Cancro da próstata

Na Europa são diagnosticados anualmente cerca de três milhões de novos casos de cancro da próstata, o tumor mais frequente no sexo masculino. Os tratamentos disponíveis permitem elevadas taxas de cura - na casa dos oitenta por cento, quando o tumor é detectado numa fase em que está localizado. Ainda assim a palavra de ordem continua a ser o diagnóstico precoce.
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Embora temido pelos homens, o cancro da próstata, hoje em dia, já não é fatal, desde que seja diagnosticado numa fase prematura (tumor localizado). «A identificação precoce destes tumores permite aumentar a cura para valores na ordem dos oitenta por cento», diz Miguel Ramos, urologista do Hospital de Santo António, no Porto. Mas esta percentagem depende «não só do tipo de tumor», mas, sobretudo, da atitude vigilante do homem que, a partir dos 50 anos, deverá consultar anualmente o médico assistente.

Hoje, sabe-se que, em alguns grupos de risco, o diagnóstico deverá ser realizado mais cedo - a partir dos 45 anos -, caso haja registo de cancro da próstata na família ou quando os homens pertencem à raça negra. «Começam inclusive a surgir recomendações para fazer um doseamento do PSA aos 40 anos», nota o urologista.

O toque rectal (palpação da próstata que permite identificar alguma alteração na consistência desta glândula) e a análise de PSA (uma proteína produzida pela glândula da próstata, cuja alteração dos valores poderá sugerir a presença de um tumor) são, actualmente, duas técnicas que permitem diagnosticar precocemente este cancro.

Caso haja alguma suspeita, através da biopsia, um exame que consiste na recolha de tecido da próstata, será possível confirmar a presença de um tumor. Contudo, este exame só é efectuado quando os sinais clínicos, juntamente com o toque rectal ou o PSA (análise obtida através de uma amostra de sangue), apontam para algum indício de cancro.

Evolução lenta e silenciosa

Segundo o urologista Miguel Ramos, uma das características do cancro da próstata é a ausência de sintomas numa fase inicial, «permitindo que a doença evolua silenciosamente». Por esta razão, a classe médica recomenda que, a partir dos 50 anos, os homens devem ser submetidos a um exame regular.

Havendo uma carga genética, esta avaliação deverá ter início cinco anos mais cedo, já que a existência prévia de dois ou mais familiares de primeiro grau com tumor da próstata aumenta entre cinco e dez vezes o risco de cancro. «Há uma relação directa com a componente genética», afirma o médico. «Os efeitos ambientais são mais difíceis de provar. Existe a teoria de que a ingestão continuada de gorduras animais poderá aumentar o carcinoma da próstata. Também há estudos que sugerem que o consumo de licopenos, um antioxidante presente no tomate, poderá prevenir o cancro da próstata.»

Tratamentos personalizados

O médico informa que, hoje em dia, há cada vez mais soluções terapêuticas para o cancro da próstata, ajustadas ao perfil de cada doente. Para os casos em que o tumor se encontra localizado (tumor de pequenas dimensões no interior da próstata), a cirurgia (o termo médico é prostatectomia radical, que significa a remoção total da próstata) «tem elevadas taxas de sucesso».

Há a possibilidade de realizar a radioterapia externa ou braquiterapia, um procedimento que consiste na colocação de sementes radioactivas no interior da próstata. De acordo com Miguel Ramos, ambas as técnicas têm percentagens de cura semelhantes, embora «a longo prazo os efeitos laterais possam ser diferentes».

«Existem outros tratamentos com taxas de cura inferiores, mas que podem ter alguma vantagem por serem menos invasivos, como o HIFU e crioterapia. As técnicas fotodinâmicas tratam parcialmente a próstata mas corremos riscos de não tratar integralmente a zona afectada. No entanto, do ponto de vista de efeitos secundários, pode trazer benefícios.»

E depois do cancro?

Miguel Ramos explica que todos os procedimentos usados para o cancro da próstata podem ter implicações a nível urinário e sexual. «A próstata é um órgão parcialmente responsável pela continência, pelo que, ao ser retirado, o risco de incontinência aumenta. Mas, com as tecnologias que se têm desenvolvido, ao fim de algum tempo de tratamento muitos doentes recuperam da incontinência. Há um pequeno grupo de doentes que fica incontinente. Porém, há técnicas que permitem corrigir este problema.»

Numa fase avançada da doença, em que o tumor se disseminou a outros órgãos (particularmente os ossos), a hormonoterapia é o tratamento de eleição. Estes medicamentos inibem ou bloqueiam a produção de testosterona - uma hormona masculina que «alimenta» o crescimento do tumor da próstata - e diminuem o volume tumoral. «O problema é que passando algum tempo os doentes podem tornar-se resistentes a este tratamento E quando o tumor se torna hormono-resistente, as células cancerígenas continuam a proliferar.»

Neste momento a quimioterapia entra em acção como tratamento de segunda linha. «Com este tratamento conseguimos prolongar a vida do doente. Temos várias armas para limitar a progressão da doença. Hoje em dia é possível fazer tratamentos de terceira linha com fármacos orais, em casa, que, além de mais cómodo, têm menor toxicidade do que a quimioterapia convencional.»

Outras doenças da próstata

Hiperplasia benigna da próstata (HBP): embora seja frequentemente confundida com cancro da próstata, a HBP é uma condição benigna que se caracteriza por um aumento do volume da próstata. Esta patologia apresenta essencialmente sintomas do tracto urinário: sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, jacto fraco, maior frequência em urinar. Os medicamentos disponíveis relaxam a próstata e facilitam o fluxo urinário ou diminuem o tamanho da próstata. «Também poderá ser necessário intervir cirurgicamente por via aberta ou endoscópica removendo a porção da próstata que causa obstrução ou através do laser, que destrói o tecido prostático», esclarece Miguel Ramos.

Prostatite: é um processo inflamatório da próstata que, para além de sintomas semelhantes aos da HBP, podem ser acompanhados de dor, sobretudo no início e no final da micção. Esta situação poderá ser tratada por intermédio de antibióticos.

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