Países do BIRC vão determinar relações EUA/Europa
"Neste momento, e ao contrário do que sucedia num passado recente, assistimos à proliferação de novas potências. Não sabemos em que extensão esses novos poderes vão afectar as relações entre a Europa e os Estados Unidos", referiu, numa referência aos designados "novos países emergentes".
Docente no Instituto Universitário Europeu em Florença, Philippe Schmitter moderou um debate sobre potências emergentes (Brasil, China e Índia) e as suas relações com a NATO, um dos temas abordados no II Fórum Roosevelt, iniciado quarta feira e organizado pela Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
Um fenómeno que também significa uma alteração fundamental "não apenas nas relações de poder mas ainda da forma geral como o capitalismo funciona enquanto sistema mundial", defende.
Filho de pai suíço e mãe francesa, Philippe Schmitter nasceu nos Estados Unidos "devido às contingências da II Guerra Mundial", mas regressou à Europa após o final do conflito. E possui uma relação particular com Portugal.
"Publiquei um livro sobre o corporativismo em Portugal durante Salazar. Nos EUA, era a única pessoa a trabalhar sobre Portugal antes da revolução (do 25 de abril). Comecei essa investigação em 1969, porque tinha trabalhado no Brasil e na Argentina", informa.
Especialista em União Europeia e questões de democratização na América Latina, Europa de leste e médio oriente, Philippe Schmitter prognostica que o Brasil poderá desempenhar uma dupla função, "uma força de balanço" entre a Europa e os Estados Unidos. "Mas a China, e talvez da Índia, poderão afirmar-se como forças que vão fomentar a divisão. Serão rivais em termos comerciais, e talvez a nível político e de segurança".
Perspectiva-se assim o "impacto decisivo" destes países, que se tornaram "centros independentes de acumulação", nas relações entre os EUA e a Europa. "No futuro não vamos poder falar apenas nos EUA e Europa, teremos de incluir nessa discussão este grupo, ou pelo menos manter uma atenção muito particular a este grupo", assegura.
A sua abordagem é crítica face às análises dos especialistas "que quando falam em relações transatlânticas se referem às que são determinadas em primeiro lugar pelas relações militares, sejam ou não aliados".
Na perspectiva do investigador, a questão é mais complexa. Os países do BIRC nunca poderão ambicionar equiparar-se ao poderio militar dos Estados Unidos, mas possuem outras armas.
"A ameaça destes países é outra. O principal exército na China está provavelmente nas universidades. A longo prazo o futuro da China, e destes países, vai ser sobretudo determinado pela qualidade, que já é muito elevada, das suas universidades e dos seus centros de investigação", vaticina.