de Portugal, para chefiar o Governo, antes de ter ouvido os partidos políticos com representação parlamentar e o Conselho de Estado, e neste ter tomado a decisão de dissolução da Assembleia da República. Mais desmente que tenha autorizado quem quer que seja a contactar seja quem for para tal efeito”, garantiu Marcelo Rebelo de Sousa.