Mundos
Na Azambuja 1200 pessoas que trabalham para a Opel vivem na ansiedade de amanhã saberem que vão ficar desempregadas. Tiveram a solidariedade dos seus colegas espanhóis de Saragoça, que fizeram também greve, e de todos os trabalhadores da General Motors Europa, que anunciaram jornadas de luta.
Ontem, em Lisboa, sete a nove mil professores saíram à rua contra mu- danças na sua carreira e no modelo de avaliação.
Dois mundos num mesmo mundo, divorciados nos direitos e nas responsabilidades.
De um lado está quem trabalha para as grandes multinacionais, grupos sem um rosto que seja o "patrão", espalhados por todos os continentes e com um volume de negócios maior que algumas economias do mundo. Têm o poder do seu lado, que usam sem pudor, na lógica fria da linha de custos por unidade produzida. Estão totalmente imunes às relações afectivas entre quem emprega e quem trabalha, já que todos, mesmo os que decidem qual o país onde o desemprego vai aumentar, são empregados de um accionista que não conhecem. É neste universo que sobrevive o homo economicus, racional em absoluto na maximização do lucro e minimização do custo.
Ironicamente, a globalização que fez crescer e facilita a vida destes grupos é a mesma que tem condições para limitar o seu poder. A facilidade de comunicação entre quem trabalha para as multinacionais permite que se aliem, como aconteceu agora na GM, equilibrando um pouco os dois pratos da balança do poder. Não é ainda suficiente, mas está nesse caminho.
Enquanto se vive este violento combate no mundo, os Estados, supostos soberanos, têm de negociar com estes grandes grupos impedindo o aumento do desemprego nos seus países pagando subsídios financiados, obviamente, com impostos.
Estes mesmos Estados ditos soberanos, enquanto empregadores, são na Europa o oposto das multinacionais. No seu universo o poder está (ou tem estado) desequilibrado a favor dos empregados. A greve dos professores em Portugal é apenas um exemplo. Não é pelo emprego, mas pelo estatuto e pelo modelo de avaliação que combatem. A ministra da Educação afirmou que os sindicatos estão capturados por interesses partidários. Mas é muito mais grave do que isso. Na Educação, como noutras áreas, foram os protagonistas do Estado que se deixaram capturar não pelo lucro, como as multinacionais, mas para ganhar eleições. Uns são de facto mais desiguais que outros.