A luso-britânica Farfetch, plataforma de comércio de moda de luxo, apresentou esta quinta-feira os resultados para o segundo trimestre, após o encerramento da sessão de Wall Street. Até junho, a empresa apresentou receitas de 365 milhões de dólares (309 milhões de euros), mais 74% face ao mesmo período de 2019, alavancadas pelo número de novos clientes..Luis Teixeira, COO da Farfetch, aponta que estes resultados mostram que a "empresa está no caminho certo", especialmente num contexto adverso para o setor do luxo. "Os resultados excederam as expectativas de uma forma muito positiva, tendo em conta que foi um trimestre onde tivemos vários recordes." Em três meses, coincidentes com o principal período do confinamento, a plataforma global de moda de luxo adquiriu meio milhão de novos clientes, o número mais alto até agora. Para o COO, a aquisição de novos clientes é o "facto mais assinalável do negócio", já que "sem clientes não há negócios".."É um contexto adverso para a indústria de luxo, em que há contração do consumo de forma geral, algo que está patente nos estudos das consultoras e também nos resultados dos grandes grupos de luxo. Quando entregamos um crescimento da plataforma digital de 34% mostra que, de facto, mantivemos um crescimento acelerado e ganhámos quota de mercado. Melhor do que isto seria impossível", resume o responsável..Em relação aos prejuízos após impostos apresentados, que passaram dos 95 milhões para 436 milhões de dólares, Luis Teixeira clarifica que "o valor avultado deste trimestre é um pouco incompreendido".."Essencialmente, se formos ver o detalhe das contas, vemos que o que nos leva aos 436 milhões de prejuízos depois de impostos são essencialmente non cash items. O reflexo do investimento nas nossas pessoas, do investimento em ativos, os nossos pagamentos em ações, que não é cash burn mas que tem de ser apresentado nos resultados de alguma forma, sejam depreciações e amortizações dos ativos intangíveis que fizemos no passado. E, o valor mais importante, que são cerca de 279 milhões neste trimestre, que tem a ver com o financiamento que fizemos durante o primeiro semestre, com os senior convertible notes", o mecanismo de financiamento usado pela Farfetch.."Quando procurámos o financiamento, ficou acordado que haveríamos de dar de volta um número de ações que, na altura, tinham um determinado valor. Imediatamente é criada uma liability [um risco] no balanço. No fim do segundo trimestre, quando as ações subiram, significa que essa liability é maior, porque o acordo foi feito em número de ações. Se hoje procurássemos o mesmo número de dinheiro ao mercado teríamos de dar menos ações do que aquelas que demos. Mas isto é um non-cash item, acho que é um mecanismo de financiamento que é pouco compreendido em Portugal porque não é comum. Neste caso, é apenas o reflexo da valorização enorme da empresa", afirma Luis Teixeira..O COO da Farfetch acredita que num "próximo trimestre bastante positivo", reforçando o expectável "aceleramento da plataforma digital", com valores de crescimento na ordem "de 40 a 45%, mantendo os níveis de margem que temos tido". A empresa continua "no caminho para o break even [momento em que empresa atinge a rentabilidade] de EBITDA, a que nos propusemos em 2021".."Obviamente que ainda não estamos fora desta situação do covid-19, é certo que o nosso modelo é mais resiliente, mas pode ter impacto", acautela o responsável. "Tendo em conta que já estamos praticamente a meio do [terceiro] trimestre, hoje já temos mais informação e guiamos o mercado para um crescimento, que é extremamente positivo neste contexto adverso.".Regresso aos escritórios de acordo com recomendações locais.Com escritórios em vários pontos do globo, desde os Estados Unidos até à China, a empresa destaca que, tendo em conta que já apostava na flexibilidade e no trabalho remoto, o encerramento de escritórios não está a ter particular impacto no negócio. "Somos uma empresa já flexível por natureza, até me custa um bocadinho explicar que isto não é um problema para nós.".Luis Teixeira explica que, tendo em conta a presença da empresa em vários países, está a agir "de acordo com as recomendações locais", que variam consoante os territórios. Devido às diferentes situações em cada país, refere que "seria muito precipitado estar a estabelecer datas para regresso aos escritórios", nomeadamente para os Estados Unidos.