Mar do Sul da China

Publicado a
Atualizado a

A boa notícia é que vamos voltar a olhar para mapas, mares, cordilheiras e arquipélagos como instrumentos essenciais de análise do que acontece para lá da Europa. Não quero desvalorizar os dilemas do nosso umbigo continental, mas acontece que há mundo para lá de Atenas. A má notícia é que na geografia mais importante das próximas décadas, a rivalidade disparou e, reza a história, que pode gerar conflitualidade. Falo do Mar do Sul da China. A "ascensão pacífica" de Pequim está a dar lugar à clarificação da sua hegemonia regional. Assente num assombroso crescimento económico para condicionar politicamente a vizinhança, o inverso pode revelar que o arrefecimento da economia abre espaço a vazios de influência. Mais: com 60% da população a viver na faixa costeira, a China precisa de recursos energéticos para satisfazer a bulimia. É aqui que entra o Mar do Sul da China e é aqui que a disputa levou, há dias, a um facto inédito: pela primeira vez em 45 anos, a ASEAN não chegou a consenso sobre um comunicado final. Vietname, Filipinas ou Malásia reclamam soberania marítima; o anfitrião Camboja fechou os olhos às pretensões em favor do aliado chinês; e o chefe da diplomacia filipina considerou as pretensões hegemónicas de Pequim uma "ameaça à paz e segurança na Ásia-Pacífico". Os investimentos navais chineses começam a alarmar a região e, à medida que cresce este sentimento, aumenta o sentido de protecção dado pelos EUA. É muito interessante ver como a Birmânia se aproximou de Washington e como passou despercebida a parceria criada na Cimeira de Chicago entre a NATO e a Mongólia - zona tampão entre Rússia e China. A competição asiática está ao rubro, aumentará de tom se as organizações regionais não forem capazes de multilateralizar soluções duradouras. Washington, Pequim, Deli, Tóquio, Moscovo ou Camberra, vão-se posicionando. Há vida para lá da Europa.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt