A alimentação pode influenciar a nossa saúde mental?

A dieta e uma boa alimentação têm consequências diretas na Depressão. O Médico Psiquiatra Pedro ​​​​​​​Zuzarte explica-lhe melhor esta relação e de que forma o que comemos tem uma ligação direta com a saúde mental.
Publicado a
Atualizado a

Tem existido uma crescente sensibilização para a importância da saúde mental na sociedade. Existe, contudo, um longo caminho a percorrer em termos de clarificação de conceitos e desfazer mitos associados às doenças mentais.

A alta prevalência de Depressão na população geral, por exemplo, começa a ser do conhecimento geral. Mas o real impacto desta doença ainda é subestimado, como salienta o médico psiquiatra Pedro Zuzarte.

A Depressão é uma das maiores causas de incapacidade na sociedade moderna, com um impacto colossal dos pontos de vista pessoal, social e económico. Apesar disto, tem sido uma patologia negligenciada.

A Depressão resulta de uma interação complexa de fatores psicológicos, sociais e biológicos, mas o conhecimento da repercussão física nesta doença também foi subestimado. Além de mero sofrimento psíquico, o corpo também sofre na Depressão. Sabe-se hoje que o organismo responde com mecanismos de defesa à doença mental, como se estivesse perante uma agressão física, nomeadamente com respostas inflamatórias e aumento de stress oxidativo, entre outros mecanismos lesivos.

Estes efeitos podem refletir-se mais tarde em problemas cognitivos e cardíacos, para listar apenas dois exemplos. O impacto da Depressão faz-se sentir, portanto, muito além do psicológico.

Esta doença necessita de uma abordagem médica sem reservas. O tratamento não deve ser adiado, da prescrição farmacológica ao tratamento psicológico. Mas existem medidas comportamentais que tem influência na sua recuperação e merecem ser destacadas.

Poucas pessoas estão ainda conscientes da ligação objetiva entre dieta e Depressão. Na doença cardiovascular esta ligação já é conhecida no senso comum. Da mesma forma, existe hoje evidência de que a dieta pode ter um papel importante na Depressão.

Os ensaios clínicos SMILE (Supporting the Modification of lifestyle in Lowered Emotional States) investigaram ousadamente o papel da dieta como tratamento antidepressivo. Foi demonstrado que a dieta Mediterrânea tem um efeito positivo em indivíduos com Depressão moderada e severa. Concretamente, dietas com abundância de fruta fresca, predomínio de vegetais e leguminosas, cereais integrais, frutos secos, azeite extra virgem e peixes gordos. As propriedades com efeitos anti-inflamatórias, antioxidantes e a riqueza em componentes Omega-3 deste tipo de dieta combatem os mecanismos lesivos no corpo associados à Depressão.

A dieta do estilo mediterrânea como terapia nutricional não é novidade. Especialmente para doenças cardíacas e na redução no risco de cancro. O papel antidepressivo demonstrado também neste tipo de dieta constitui um "fechar de círculo": valida o conhecimento das alterações orgânicas da Depressão, solidifica a sua objetividade como patologia e alerta para a relação próxima com outras doenças como a cardíaca e problemas cognitivos.

O filósofo alemão Ludwig Feuerbach proclamou em 1848 a famosa expressão "somos o que comemos". O avanço das neurociências e do conhecimento acerca dos efeitos da Depressão no corpo, permite-nos expandir os limites desta afirmação para níveis mais subtis. O "somos" de Feuerbach inclui de forma muito mais significativa os aspetos "pensar e sentir" do ser na sua relação com o que se come, do que anteriormente supúnhamos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt