Bali

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O bárbaro ataque a Bali tem uma incontornável simbologia na mecânica da guerra contra o terrorismo. O grupo fundamentalista islâmico que fez explodir bombas na estância turística já fustigada há três anos demonstrou, ao atacar no mesmo sítio e da mesma maneira, que manteve a sua capacidade operacional, como todos os que actuam no Iraque e em outros pontos de globo, praticamente intocável. A ousadia de atacar no mesmo sítio, tal como a de atacar no Iraque, Egipto, Arábia Saudita, Madrid, é apenas mais uma confirmação de que não se vêem sinais de saída do atoleiro.

Este ataque cobarde, como todos os dos últimos quatro anos e os de todos os dias no Iraque, comprovam a inutilidade, aliás histórica, da vingança enquanto instrumento de justiça. Da vingança americana pelos ataques às Torres Gémeas e ao Pentágono, porque este terrorismo não se combate com guerras militares, como os EUA têm vindo duramente a aprender no Iraque, mas também da vingança do terrorismo islâmico contra o Ocidente, porque o terror nunca dominará um estilo de vida profundamente enraizado na liberdade.

As bombas de Bali procuram empurrar as populações para o medo. Para o medo de andar de metro, de comboio, de avião, de viajar de férias, de sair de casa para ir trabalhar todas as manhãs. Elas procuram uma solução clássica empurrar os povos para a mudança de dirigentes políticos mais intransigentes, na esperança ilusória de evitar novos ataques. Nas actuais circunstâncias, sabe-se que isso não acontecerá. Não ocorreu nos EUA nem em Inglaterra, onde Bush e Blair foram reeleitos.

As bombas dos terroristas não vencerão povos que já deram mostras de uma coragem e de uma dignidade a toda a prova. Mas elas são sempre a pior prova do impasse em que nos encontramos. As sociedades democráticas estão confrontadas com um terrorismo massificado a que não sabem responder. O mundo transformou-se em teatro de operações, sem fronteiras definidas, que tanto visa os governos como as populações inocentes, ou a própria alma e essência da democracia, que é a liberdade. É uma guerra invisível, não declarada, em que o alvo somos todos. Ora, o que se retira destes últimos quatro anos e que as investigações sobre os atentados de Madrid e Londres vieram também provar é que é possível, no campo repressivo, dar uma resposta policial e não militar. A acção policial é determinante na repressão das células terroristas e a cooperação entre Estados decisiva, em particular no bloqueio das fontes de financiamento do terrorismo. Campo em que, suspeita-se, muito pouco progredimos.

As respostas mais fortes ao terrorismo,

no entanto, estão no campo político e são a manutenção de uma ideia de defesa e de justiça dentro da legalidade. Só isso evita as ignomínias próprias das soluções militares puras e duras, como Guantánamo ou Abu Ghraib. Isso e a determinação, a força, a coragem de querer sempre viver em liberdade, como amplamente nos demonstraram os espanhóis nas manifestações do 11 de Março.

Está aí a verdadeira luta contra o terrorismo.

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