Incerteza internacional é o que mais pesa na bolsa portuguesa.
Incerteza internacional é o que mais pesa na bolsa portuguesa. EPA/SARAH YENESEL

Para a bolsa nacional, “os ventos internacionais” são o que sopra mais forte

Principal índice acionista tem estado a cair nos últimos dias, mais pressionado pela conjuntura internacional do que pela crise política em Portugal. Até as obrigações nacionais se mantêm estáveis.
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À boleia do sentimento que tem estado a marcar as sessões nas praças internacionais, o principal índice acionista português, o PSI, que engloba as 15 maiores cotadas do país, tem estado a negociar no vermelho nos últimos dias. Ainda assim, até ontem, o PSI garantia ganhos de mais de 5% no acumulado do ano, muito ajudado pela prestação do Millennium BCP, que, graças aos resultados demonstrados, tem estado a ganhar a confiança dos investidores.

A verdade é que, mesmo com uma crise política a marcar a agenda, as empresas portuguesas têm-se mantido relativamente estáveis no seu caminho, e os investidores não dão sinais de preocupações de maior com o mercado nacional. Isto porque, explica Filipe Garcia, da IMF, “a bolsa portuguesa tem poucas empresas, e, das empresas do [principal] índice, não há uma exposição direta muito relevante a estas conjeturas. Talvez a Mota Engil seja a exceção a isto, devido ao possível interregno de aplicação dos fundos do PRR, mas mesmo assim estamos sempre a falar de um impacto marginal”.

Vítor Madeira, da XTB, concorda com esta análise e diz, em resposta a um pedido de análise do DN, que “o índice PSI está a registar uma performance equivalente ou superior face aos seus pares europeus. No entanto, o índice tem apresentado um comportamento não-correlacionado em relação aos seus pares americanos, evidenciando um movimento contraciclo”.

É preciso ter em conta, acrescenta, que “este padrão já havia sido observado há 6 meses, quando o PSI apresentava uma trajetória de correção, enquanto outros índices registavam ganhos. Desta forma, a instabilidade política não aparenta ter impactado o desempenho do índice por enquanto. Estes movimentos podem estar a ser influenciados pelas flutuações dos mercados europeus e pelos resultados corporativos, que têm superado as expectativas dos analistas”.

Filipe Garcia corrobora, notando que no seu entender “não há grandes motivos para termos uma relação entre as duas coisas” - ou seja, entre a crise política que estalou nos últimos dias e os movimentos nos mercados financeiros. Até porque, salienta, à partida “não está em causa nenhuma alteração do ponto de vista orçamental, porque os partidos como o PSD, o PS, a IL ou, melhor dizendo, todos os que não são dos extremos, são vistos como defensores de uma política orçamental saudável, consciente, pragmática e responsável. Não é expectável que haja uma alteração do domínio do centro na política portuguesa, e isso é o mais relevante quanto à perspetiva externa em relação Portugal”, esclarece.

Aliás sublinha, o facto é que os juros sobre as obrigações nacionais a 10 anos se têm mantido estáveis, e muito próximas dos valores cobrados pela dívida alemã, que é tida como referência, como refere também Vítor Madeira. “No que se refere às Obrigações do Tesouro a 10 anos, também não se observa qualquer indício de aversão ao risco, especialmente quando comparadas às obrigações alemãs.”

O PSI encerrou a sessão de ontem a perder 1,10%, à semelhança das principais bolsas europeias - o Stoxx 600 caiu 1,3% - e do que se adivinhava nas bolsas norte-americanas, onde a sessão arrancou no vermelho também, com o S&P 500 e o Nasdaq a registarem perdas acima dos 2% e 3%, respetivamente, à hora a que este texto foi escrito.

O S&P 500, o maior índice da bolsa dos EUA, já soma, aliás, perdas de mais de 3% no acumulado deste ano, graças ao sentimento de incerteza causado pela Administração Trump.

“Há uma camada de risco adicional relacionada com esta incerteza política - a reunião entre Trump e Zelensky foi algo que desagradou às pessoas, independentemente do lado que defendem. Deu a ideia de uma grande superficialidade no tratamento do que estava em causa, e ninguém gosta de ver estas matérias em mãos que não são seguras. O pior foi isto”, considera Filipe Garcia. “Ninguém nos mercados ficou muito tranquilo depois de ver aquilo e, portanto, para já, o vento é este. E para Portugal contam mais os ventos internacionais que estão a soprar”, observa.

E, sem querer fazer futurologia porque “é preciso ver que tudo muda muito depressa”, diz o analista da IMF, o que é certo “é que estão muitas peças a mexer. Sim, a volatilidade está em alta, vemos que estamos em zona de máximos de alguns meses” e, precisamente por isso, é preciso cautela na antecipação do que se seguirá. Que é como quem diz: nada como olhar para as bolsas e estar atento às novas parcerias comerciais que podem surgir graças às decisões tomadas pela Administração Trump e que poderão favorecer algumas indústrias europeias, assim as partes os desejem.

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