Mais gastos e contas para pagar do que dinheiro no bolso. Esta é a perceção da maioria dos portugueses que afirma não ter meios para suprir as despesas diárias e para quem as restrições orçamentais se figuram como um dos principais obstáculos ao consumo, revelam os dados do estudo Barómetro Europeu 2025 do Observador Cetelem cedidos ao DN.Três em cada quatro cidadãos nacionais assume ter dificuldades financeiras e três em cada cinco diz mesmo não conseguir cobrir as suas necessidades básicas - embora consigam, nalguns casos, adotar estratégias de mitigação Já 18% dos participantes em Portugal admite não só a incapacidade de pagar os encargos essenciais, como também a ausência de qualquer alternativa para enfrentar essa situação.“59% dos inquiridos afirma que não consegue fazer face às suas necessidades básicas, mas desenvolve estratégias que lhes permite dar resposta a esse desafio. Em Portugal 18% dos inquiridos consideram que não têm dinheiro para satisfazer as suas necessidades básicas, o que quase equivale à percentagem de pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza”, aponta o estudo.A análise, conduzida em 10 países sobre o consumo na Europa a perto de 11 mil inquiridos, coloca Portugal na liderança da tabela como o país onde mais cidadãos referem sentir falta de dinheiro (77%). As restrições orçamentais que travam as despesas quotidianas resultam num sentimento generalizado de deceção: 86% dos europeus afirmam que já ter sentido frustração por não conseguirem gastar como gostariam. Neste indicador, Portugal posiciona-se em segundo lugar, apenas atrás da Roménia, com 91% dos inquiridos a reconhecerem a frustração face à escassez de orçamento.“A Roménia, Portugal e a Polónia são os países em que a insatisfação é mais acentuada, enquanto na Bélgica, França e Reino Unido a frustração é menos percetível”, detalha o Barómetro Europeu de Consumo. Quando questionados sobre o que fariam em primeiro lugar se recebessem uma quantia inesperada de dinheiro, 84% dos portugueses afirma que optaria por poupar, enquanto apenas 16% manifestou a intenção de gastar. Neste contexto, Portugal apresenta a mais elevada taxa de intenção de poupança e a mais baixa de intenção de consumo entre os países europeus. Neste campo, as intenções de consumo dos portugueses registam uma evolução que revela maior prudência face ao ano anterior: apenas 39% dos inquiridos perspetiva gastar mais durante este ano, uma descida significativa em relação aos 48% registados em 2024. “Este cenário de cautela manifesta-se num contexto de pessimismo generalizado, em que os portugueses, a par dos romenos, se revelam entre os mais apreensivos da Europa. Em Portugal, a inflação tem vindo a diminuir de forma assinalável, mas a percepção dos consumidores e os efeitos persistem: 61% dos portugueses ainda percecionam um aumento significativo dos preços, um valor elevado, embora inferior aos 81% registados no ano anterior. O impacto dos preços da alimentação e da energia ajudam a explicar esta perceção, sobretudo entre as famílias com rendimentos mais baixos”, esclarece ao DN o diretor de marketing do Celetem, Hugo Lousada. .Cautela: europeus querem poupar mais, portugueses lideram.Portugal volta a destacar-se no panorama europeu no que respeita também às intenções de poupança. Com 65% dos portugueses a afirmar que pretendem poupar este ano - um valor 10% acima da média europeia - o país posiciona-se ao lado da Roménia e do Reino Unido como um dos que mais pretende colocar dinheiro de lado. No conjunto dos 10 países as intenções de poupança estão ao nível da pandemia. “Esta atitude cautelosa prevalece e pode ter origem na intenção de não comprometer o futuro e de manter uma certa margem de manobra financeira numa altura em que os défices públicos atingem valores recorde em alguns países, o que pode vir a provocar aumentos de impostos que terão um efeito negativo no poder de compra.”, elucidam as conclusões do Barómetro Europeu 2025 do Observador Cetelem. A prudência é palavra de ordem e em linha com a intenção de poupar surge também a expetativa de refrear o consumo. 57% dos europeus não tencionam gastar mais este ano. Os britânicos são os que estão mais dispostos a gastar uma maior quantia, enquanto os suecos estão relutantes em abrir a carteira. .Empréstimos de particulares registam em 2024 maior subida em 16 anos