Afeganistão ficou fora do encontro Sócrates/Bush

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Convergência sobre prioridades da UE e dos EUA

José Sócrates tinha-o anunciado na véspera. Iria debater com George W. Bush três questões fundamentais, o Kosovo, o Afeganistão e o Médio Oriente. Mas nos quatro minutos que o primeiro ministro português e o presidente americano dispensaram aos jornalistas na Sala Oval da Casa Branca, o tema Afeganistão nunca foi mencionado por Sócrates, que o ignorou. A única referência à polémica questão surgiu aliás da parte de Bush, mas simplesmente para agradecer o apoio português às intervenções militares americanas no Afeganistão e Iraque... que aconteceu no tempo de Durão Barroso, muito criticado então pelo PS.

De resto, se algum assunto polémico e quente foi debatido nos cerca de 50 minutos que ambos estiveram juntos em audiência , nada transpareceu depois para os jornalistas. Foram palavras de circunstância, sempre em inglês, sobre os temas que se esperavam - à excepção do já citado Afeganistão - Relações Transatlânticas, o Kosovo e o Médio Oriente.

Muito iguais na roupa escolhida para a manhã de segunda-feira, ambos de fato cinzento e gravatas azuis (a de Bush sobre uma camisa azul e de tom mais claro, a de Sócrates de um tom bem forte sobre camisa branca), trocaram elogios e promessas de futuros encontros, que selaram com um aperto de mão para simbolizar a convergência de opiniões e de prioridades da agenda internacional entre a União Europeia e os Estados Unidos. Ficaram contudo ambos sentados nos cadeirões da Sala Oval durante o cumprimento, numa postura formal de quem se encontra, a sós, pela primeira vez.

Para Sócrates, os dois dias passados esta semana nos EUA fizeram com que fosse várias vezes questionado sobre dois temas a que não quis responder, a investigação da Polícia Judiciária no caso Madeleine e as consequências da entrada em vigor dos novos código s Penal e de Processo Penal. Para George W. Bush, que até elogiou a reforma da Segurança Social em Portugal, a actualidade esteve marcada pela detenção do antigo jogador de futebol americano O. J. Simpson, agora sob acusação de assalto à mão armada, a nomeação do novo procurador-geral (controla a máquina judicial do País) Michael B. Mukasey, e o novo livro de Alan Greenspan. Tudo questões sem qualquer reacção da Casa Branca. Eis os temas debatidos e comentados a dois:

Relações com Portugal... e o Iraque

George W. Bush começou por agradecer o apoio português às intervenções militares americanas no Afeganistão e no Iraque, um apoio decidido por Durão Barroso e que o PS de Sócrates tanto criticou na altura. "Quero agradecer ao povo português o apoio dado por Portugal no Iraque e no Afeganistão. Apreciei isso, porque ajudou o povo iraquiano e afegão a terem liberdade", frisou perante o ar impassível de Sócrates. Bush reconheceu ainda que as autoridades políticas portuguesas "não tomaram uma decisão fácil".

Sócrates ignorou os assuntos Iraque/Afeganistão, mas voltou a referir que o presidente americano será "sempre bem-vindo a Portugal" e que os Estados Unidos "são um país amigo".

Relações transatlânticas

O presidente americano começou por revelar que tinha perguntado ao primeiro-ministro português "qual o nível das relações UE/EUA" e que lhe dissera que "eram boas". "Também penso o mesmo. O primeiro-ministro português disse-me que queria trabalhar em estreita proximidade com os EUA. Eu disse que queria trabalhar também em estreita ligação com ele, mantendo uma forte cooperação", declarou Bush.

Sócrates confirmou de seguida. "Penso que não há actualmente nenhum problema no mundo que não necessite da atenção especial e da mediação da Europa e dos EUA". Para o primeiro-ministro "a relação transatlântica está sempre no topo da agenda da UE e de Portugal e é essencial para os Direitos do Homem e para a democracia no Mundo".

Médio Oriente

Bush referiu apenas que o Médio Oriente, tal como o Kosovo e o caso dos direitos humanos em Darfur, eram exemplos de problemas em que a UE e os EUA deveriam trabalhar de "forma mais próxima". Sócrates também foi bastante parco em palavras sobre esta questão, limitando-se a elogiar "o progresso que se está a verificar na região" e a escolha e posterior nomeação do antigo primeiro-ministro britânicoTony Blair para chefiar o "Quarteto".

Kosovo

Este era um dos temas que poderia ser polémico na audiência, já que a administração norte-americana tem uma posição não coincidente com alguns estados membros europeus sobre o futuro do território. Talvez por isso, Bush tenha simplesmente afirmado que a resolução da questão passa por "um trabalho conjunto" com a UE porque é necessário "resolver esses problemas".

José Sócrates insistiu que é necessária "uma Europa forte e unida" para garantir a "estabilidade e segurança mundial" daí a importância do papel dos Estados Unidos.

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