Compreender o sofrimento da ansiedade e a depressão
Sempre que enfrentamos uma situação de ameaça sentimos receio, nervosismo, tensão interior e preocupação. Muitas são as formas de ameaça que nos inquietam no quotidiano: os desafios que a sociedade nos coloca, as necessidades de sobrevivência, o desempenho cada vez mais exigente e competitivo, e a aspiração a uma vida saudável.
A ansiedade é uma reação normal da experiência humana. Somos, essencialmente, seres sociais, mas as próprias relações interpessoais podem ser fonte de ansiedade e preocupação. Preocupamo-nos com os que nos são próximos, com o seu bem-estar, e ansiamos ser apreciados e estimados por eles. Todas as experiências que nos desafiam, mesmo as positivas, podem ser acompanhadas por uma expectativa ansiosa que as precede no tempo.
Questionamo-nos constantemente sobre como será o curso dos acontecimentos e o que nos espera, mesmo sabendo da sua imprevisibilidade. Quando é que a ansiedade se torna doentia, excessiva e incontrolável? Quando é que a ansiedade se torna uma doença?
Em primeiro lugar, pela sua intensidade. A inquietação e o nervosismo tornam-se muito intensos e persistentes, são vividos no corpo sob a forma de dores no peito, palpitações, taquicardia, tonturas, ondas de calor e frio e muitos outros sintomas.
A pessoa que sofre de ansiedade fica inundada de medos irracionais, receios e preocupações com as situações comuns do dia-a-dia (a possibilidade de acidentes ou doenças dos familiares, os problemas económicos, o desempenho no trabalho, etc.). As fontes normais de preocupação são as mesmas da ansiedade normal, mas são excessivas e os pensamentos catastróficos são recorrentes.
Esta ansiedade patológica interfere nas atividades diárias e leva a uma desorganização do funcionamento cognitivo (atenção, concentração, execução de tarefas). A pessoa ansiosa necessita da nossa compreensão para os seus medos excessivos e reações psicológicas e físicas. Devemos entender que estão para além da sua vontade e do seu controlo e que a procura de ajuda profissional é o único meio de tornar a viver com a tranquilidade possível.
Tal como fazemos com a ansiedade, temos de distinguir entre tristeza e desmoralização associadas à nossa condição humana e aos problemas da existência, de um quadro de sintomas que indiciam uma possibilidade de doença.
O termo "depressão" remete para uma série de sintomas que se manifestam em conjunto e que vão desde um estado de desânimo, desesperança, pessimismo, dificuldades no sono, fadiga emocional e física, até à perda do gosto pela vida e à redução das atividades habituais. A depressão é acompanhada de dificuldades de concentração e de memória que podem ser inquietantes pelo receio da demência que evocam.
Os sintomas físicos da depressão, vividos corporalmente, podem ser dominantes e dificultar o diagnóstico: cefaleias, dores musculares, sensação de "peso" nas pernas, obstipação e alterações no peso corporal. A depressão pode ter intensidades muito variada, mas é sempre acompanhada de um intenso sofrimento e de sentimentos de culpa.
As pessoas sentem que não correspondem à expectativa que os outros têm dela: não conseguem exprimir o seu afeto pelos próximos, irritam-se facilmente e têm explosões de cólera, sentem que não conseguem fazer adequadamente as tarefas domésticas ou profissionais. Podemos afirmar que praticamente todas as áreas de funcionamento pessoal 2 ficam atingidas.
O mundo da pessoa deprimida é negativo, opressivo, sem futuro e sem saída, muitas vezes vivido como tendo obstáculos impossíveis de ultrapassar. A pessoa deprimida pode mesmo sentir que não tem tratamento ou ajuda possível. O suicídio pode ser sentido como uma saída e está subjacente a este modo de se situar no mundo.
Compreender a ansiedade e depressão é entender o sofrimento, identificar os sintomas e a necessidade de ajuda. Quer a ansiedade, quer a depressão têm tratamentos eficazes e o encaminhamento dos doentes para a sua obtenção não pode ser descurado.