EDP: A empresa que todos querem

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De todas as privatizações que o Estado tem de realizar por imposição do memorando assinado com a troika, a da EDP é uma das mais relevantes. Não só está à venda uma participação considerável - 20,9% - como se trata de uma empresa apetecível no mercado. Tem mais de 50% dos seus resultados fora de Portugal, uma presença forte no Brasil e lucros anuais que superam os mil milhões de euros. Além disso, tem um projecto de três mil milhões de euros nas barragens e é a terceira maior empresa de energias renováveis do mundo e depois, neste momento, é das poucas empresas do género à venda na Europa. A eléctrica nacional é, por isso, uma das mais cobiçadas empresas da Europa e até está desvalorizada - já caiu cerca de 4% desde o início deste ano - valendo pouco mais de oito mil milhões de euros. Não é por isso de admirar que todos os dias surja um novo interessado em comprar a participação que o Estado ainda detém na EDP. Aliás, se a privatização fosse hoje e os 20,9% fossem vendidos em partes, já não havia que chegasse para todos. Só a Eletrobras e a China Power querem, cada uma, 10%. Saiba quais são as empresas interessadas e que vantagens trariam para a empresa e para Portugal. Uma curiosidade: a maior parte das empresas são controladas pelos respectivos Estados. EletrobrasA empresa, que é controlada em mais de 50% pelo Estado brasileiro, é a única cujo interesse está confirmado. Apresentou uma carta à Parpública - a entidade que gere a participação do Estado - a demonstrar interesse em comprar 10% do capital da EDP. Contudo, se se confirmar a intenção do Governo de vender os 20,9% em bloco - como noticiado pelo Jornal de Negócios na semana passada - a Eletrobras pode ser forçada a desistir da corrida. Contudo, de todas as empresas interessadas em entrar, esta seria a que levantaria menos problemas, principalmente dentro da empresa. O CEO da EDP, António Mexia, já fez saber que a entrada da Eletrobras "fazia sentido" porque já tem parcerias com a EDP no Brasil. Além disso, uma vez que não há activos em comum na Europa (aliás, esta aquisição seria a porta de entrada na empresa brasileira), não haveria quaisquer problemas de concorrência, pelo que a empresa não seria retalhar a empresa, vendendo activos. RWENa sexta-feira passada, o Público noticiou que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, teria dado indicações à Parpública para vender os 29,9% da EDP à empresa alemã RWE. O Governo não confirma nada e a Parpública disse ao Dinheiro Vivo que o modelo de privatização ainda não está concluído. Além disso, a RWE também não fez qualquer demonstração de interesse oficial. Sabe-se apenas que esta é uma das maiores eléctricas da Europa, detida em mais de 21% pelo estado alemão, e que conta também com activos na área do gás, das renováveis e até do nuclear. Na área da distribuição é a maior na Alemanha, Holanda e Reino Unido. Além disso, não tem parcerias conhecidas com a EDP, mas em 2001 disputou a compra da Hidrocantábrico com a eléctrica nacional. Acabou por ser a EDP a comprar e hoje a Hidrocantábrico é a HC Energia, a participada da EDP para Espanha. O seu interesse na EDP é o mesmo que o de qualquer outra empresa europeia, principalmente se a venda for dos 20% em bloco. Isto porque, com 20% é mais fácil atingir o controlo da empresa. Contudo, a sua entrada, com um posição tão relevante, pode significar o fim da EDP como é conhecida hoje porque a RWE pode vender activos para se focar naquilo que realmente lhe interessa. Segundo os analistas de mercado contactados pelo Dinheiro Vivo, o que interessa aos accionistas é o negócio da geração e produção de energia, pelo que a parte de distribuição poderia ser a primeira a ser vendida. Aliás, já não é a primeira vez que se fala em vender IberdrolaQuando os estatutos da EDP blindaram o direito de voto a 5%, a Iberdrola tinha perto de 10% da EDP e acabou por baixar a sua participação para 6,79%. É por isso que, desde que a privatização foi anunciada, é apontada como uma das principais interessadas em reforçar na EDP. O CEO da empresa espanhola em Portugal, Joaquim Pina Moura, insiste em não comentar. O interesse é o mesmo que o de qualquer outra empresa europeia: o de crescer por aquisição num país onde já tem actividade. Contudo, exactamente por já ter presença em Portugal, se a Iberdrola se posicionar para ficar com os 20,9% pode levantar questões de concorrência e, consequentemente, levar a que a EDP seja retalhada. Contudo, por já estar em Portugal na área da distribuição de energia ao cliente final, a Iberdrola pode ter interesse em ficar com essa parte da empresa. É, alías, no caso de entrar uma empresa europeia que mais se coloca a questão dos preços da electricidade. Em teoria, se uma empresa estrangeira controlar a EDP, a conta da luz pode aumentar, contudo, os analistas do sector consideram que os aumentos não serão para níveis muito elevados e que, no limite, podem mesmo ser revistos em baixa pelas outras empresas do mercado porque haverá mais concorrência. SonatrachA empresa argelina foi uma das primeiras a mostrar o seu interesse em reforçar na EDP, mas a verdade é que não precisava de esperar pela privatização para o fazer. A Sonatrach tem 2% da EDP e, pelos estatutos antigos, podia ter até 5%. A partir de 25 de Agosto, data em que será votado o fim dos direitos especiais e a passagem dos direitos de voto para 20%, a Sonatrach poderá reforçar ainda mais na elécrica nacional, mas a verdade é que nunca demonstrou ter um papel de relevo na EDP, com quem, aliás, uma parceria em Espanha. China Power Internacional (CPI)Foi uma das últimas empresas a querer participar no processo de privatização, para ficar com uma posição de 2,5% a 5%, contudo, segundo o Diário Económico de segunda-feira, a empresa de Hong Kong já estará a negociar uma posição de 10%. Mais uma vez, este interesse pode sari gorado se se confirmar a intenção de venda em bloco dos 20,9%. Ao contrário das empresas europeias, o interesse da China Power não é considerado hostil até porque as duas empresas já são parceiras. O ano passado assinaram um acordo para projectos futuros na Ásia e outros mercados e logo nessa altura ficou em aberto a entrada no capital da EDP. As renováveis podem ser um dos activos que mais desperta a atenção da CPI. IPICO International Petroleum Investment Company é um fundo do Abu Dhabi, detido maioritariamente pelo Governo, que já dete"m 4% da EDP. A sua participação é, até agora, financeira, o que por norma interessa mais a empresas deste género, mas nunca se descartaram parcerias.

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