Golpe de sorte
1.Não vale a pena entrar em delírio criativo. Produzir êxitos virais como o do "skater Hélio" poderia ser um extraordinário negócio, mas é impraticável. Há no vídeo do pobre-diabo de Nossa Senhora do Pópulo, Caldas da Rainha, uma espontaneidade, um desespero e, por conseguinte, uma comicidade que se tornam quase irrepetíveis na ficção, sobretudo na produzida em série. Se alguma coisa estes 17 anos de World Wide Web nos ensinaram - e estes seis anos de YouTube, em particular, vieram confirmar -, é que a realidade é imensa, que no meio dessa imensidão há verdadeiras pérolas a acontecer todos os dias, que essas pérolas podem estar acessíveis no mundo inteiro ao fim de escassos segundos e que, para superá-las, a ficção tem de fazer um esforço hercúleo. Numa palavra: qualidade - mais qualidade do que aquela que, por esta altura, é exigida na televisão. E esta?
2. É tempo de férias, mas nem por isso a televisão por assinatura baixa as armas. Ao longo das próximas semanas, ficaremos a conhecer os desfechos - as contas são da Sapo TV - da terceira temporada de Castle, da primeira temporada de Mentes Criminosas: Conduta Suspeita, da segunda temporada de O Impacto, da sétima temporada de CSI: Nova Iorque, da terceira temporada de Jogo de Audazes e da sexta temporada de Mentes Criminosas. Enquanto a televisão generalista entra numa fase (ainda mais) acéfala, com concursos e programas de variedades feitos à medida de um empobrecimento ponderado, a TV codificada está em verdadeira ebulição. Se em Julho e Agosto não se voltarem a registar quebras nas audiências dos generalistas, então o problema estará no público, não na televisão existente em Portugal.