Prolongamento

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Os últimos confrontos verbais entre Pedro Passos Coelho e os líderes dos partidos da oposição, em particular o socialista António José Seguro, não deixam margem para dúvidas. O Governo da Aliança Portugal tem uma estratégia orçamental muito clara: o défice das Administrações Públicas deve ser reduzido, até fins de 2017, para 0,5% do PIB. Só se houvesse uma cambalhota no Documento de Estratégia Orçamental (DEO), a apresentar em Bruxelas durante este mês de abril, face à trajetória das contas públicas proposta aos parceiros externos nos dois últimos anos, é que essa, que é uma meta comum para os 28, não figuraria como o ponto de chegada de uma longa jornada de seis anos de aperto do cinto nas contas públicas em Portugal.

A questão é saber como se chega lá. Para o centro-direita, esses 6000 milhões de euros a menos no défice têm de recair predominantemente sobre os cortes na despesa pública. Pela regra dos dois terços, teríamos, assim, mais 4000 milhões de redução na despesa, repartidos pelos próximos três anos. Acontece que meios ligados ao Governo PSD/CDS vão lançando balões de ensaio para afiançar que há uma grande vontade em começar a aliviar, já em 2015 (e, por maioria de razão, nos anos seguintes), a carga fiscal em sede de IRS.

A eficiência do fisco na redução da fuga e da fraude ao pagamento devido dos impostos, bem como um crescimento real da economia ascendente, produzem mais receita para o Estado, mas esse acréscimo encolhe na medida em que se pretende diminuir o peso dos impostos na economia. Isso provocará maior pressão para reduzir o emprego público, o fecho de serviços, o prolongamento por mais estes três anos dos atuais cortes nas prestações sociais. Com os juros da dívida pública a descerem para mínimos, ganha força a posição da maioria quanto à possibilidade de sair da assistência externa sem apoios.

Só mais perto do sufrágio se perceberá qual o grau de diferenciação que a estratégia orçamental do PS vai apresentar aos eleitores.

Repensar a Guiné

O barrete vermelho de lã ficou como a imagem de marca de Kumba Ialá, político que está ligado de forma única ao nascimento do multipartidarismo na Guiné-Bissau. Militante do PAIGC, foi expulso do partido que conquistou a independência por defender uma abertura política e acabou por fundar o PRS, forte entre os balantas. Derrotado nas presidenciais de 1994 por Nino Vieira, o homem que vinha do regime de partido único, Ialá venceu por fim as eleições de 2000. Seria afastado três anos depois por um golpe.

Ora, os golpes militares têm sido a desgraça da Guiné--Bissau, país cujos líderes saídos da rebelião de 2012, entre as duas voltas das presidenciais, não são reconhecidos pela comunidade internacional, a ponto de não terem sido sequer convidados para a cimeira Europa-África.

Agora, dia 13, estão previstas eleições para repor a normalidade constitucional na antiga colónia portuguesa. Desta vez Ialá não era candidato. Que a morte deste político não perturbe o processo eleitoral e sobretudo que dê pretexto para os guineenses repensarem a sério o seu país.

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