Uma factura de 3240 euros/ano

Como é que o cidadão financia o Estado? Com uma longa lista de siglas: IRS, ISP, ISV, IVA, etc. São os muitos impostos directos e indirectos que cada contribuinte paga diariamente, para encher os cofres estatais - que esperam embolsar mais de 34 mil milhões de euros este ano (cerca de 3240 euros por cada português). O fiscalista Tiago Caiado Guerreiro critica a pesada carga dos impostos, que crescerá este ano: "Só prejudica quem trabalha e cria riqueza"<br />
Publicado a
Atualizado a

Senhor cidadão, o Governo espera que este ano ajude a financiar o Estado com 3240 euros. E tudo graças a uma longa lista de siglas: IRS, ISP, ISV, IVA, etc. São os diminutivos de apenas alguns impostos directos e indirectos que cada contribuinte paga, em quase todos os actos do dia-a-dia, para engordar os bolsos estatais. Só este ano, o Governo espera amealhar mais de 34 mil milhões de euros através desta via. Feitas as contas a 10,5 milhões de portugueses (número aproximado da actual população nacional), dá 3240 euros anuais pagos por cada um deles.


"Grande parte da receita do Estado deriva dos impostos directos e indirectos", explica, ao DN, o fiscalista Tiago Caiado Guerreiro. Ora essa receita vem de quase tudo aquilo que os cidadãos fazem e recebem da sociedade. Rendimentos (IRC e IRS), despesas (IVA e imposto de selo), consumos (impostos sobre álcool e bebidas alcoólicas, produtos petrolíferos e energéticos ou tabaco), património (imposto de selo e também impostos municipais sobre imóveis e sobre transmissões onerosas), compra e circulação de automóvel... tudo é taxado (ver, ao lado, "Que impostos pagamos?"). Há ainda as taxas presentes em muitas facturas (como nas de água, luz e gás). E até a Segurança Social, "que, para nós, funciona como imposto... porque nunca vamos ter direito a uma reforma justa com aquilo que estamos a descontar", atira Tiago Caiado Guerreiro.


Trabalhar até Maio... só para o Estado


É certo que há alguns analgésicos - "o IRS é subtraído ao salário, através da retenção na fonte, e as pessoas nem se apercebem de que estão a pagar, dói menos"-, mas Tiago Caiado Guerreiro não deixa de lamentar uma tão pesada carga fiscal. "Os impostos existem para prejudicar quem trabalha e quem cria riqueza. Em vez de haver um estímulo para se produzir, trabalhar mais, há uma perseguição a quem cria riqueza. Pior: quem ganha 580 euros já é considerado rico e tem de pagar taxas disto e daquilo!", critica o fiscalista.


"O que eu digo dizem também a OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico] ou a Comissão Europeia. Esta carga fiscal só prejudica o País, só leva a desperdício e aos chamados jobs for the boys. Temos um Estado pesadíssimo e nós somos pagantes", continua o advogado. Depois conclui: "O nosso sistema fiscal explica porque a economia portuguesa será a terceira pior do mundo em 2011 [segundo um estudo da revista The Economist, que prevê um crescimento negativo de 1,2% em 2011]."


Carga fiscal a aumentar


Na verdade, 2011 não vê a carga fiscal diminuir... mas sim aumentar. Segundo o Orçamento do Estado, o Governo espera embolsar 34 026 milhões de euros, entre impostos directos (IRS, IRC e outros: 14 193 milhões) e indirectos (IVA, impostos de selo, produtos petrolíferos e outros: 19 833 milhões). A confirmar-se, o valor significa um aumento de 2000 milhões de euros relativamente à estimativa do que os impostos terão rendido em 2010 (32 039 milhões) e um crescimento ainda maior face ao ano anterior. Em 2009, o Estado amealhou 30 652 milhões em impostos (média de 2905 euros por habitante). Em relação à factura para este ano, o valor cresce 335 euros.


E onde é que cresce a factura dos portugueses com os impostos? Desde logo, com o IVA. À subida de dois pontos percentuais na taxa máxima (de 21% para 23%) junta-se cortes nas deduções e benefícios fiscais trazidos pelo novo ano. Mas os PEC I e II, apresentados em 2010, já tinham trazido aos aumentos de IRS (a partir do 2.º escalão e criação de um escalão com taxa de 45%) e IRC (2,5%).


Recibos verdes muito penalizados


Quem sofre ainda mais com o aumento da carga fiscal são os trabalhadores precários, como os jovens que ganham a recibos verdes. Isto porque, além das subidas nos impostos, o novo Código Contributivo aumenta a percentagem mensal que têm de pagar à Segurança Social. Entre IRS e Segurança Social, um "recibo verde" que ganhe mil euros leva para casa apenas 598. Nem isso. Como se verifica nos cálculos que o DN fez (ver infografia), após pagar alguns outros impostos, os indirectos, vê ainda serem subtraídos 136 euros. Em vez de mil ganha 462.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt