Sabe-se que foi muito pressionado por Luís Montenegro para avançar. Acabou por ceder. Passando naturalmente por um período de ponderação, a decisão foi minha e exclusivamente minha, aquilo que o presidente do PSD sempre me disse é que aguardava a minha decisão. Nunca me pressionou para avançar. Nega que houve um forte incentivo? Sim, nem sequer me incentivou. Colocou-me completamente à vontade. Aliás, o primeiro-ministro já disse publicamente que teria tido muito gosto em que eu tivesse continuado no governo e que lhe faço falta, em certo sentido. Um candidato autárquico precisa de gostar de rua, de mercados, de feiras. Concorda quando se diz que tem mais perfil de gabinete? Não tenho um espírito ou um perfil tão espalhafatoso, tão pantomineiro, como eventualmente outros. Mas talvez venha a surpreender muitas pessoas durante a campanha. Adoro abraçar as pessoas, adoro conversar com pessoas. De preferência longe das câmaras. O ministro dos Assuntos Parlamentares tinha uma posição muito firme relativamente a acordos com o Chega: “Não é não”. Vem agora dizer que, em autárquicas, as linhas vermelhas não fazem sentido. O que mudou? Rigorosamente nada. Em caso algum ponho a hipótese de fazer qualquer espécie de acordo de governação com o Chega. Isso para mim é muito claro e muito evidente. Aquilo que afirmei, e reafirmo, é que no âmbito autárquico, temos a obrigação democrática, devemos ter a humildade democrática, de acolher contributos de todos. Depois de ser presidente da Câmara do Porto, o meu partido passa a ser o Porto. Por isso, tenho a obrigação ética de ouvir todos, de acolher todos. Se o Chega eleger vereadores, tratarei os vereadores do Chega como tratarei todos os outros. Vou dar um exemplo concreto. Infelizmente, teremos de endurecer a política de segurança na cidade. Terei todo o interesse em ouvir e eventualmente acolher contributos do Chega a esse respeito. Isso é muito diferente de haver qualquer espécie de acordo de governação, ou distribuição de pelouros pelos vereadores do Chega. O que o leva a excluir acordos de governação? Três razões. Por uma questão de princípio, tendo em conta algumas atitudes que me parecem contrárias ao princípio humanista, e até liberal no sentido da defesa da liberdade, que a cidade do Porto sempre teve. Em segundo lugar, por um critério de responsabilidade política, na medida em que aquilo que o Chega propõe em muitas matérias é de profunda irresponsabilidade. Não estudaram, não avaliaram, não mediram e propõem o que lhes vem à cabeça. E por um terceiro motivo, mais prático, mas muito importante: um acordo de governação só faria sentido se fosse para dar estabilidade e sustentabilidade a um projeto. Ora o Chega não é confiável. Nunca saberia se no dia a seguir ao acordo ainda era válido ou não. .Se o Chega eleger vereadores, tratarei os vereadores do Chega como tratarei todos os outros. Vou dar um exemplo concreto. Infelizmente, teremos de endurecer a política de segurança na cidade. Terei todo o interesse em ouvir e eventualmente acolher contributos do Chega a esse respeito. Isso é muito diferente de haver qualquer espécie de acordo de governação, ou distribuição de pelouros pelos vereadores do Chega. .O candidato do Chega era há um ano líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal. O que significa que entra no eleitorado tradicional do PSD. Pode ser um problema para si? Não faço esse cálculo. Estou relativamente pouco preocupado com os outros candidatos. Estou muito confiante com o meu projeto político. Tentou um acordo pré-eleitoral Miguel Corte Real? Não, nem pensar. Mas tentou com o Filipe Araújo. Inclusivamente, foram-lhe propostos alguns cargos, na expectativa de que, assim, não avançasse. Não tenho conhecimento de nada disso. .Está pouco preocupado com os outros candidatos. Mas recusa debater com Pizarro e Araújo, num formato a três. Estou disponível para debater com todos. A três, não. Porque me parece evidente que só há dois candidatos a presidente da câmara do Porto. É só isto. Nada contra nenhum candidato específico, acho até que é um sinal de vitalidade da cidade termos muitos candidatos. Chama-lhe a “lebre” de Pizarro. Parece mais ou menos evidente que essa candidatura é de facto uma bengala do Partido Socialista, mas isso é uma opinião que eu ouço a muita gente. Eu, confesso, não perco muito tempo a pensar nisso. Já Manuel Pizarro, numa entrevista ao DN, chama-lhe “delegado do Governo às autárquicas”. Como compagina o engajamento com o governo central com a vontade de protagonizar a afirmação política nacional da cidade do Porto? Ou aposta no amiguismo? O Porto precisa de uma liderança com dimensão nacional, o Porto não é menos que Lisboa. O Porto não é província. Se em Lisboa há líderes com dimensão nacional, designadamente líderes locais com dimensão nacional, o Porto tem de os ter também. O meu partido, mal seja eleito, vai chamar-se Porto. Portanto, não há amiguismos. Isso acabou. Continuarei a ter a minha vida pessoal, o primeiro-ministro é meu amigo, não vai deixar de o ser. Mas ambos sabemos isto: sempre que for preciso ser reivindicativo e crítico ou, então, persuasivo e sedutor, serei. Darei uma dimensão diferente à cidade do Porto. .Não há amiguismos. Isso acabou. O primeiro-ministro é meu amigo, não vai deixar de o ser. Mas ambos sabemos isto: sempre que for preciso ser reivindicativo e crítico serei.Enfrentaria ex-colegas de governo? Completamente. Os ministros conhecem-me, e isso dá-me uma vantagem acrescida. Vou ser determinado, sem nunca vacilar na defesa do interesse da cidade do Porto. Tenho um trunfo importante: não me recordo de que alguém tenha abdicado de ser ministro para ser presidente de câmara. Ou então, foi para ministro para ganhar balanço. Não, não, não, não, não. Na altura, nem passava pela cabeça. E estou convencido de que tenho as melhores condições possíveis para lutar por uma afirmação diferente da cidade do Porto no contexto nacional. Nesse capítulo, Rui Moreira falhou? Não digo isso. Digo que ao longo de muitos anos, vários presidentes têm tido uma atitude de uma passividade excessiva, com a melhor das intenções, até, eventualmente, com alguma resignação, porque percebo que haja alguma desilusão. Nós vamos ter uma voz mais forte, ter um punho mais firme. Como é a relação do Pedro com Rui Moreira? Do ponto de vista pessoal, é ótima. Do ponto de vista institucional, tenho um grande respeito pelo trabalho que ele desempenhou. Isto não significa que não tenha a ambição de fazer diferente em algumas matérias e melhor, noutras. Como é que interpreta o facto de vermos Rui Moreira entre si e o primeiro-ministro no dia de um Conselho de Ministros que foi também de anúncio da sua candidatura? Seria estranho que o presidente da Câmara do Porto não recebesse o Governo institucionalmente. Rui Moreira foi avisado de que estaria a posar ao lado de um candidato à CMPorto? Eu não lhe disse, mas também não apresentei a minha candidatura no Bolhão. Apresentei-a nesse dia, num artigo publicado num jornal. Alguém acredita na coincidência? Pois, se calhar não. Mas foi o que aconteceu. .Se ganhar, assumirá o pelouro da Cultura. Que cultura, da parte de quem defendeu o fim da RTP2 e uma estação pública sem publicidade? Assumi a cultura por várias razões. Desde logo, porque no Porto, ser o próprio presidente a assumir, tem dado bons resultados. Em segundo, porque não acredito em políticos programadores. Os políticos não devem ter uma atitude dirigista, nem levar o gosto cultural para a decisão política. E em terceiro lugar, porque acredito que devemos, de facto, valorizar a cultura que é a identidade da cidade. É uma área onde temos de ter intervenção pública, nomeadamente com investimento de dinheiros públicos. Na cultura não é liberal? Na cultura, não tenho nada de liberal. O orçamento da câmara tem de ter uma fatia significativa para a aposta na cultura. Há pouco, elogiei Rui Rio, nomeadamente com o programa Porto Feliz. Tenho de dizer que, do ponto de vista cultural, estou a milhas daquilo que é a visão dele para a cultura. Revejo-me muito mais na visão de Rui Moreira. Se vencer as eleições, quer chamar a si a Cultura, o governo central remete-a para um ministério sobrelotado.Admito que simbolicamente tem relevância, mas é só simbolicamente. Estive no governo e sei que isso, na prática, no dia a dia, não tem qualquer impacto. Exemplos de ministérios da Cultura, criados com muita pompa, que nada fizeram, são vários. Não passaram de uma flor na lapela. Já deixou claro que se perder as eleições não vai ser vereador. Não deixei propriamente claro, mas não quero criar tabus, nem fugir àquilo que é. Por muito que isso possa ser impopular, tenho a obrigação de ser honesto. Se digo que sou candidato a presidente da câmara é porque tomei uma opção de vida que mo permita ser, até com custos materiais óbvios. Significa que não vou fazer mais nada nos próximos anos. Agora, se não for eleito presidente da Câmara do Porto creio ter o direito de voltar à minha vida privada, sendo que isso não será compatível com a vereação. Para ser completamente honesto, as pessoas não podem exigir que, de alguma maneira, deixe de viver a minha vida para ser vereador da oposição, se for eleito. Até ao dia em que aposte na presidência do PSD? Para mim, é muito claro que quando deixar de ser presidente da Câmara do Porto, ou num cenário que para mim não é o desejável, que é o de não ser eleito, volto à minha vida privada, onde gostava e gostarei de estar muito em todos os aspetos. A liderança do PSD não é um objetivo? Está mesmo enganada. Nunca serei líder do PSD. Está completamente fora das minhas perspetivas e da minha equação. Estou absolutamente convencido que este vai ser o meu último cargo político. Tenho 52 anos. Se cumprir os três mandatos, deixarei a CMPorto com 64. Não pretenderei mais cargos políticos. Não gostava de ser primeiro-ministro? Não. É uma vida infernal. .Rui Moreira: "O Porto está profundamente consternado com a dimensão da tragédia".Autárquicas. PS faz queixa de ministro Pedro Duarte por “uso do aparelho de Estado” para campanha