Metamorfoses

O novo filme do realizador Christophe Honoré estreou esta semana nas salas portuguesas. Leia aqui a crítica de Inês Lourenço
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INÊS LOURENÇO (3/5)

Variações do corpo e do amor

Este filme de Christophe Honoré é inesperado. E é-o no sentido em que o registo dos musicais (um pouco à Jacques Demy) tem constituído, apesar das flutuações, a identidade mais direta do seu trabalho. Bebendo inspiração na obra clássica homónima de Ovídio, Metamorfoses - até porque seria incomportável ir além de uma inspiração, dado o tamanho deste poema em quinze partes, que conta mais de duzentos e cinquenta episódios - o olhar de Honoré procura entalhar as histórias de deuses e humanos num cenário contemporâneo, sem que se perca a força das paisagens mais líricas, que aqui convivem com a cidade. Percebe-se a grande ousadia do realizador neste recuo a uma das maiores referências da literatura da Antiguidade Clássica, que inspirou sobretudo a pintura, desde o Renascimento, e que preserva o seu espírito, numa interpretação dos nossos dias. Esse será o principal feito, ao qual se reúne a agradável unidade criada pela música, numa obra naturalmente fragmentada e em permanente mutação. Não são apenas os corpos que sofrem metamorfoses, o próprio texto que está na base é uma transfiguração.

Veja o trailer:

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Título original: Metamorphosis

Realizador: Christophe Honoré

Ano: 2014

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