Astérix

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Astérix, o Gaulês, o primeiro livro da série assinada por Goscinny e Uderzo, foi publicado pela primeira vez em 1961. Seis anos depois foi traduzido para português. E depois de amanhã será editado naquela que é a segunda língua oficial de Portugal o mirandês.

A primeira proposta para traduzir as aventuras de Astérix para mirandês data de 2001, quando se assinalavam os 40 anos da série e quando, em Portugal, era ainda a Meribérica a editora responsável pela publicação de Astérix. O professor Amadeu Ferreira foi nessa altura convidado a fazer a tradução "Aceitei com entusiasmo e atirei-me de imediato ao trabalho. Foi um gozo imenso ver aquelas personagens, que eu já conhecia tão bem, a falar mirandês", conta.

Entretanto, com a passagem dos direitos de publicação para a Asa, no ano passado, o projecto atrasou-se mas acabou por ser retomado pela nova editora, agora no âmbito das comemorações dos 45 anos da série. "O Astérix já está traduzido em 101 línguas e dialectos e faz parte da estratégia internacional traduzir a série no maior número possível de línguas. Só no ano passado, em França, publicou-se o Astérix em cinco dialectos diferentes e foi pedido aos vários editores que procurassem, nos seus países, um dialecto ou uma língua minoritária na qual se pudesse traduzir", explica Maria José Pereira, da Asa. A escolha do mirandês pareceu-lhe óbvia, uma vez que esta é a segunda língua reconhecida oficialmente em Portugal (ver texto ao lado), e o projecto foi recuperado com toda a urgência de maneira a publicar o volume ainda dentro do programa de comemorações (que termina em Outubro) e antes da próxima aventura do gaulês, prevista para 14 de Outubro.

Asterix L Goulés terá uma primeira edição de quatro mil exemplares, dos quais três mil serão certificados e numerados. "Não é um número assim tão limitado se tivermos em conta o número de pessoas que falam mirandês", explica Maria José Pereira, acrescentando "A tiragem de Astérix em mirandês não é inferior às outras primeiras edições que temos feito com selo branco, que são as edições comemorativas deste ano". A única diferença é que, provavelmente, desta vez não haverá uma segunda edição.

De resto, a edição em mirandês destina-se tanto aos falantes da língua como aos coleccionadores, que já terão nas suas estantes outras edições igualmente originais em latim (há 23 volumes de Astérix nesta língua), em esperanto (que já tem cinco títulos), no dialecto picard (variante do francês), em kareliano (dialecto finlandês) ou no dialecto de Twents (na Holanda), para referir apenas alguns.

A TRADUÇÃO. Natural de Sendim, Amadeu Ferreira é advogado e professor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Apesar de morar em Lisboa, continua a ser um dos principais responsáveis pela promoção do mirandês, uma vez que é presidente da Associação de Língua Mirandesa, uma associação com sede em Lisboa e que, entre outras actividades, desde há cinco anos organiza concorridos cursos de mirandês. Depois de ter traduzido os quatro evangelhos, Os Lusíadas de Camões, e poemas de Virgílio e Horácio, Amadeu Ferreira encontra-se bastante satisfeito com esta tradução de Astérix para mirandês "É uma banda desenhada muito bonita, mesmo do ponto de vista dos valores. Ali encontramos a amizade entre Astérix e Obélix, a união de um povo, a ideia de que os pequeninos não têm que se vergar perante os grandes, a solidariedade, a superioridade da inteligência do pequenino Astérix sobre a força bruta do grande Obélix. Na banda desenhada temos um pequeno povo que enfrenta os gigantes. O mirandês também é uma pequena língua. Nós nunca tivemos a poção mágica, primeiro porque não precisamos e, depois, porque isto das línguas não vai à força", diz, em jeito de brincadeira.

Traduzir Astérix, o Gaulês para Asterix L Gaulés não foi muito difícil para um conhecedor da língua como ele. "Dificuldades, em rigor, não tivemos", declara Amadeu Ferreira, que, na fase final, contou com a ajuda de mais dois professores de mirandês, Carlos Ferreira e António Santos. O mais complicado terá sido traduzir as onomatopeias, tão utilizadas na banda desenhada. "Porque um cão não ladra da mesma forma em todas as línguas", explica. Em mirandês, não se diz "ão, ão" nem "béu, béu" mas sim "gau, gau". Outro dos desafios foi traduzir as brincadeiras que os autores fazem com o latim. "Os nomes das personagens, por exemplo, terminam sempre em 'ix' quando são gaulesas e em 'us' quando são romanas. E nós tentámos manter essas terminações", explica o tradutor. Na versão mirandesa apenas os protagonistas Astérix e Obélix mantêm os seus nomes intactos. O cantor bardo, conhecido pela sua voz estridente, irá chamar-se Cantadorix, o chefe da aldeia é o Regedorix e aquele romano que, geralmente, é espancado por Obélix será aqui chamado de Marco Sopapus. "Divertimo-nos imenso a fazer esta tradução mas não quisemos desvirtuar o original", diz o tradutor.

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