TEDx Marvila. Vamos afinar a arte de sermos humanos?
Num mundo onde as inovações tecnológicas se sucedem à velocidade da luz e a inteligência artificial já faz parte do quotidiano será que nos estamos a esquecer de ser humanos? É um pouco esta a proposta da primeira edição da TEDx Marvila, a acontecer no dia 1 de março, com o mote “A arte de ser humano”. Com um painel de oradores a falarem de quase tudo, desde filosofia, comunidade e saúde mental a desenvolvimento de lideranças, sem esquecer a arte, “fiz mesmo questão de não aceitar intervenções sobre tecnologia”, disse a fundadora desta iniciativa, Anel Imanbay, em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo.
“A tecnologia é, sem dúvida, uma ferramenta de progresso, mas o objetivo deste evento é mesmo fazer-nos regressar (ou avançar) para aquilo que é realmente central, que é desenvolver a empatia, a criatividade e a conexão”, disse a empreendedora, natural do Casaquistão, mas residente em Lisboa, e com trabalho na área de projetos comunitários, mas também em grandes multinacionais como a Google ou a Samsung. Afinal de contas, isto de ser humano, “para além do enorme potencial que nos oferece, também nos traz responsabilidades”, lembra a empresária.
Depois de já ter passado por Lisboa, a ‘marca’ de palestras mais conhecida no mundo volta este ano à capital, mas com nova morada, no Convento do Beato, em Marvila, e será a primeira internacional a decorrer em inglês (embora com tradução simultânea garantida pela app da iniciativa). Dentro do espírito TEDx, o evento do próximo fim-de-semana pretende “inspirar, desafiar e potenciar ligações”, mas a escolha de Marvila não foi ao acaso, explica Anel Imanbay. “Em primeiro lugar, Marvila é em bairro que reflete o espírito vibrante de Lisboa, tendo-se tornado um centro dinâmico de criatividade e cultura. Depois, é também onde moro, com o meu marido português e com o meu filho nascido aqui. Adoro isto, adoro Lisboa”, disse para justificar a localização de uma conferência que não vai ter nome de capital.
Embora não esteja no cardápio formal da conferência, o apelo à inovação será algo transversal às intervenções. A inovação na expressão musical estará, por exemplo, a cargo da artista Gisela João, que está a refundar o fado. “Se queremos melhorar a arte de sermos humanos temos também de inovar a título pessoal e isso passa por aprender algo novo, adquirir novas competências, ser flexível na adpatação às mudanças e sair da nossa zona de conforto”.
Conexão e felicidade
Nesse sentido, “acredito que quem vier ao TEDx Marvila vai sair com a sensação de que leu dezenas de livros sobre vários temas num só dia. E acredito também que sairá com uma energia criativa e com maior potencial de transformar a sua vida e a dos outros”, disse. Sobre a relação entre estar envolvido em projetos com impacto social e o grau de felicidade, Anel Imanbay, não tem dúvidas de que “a felicidade é algo que se descobre no coletivo, não é individual. Quando as pessoas se sentem conectadas, sentem uma energia muito maior e isso também traz mais felicidade”. Um exemplo disso mesmo é o ambiente que se vive em torno da organização deste evento, todo ele única e exclusivamente apoiado em trabalho voluntário, sem remuneração – incluindo a fundadora e os oradores. “ E o que as pessoas me dizem é que se sentem muito entusiasmadas, como se tivessem regressado ao entusiasmo da infância”. O evento conta com patrocinadores, mas, de acordo com as regras da empresa norte-americana TEDx, os patrocinadores nunca podem ser oradores. Um exemplo disso é mesmo é o da presença prevista do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas. “Como o presidente é orador, a autarquia não patrocina”, esclarece a fundadora da iniciativa. Para conseguir a licença da TEDx, a empresária especializada em finanças e marketing candidatou-se e viajou até Atlanta, nos Estados Unidos, onde esteve em outubro para fazer a formação adequada.
Anel lembra o potencial de visibilidade destes eventos, que têm 45 milhões de subscritores online, e que permitem a alguém que não é uma celebridade, mas tem boas ideias poder alcançar um público muito vasto. Não será necessariamente o caso de alguns dos oradores desta edição, já bastante conhecidos, como é o caso de Jonny Thomson, filósofo e autor de ‘Mini Philosophy’, um best-seller traduzido em 20 línguas, que vem falar da herança da filosofia e de um tema cativante, ‘a importância das amizades’. Ou de Natalie Turner, globalmente reconhecida como especialista em inovação e criadora do método SIX I’s, que capacita indivíduos e organizações para transformar ideias em impacto real e já foi consultora de várias entidades, entre as quais o governo de Singapura. Mas também um exemplo português de inovação, como é o caso de Pedro Santa Clara, professor de finanças e fundador da primeira universidade totalmente digital de Portugal, a Escola 42, com um conceito de ensino/ aprendizagem totalmente inovador, na área das tecnologias de informação. Ou ainda o exemplo de Oluwole Omofemi, artista plástico nigeriano, conhecido por ter pintado o último retrato oficial da Rainha Isabel II antes da sua morte.
Anel Imanbay já tem a edição do próximo ano montada na cabeça e vai girar em torno do apelativo e complexo enigma ‘O que é o Amor?’. “Será com alguns dos oradores que, com muita pena minha, não couberam nesta edição”, revela em primeira mão a cidadã do mundo que saiu aos 17 anos do Casaquistão, estudou no Reino Unido e viveu em vários lugares, entre os quais, a Namíbia, em África.
Para além de uma exposição interativa ‘The Heart of Being Human’, o evento contará também com a estreia da curta-metragem Being Human, realizada por e desenvolvida por uma equipa multidisciplinar de talentos do cinema, música e moda, incluindo Ana Volik, Vasilisa Forbes, Mia Knop Jacobsen, Luigi Rapanelli e Hengdi Wang. Integrada na exposição exclusiva ‘The Heart of Being Human’, esta obra foi criada por um coletivo de artistas voluntários do evento, unidos pelo propósito comum de capturar a essência da experiência humana e o impacto transformador da arte, refere a organização.