Rui Veloso

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Nos últimos sete anos houve espaço para colectâneas simples e revisões ao vivo da matéria dada, houve aniversários comemorados com álbuns de tributo e estreias em formato DVD. Houve tudo isso, projectos paralelos e muito mais. Só não houve o prometido novo disco de originais, que era já devido após o longo silêncio de novas ideias que se seguiu a Avenidas, de 1998. O regresso faz-se agora com o pretexto simbólico de uma data A Espuma das Canções, novo trabalho de Rui Veloso e Carlos Tê é editado amanhã, no mo-mento em que a inseparável dupla de criadores de canções assinala as suas bodas de prata.

Espuma das Canções, explica Carlos Tê no documentário guardado no DVD que acompanha a edição especial - há uma outra edição disponível que não inclui DVD nem os dois temas extras -, prende--se com essa ideia de um sedimento que algumas canções deixam no tempo e as prolonga na memória colectiva. "E nós já temos canções que andam por aí a ser cantadas pela boca do mundo há 25 anos", acrescenta Rui Veloso ao DN. O nome foi decalcado de uma outra canção antiga que permanece na gaveta e não consta do álbum. "Lembrámo-nos os dois desse nome ao mesmo tempo, quando estávamos a trezentos quilómetros de distância um do outro. Telefonei-lhe, disse que podia ser um bom título e ele respondeu-me arrepiado que tinha acabado de pensar precisamente no mesmo."

Uma sintonia afinada ao longo de 25 anos de trabalho e afectos divididos, que culmina num disco partilhado ao pormenor. Excepção feita a uma canção incluída na edição comemorativa - com letra de João Monge -, todas trazem assinatura de Tê, que é também responsável maior pela produção de todo o álbum. "Ele escreve, produz e dá montes de ideias musicais. Porque é músico, autodidacta como eu, e partilha todo o meu imaginário de sons e referências. "O processo criativo passou aliás por duas sessões de trabalho conjunto, de cinco dias cada, no isolamento de uma casa no Inverno algarvio, "onde se improvisou um estúdio completo e se decidiu muito do disco".

Chegados ao estúdio a sério, Veloso e Tê convocaram um batalhão de músicos e amigos, "absolutamente essenciais". Uma contagem descuidada da ficha técnica indica que são mais de trinta entradas, incluindo o baixo e a produção de Luís Jardim, as vozes de Sara Tavares e Nancy Vieira, os bandolins de Edu Miranda, as baterias de Alexandre Frazão e o piano de Bernardo Sassetti, que assina também quatro arranjos essenciais para orquestra, interpretados pelas Sinfonietta de Lisboa, dirigida por Vasco Pearce de Azevedo.

O resultado é uma colecção entusiasmada de 16 canções "es-colhidas de um repertório muito maior que se acumulou nestes tempos - e é doloroso ter que deixar canções de fora". Uma colecção pouco preocupada em fixar uma unidade temática. "É uma mistura de muita coisa de que gostamos os dois. Resulta nesta misturada também porque o Tê tem uma escrita muito desigual, está sempre a escrever coisas diferentes. E isso permite-nos espraiar por muitos registos, por muitos estilos diferentes. Diria que é uma viagem pelo nosso imaginário comum, que, apesar de não ter propriamente um conceito, faz sentido e pode ser explicada passo a passo". Proposta aceite (ver peça ao lado).

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