América

1- "Hello Freedom Fighters", foi assim que o reformado Colonel Perkins, do Partido Republicano, candidato ao Congresso dos Estados Unidos pelo Estado da Virgínia, saudou as pessoas apinhadas no pavilhão desportivo duma universidade em Fairfax. Lá dentro estavam mais de dez mil pessoas e cá fora estariam outras tantas. Esperaram muitas horas em filas infindáveis, debaixo dum frio de rachar, sujeitas a uma revista pior do que a dos aeroportos, para poder saudar os candidatos do Partido Republicano, sobretudo aquele que queriam ver como Presidente dos Estados Unidos, Mitt Romney. Já trazia comigo a enorme constipação que tinha apanhado no dia anterior durante o comício de Obama em Bristow. Mais gente, muito mais frio, mas o mesmo entusiasmo.
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Sou suficientemente antigo para me recordar da capacidade de mobilização dos partidos para comícios aqui em Portugal. Mas já há muito que a única maneira de arregimentar pessoas para eventos do género é transportar meia dúzia de pessoas de cá para lá, pagar-lhes uns lanches, enfiar-lhes umas bandeiras na mão e mandá-las gritar quando as câmaras de televisão aparecem. Agora as grandes manifestações são sempre contra alguma coisa e, se se quiser mesmo garantir a presença de muita gente, a fórmula ideal é fazê-las contra os políticos.

Nesta campanha, nos EUA, assisti mais uma vez a grupos de pessoas, a esmagadora maioria sem ligação a partidos, a organizarem reuniões nas suas casas para telefonarem a amigos e conhecidos para os convencer a votar no seu candidato; homens e mulheres que no intervalo dos seus trabalhos ou nas suas folgas iam de porta em porta fazer campanha. Gente mobilizada por valores, ideais, interesses, claro está, mas que acredita inabalavelmente no seu papel na democracia, na sua capacidade de mudar as coisas através do seu voto e da sua acção na comunidade.

Para quem está habituado a campanhas políticas em Portugal é quase um alívio não assistir a ataques aos políticos, sobretudo pelos próprios políticos (não tive coragem de dizer a ninguém que em Portugal há políticos que fizeram a sua carreira a dizer mal da sua própria profissão). Quando muito assistimos a críticas aos políticos de Washington não por serem políticos mas pelo facto de a sua quantidade na capital federal ser quase uma questão ideológica. Sim, há ataques baixos, propaganda de fazer corar um carroceiro, mentiras, promessas lunáticas, mas não há quem não conheça ao que vem cada um dos candidatos nas questões essenciais.

A democracia americana tem muitos problemas: a eterna questão da desigualdade, o sistema judicial, o sistema prisional, o racismo latente e patente, a demasiada força do dinheiro nas eleições, a profusão de referendos e muitos, muitos outros. Mas a verdade é que a democracia na América está de boa saúde e recomenda-se.

2 - Obama é o primeiro político importante a ser apanhado pela crise e que consegue ser reeleito.

Os Estados Unidos estão em pior situação do que estavam há quatro anos: mais desemprego, mais endividamento, a economia em pior estado. Mesmo assim o povo americano deu-lhe mais um mandato. Não faltarão explicações: a crise de identidade do Partido Republicano perdido entre o Tea Party, os fundamentalistas religiosos entre outros loucos semelhantes e os moderados que, aparentemente, estão reféns dessa gente perigosa; os que falam de demografia ( confundindo sexo e raça, por exemplo, com opções ideológicas, enfim...); o papel de Bill Clinton na campanha lembrando os recentes anos de abundância. Os especialistas gastarão rios de tinta a tentar explicar o que está por trás da vitória de Obama, mas há algo que ninguém pode negar: Obama ganhou tendo executado políticas de resposta à crise radicalmente diferentes das europeias, e prometendo insistir nelas.

O povo americano mostrou que é nessas políticas que acredita e, em democracia, o povo tem sempre razão. Mesmo quando não tem.

3 - A palavra de ordem nas campanhas dos dois partidos foi a mesma: empregos. Não estive por cá nos últimos tempos mas segundo o que li há gente no governo a dizer que despedir 50.000 pessoas é de caras. Mas que mal deu nesta gente.

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