Empenhado ou incompetente: sabe o que pensam de si?
Está a dar o máximo de si? Ou já baixou os braços porque
percebeu que nada do que fizesse podia melhorar a sua vida
profissional - e se mais ninguém se
esforça, porque há-de ser você a sacrificar-se? Afinal, todos
sabem bem do que você é capaz. Não precisa de estar sempre a
mostrar o seu valor.
Bem, talvez não haja necessidade de se matar a trabalhar, mas
correr aqueles quilómetros finais com empenho extra só quando já
está quase tudo perdido não é sinónimo de fazer tudo o que está
ao seu alcance para melhorar o desempenho da empresa e a sua imagem
dentro dela. É a consistência dos seus comportamentos que conta, no
final de contas, para a forma como o avaliam. Mas até o verem como
é, um passo em falso pode estragar tudo sem sequer perceber.
Como explica a Harvard Business Review (leia aqui), a maioria das
pessoas está errada sobre a forma como o resto do escritório a olha. Pode convencer-se que ninguém repara na forma como finge
estar ocupado quando não tem vontade de trabalhar ou acreditar
que todos os olhos estão postos em si quando dá o litro para
conquistar um cliente importante, mas a verdade não é bem assim. O
reconhecimento resulta de um processo complexo de observação e
interpretação de comportamentos que não se resumem à sua forma de
trabalhar e são influenciados pela mentalidade colectiva dos que o
rodeiam.
Normalmente, as entidades colectivas não pensam, antes reagem, copiando as atitudes dos elementos que
consideram de referência. E mais do que isso, radicalizam: se alguém
chamou a atenção para um dia em que saiu do escritório logo a
seguir ao almoço, num abrir e piscar de olhos vai ser opinião comum que você é um baldas. Se o patrão lhe concedeu alguns minutos da sua atenção,
corre o risco de pensarem que você está feito com os chefes e anda a espiar os
colegas. Ou se o viram revoltado com os cortes
salariais impostos no mês passado pode ser apontado como
sindicalista militante.
É possível argumentar que não é uma ideia, um comportamento ou
uma opinião que o define, mas se tiver o azar - ou a sorte - de
estar sob observação da entidade colectiva e especialmente dos seus membros
dominantes num determinado momento, a verdade é que pode
mesmo ficar preso a uma fama que não lhe faz justiça. Para o bem ou para o mal. E a partir
daí, a partir do exacto instante em que lhe colam a etiqueta, terá
dificuldade em mudá-la, independentemente de quão empenhadamente se
esforce.
Então como assegurar-se de que o que pensam de si é justo? Antes
de mais, pare de tentar agradar a toda a gente - nunca o conseguirá
e no processo de tentativa vai despender uma energia essencial a
cumprir o que realmente importa. Concentre-se antes em dar o melhor
de si. Empenhe-se em cada tarefa e orgulhe-se de
cada conquista, por mais pequena que seja. Cada vitória é
importante para o sucesso final. E em vez de andar sempre preocupado
com o que os outros pensam de si, esforce-se por não falhar perante
a única pessoa que não deve desiludir: você mesmo.
Se tem por hábito ser educado e por princípio trabalhar de forma
irrepreensível, não deixe que a má criação de um colega altere a
sua personalidade - não tem de gritar só porque gritam consigo -
nem que a letargia reinante o contagie. Ou correrá o
risco de se tornar em mais um elemento da multidão, sem coisa alguma
que o distinga - sem pensar, interpretar e construir as suas
próprias ideias.
Em vez de reagir a quente, faça um esforço por se pôr no lugar
dos outros. O colega do lado está de trombas e já pôs a secretária
a chorar com os seus insultos? Responda-lhe calma e educadamente -
afinal, você desconhece a razão para tamanha má disposição e até pode existir uma mais ou menos legítima. Ofereça-se para ajudar ou
simplesmente para ouvi-lo. Lembre-se que um terço do seu dia é
passado no escritório, logo só tem a lucrar tornando o ambiente o
mais harmonioso possível. E num escritório onde todos se dão bem,
é mais difícil nascerem boatos biliosos.
É você próprio que está chateado que nem um peru porque não
há meio de conseguir desbloquear um problema pessoal? Engula os
gritos e ponha um sorriso na cara. O seu trabalho e os seus colegas
não têm a culpa do que lhe corre mal e não devem ser alvo do seu
mau humor. E essa atitude pode até ajudá-lo a esquecer o problema
por umas horas e a descobrir a solução onde e quando menos espera,
simplesmente por deixar de empreender na questão.
Por fim, aja com justiça e nunca perca a sua capacidade de
análise nem se deixe levar por ideias que não são as suas. No
final do dia, o mais importante é ser coerente consigo próprio. Se
é competente, empenhado e respeita aqueles que trabalham consigo,
eventualmente eles vão perceber que em si as etiquetas não colam.
Chefe de redacção adjunta
Escreve à segunda-feira
Escreve de acordo com a antiga ortografia