Fátima Henriques, 64 anos, tem como meta faturar 100 euros por dia como motorista de táxi. Em geral, precisa trabalhar de 10 a 12 horas para atingir o montante que estabeleceu a si própria como o valor que precisa mensalmente. “O serviço de táxis, infelizmente, está muito desvalorizado neste momento”, afirma a motorista ao DN. Maria de Fátima está na função há 14 anos, profissão escolhida por ser ter ficado doente e impedida de outras atividades profissionais.Assim como Fátima, já perto da idade da reforma, ao olhar para as praças de táxis em Lisboa o padrão é ter poucos condutores jovens. A profissão já não é tão atrativa como no passado o que tem feito com que o número de licenças esteja a cair desde 2018. Segundo os números obtidos pelo Diário de Notícias junto do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), foram emitidas 1046 primeiras licenças em 2024. O dado é uma diminuição de 10%, quando comparado com as 1171 novas licenças de 2023. .Se olharmos mais atrás, os dados mostram uma descida ainda mais acentuada. Em 2018 o IMT emitiu 4237 licenças, tendência decrescente apenas invertida em 2020, quando o número foi de 5736. O valor da licença é de 110 euros, 80 euros para a realização do exame e 30 euros para a emissão do chamado Certificado de Motorista de Táxi (CMT), a que acrescem os custos de formação, cujos valores variam conforme a empresa formadora.Emílio Teixeira, 74 anos, foi um dos portugueses que escolheu a profissão ainda cedo. Veio da Foz do Douro para Lisboa em 1967, quando fez a formação e começou a trabalhar como taxista até 1980. Depois, passou a ser instrutor até se reformar, quando voltou ao ofício inicial do percurso profissional. “Gosto muito, mas o movimento diminuiu bastante, está fraquinho. Estes meses de janeiro e fevereiro também são muito mais fracos, as pessoas gastam todo o dinheiro no fim do ano”, explica Emílio Teixeira.O condutor conta que costuma trabalhar até 12 horas por dia e que a profissão não é rentável para os jovens. “É muito caro obter uma licença e um carro, muitos não querem isto, vão para outras profissões”, frisa. Na visão do profissional, os reformados são os que continuam a manter o serviço ativo. “O dia em que os reformados se forem embora o táxi não sobrevive”, destaca Emílio Teixeira, que garante continuar a trabalhar porque “parar é morrer”.. Maria de Fátima é um pouco mais otimista. Ao rodar pelas praças de Lisboa, diz que vê, às veze,s pessoas mais jovens e também mulheres ao volante. Ao mesmo tempo, acredita que a clientela que prefere usar táxis é fiel, o que garante a continuidade do serviço. “Algumas pessoas só andam de táxi, por diferentes razões. Há também quem comemore quando veem que é uma mulher a conduzir”, relata a condutora. Ao mesmo tempo, diz que um dos motivos que levam ao desinteresse de alguns clientes é a forma como foram tratados. “Infelizmente há colegas que tratam mal os clientes. É um trabalho de que a pessoa precisa gostar, ter postura, gostar de conversar, porque ouve-se de tudo”, explica. Ambos os taxistas ouvidos pelo DN destacam que a clientela é mista, mas os idosos ainda predominam.De olho no futuroAtrair mais clientes e “novos tipos de clientes”, nomeadamente pessoas mais jovens, é uma das metas da Cooperativa Rádio Táxis de Lisboa, a Retális, que possui uma frota de 800 condutores. A cooperativa está a ultimar uma app em que o cliente vai saber o preço da corrida e com método de pagamento integrado, como cartão de débito ou crédito. A ferramenta deverá estar em funcionamento daqui a um mês, de acordo com Pedro Lopes, presidente desta cooperativa de táxis..Retális vai lançar app com método de pagamento integrado e preço da corrida.Em entrevista ao Diário de Notícias afirma que a medida foi justificada como estratégia dos novos tempos. “Tivemos também de entrar um pouco neste tipo de mercado e pôr à disposição do público um serviço através do qual a pessoa sabe o preço que vai pagar, nem mais, nem menos, de uma forma cómoda, em que chama o carro e chega ao destino, sem trocas de dinheiro, sem trocos, sem perda de tempo, tivemos de optar por essa via”, explica.O serviço estará disponível inicialmente em Lisboa e arredores, nomeadamente Amadora, Oeiras, Odivelas e Loures. Parte da Margem Sul também estará abrangida, como Almada, Seixal e Barreiro. A cooperativa também estuda expandir, no futuro, a app para funcionamento no Porto.. A ferramenta terá funcionalidades semelhantes aos TVDE, com o pedido pela aplicação, com indicação do valor total da corrida e débito ao cartão associado à conta. Já o envio da fatura/recibo será pelo e-mail associado do cliente. “90% dos nosso táxis possuem pagamento eletrónico”Um argumento comum na escolha por TVDE em vez de táxi é a necessidade de dinheiro e, hoje, nem sempre as pessoas possuem dinheiro no bolso. De acordo com o presidente da Cooperativa Rádio Táxis de Lisboa existe um desconhecimento por parte das pessoas sobre a modernização dos táxis. “Há muita tentativa de descredibilização nas redes sociais, que operam em consonância com os grandes grupos económicos”, ressalta. Na Retális, assegura que “mais de 90% dos veículos possuem serviços de pagamentos eletrónicos”, principalmente máquinas de cartões.Com o lançamento da nova app, a cooperativa espera estar mais competitiva no mercado e alcançar mais clientes. Segundo o presidente, os idosos e pessoas mais velhas continuam a ser parte dos clientes mais fiéis do serviço, mas há uma “nova tendência” de pessoas mais jovens que passaram a utilizar táxis. Os motivos estão ligados a “más experiências” com plataformas e, por isso, decidiram migrar de serviço. O lado económico, segundo frisa, também é levado em conta. “Os TVDE operam com algoritmos, e, apesar de mis baratos que os táxis, os preços podem ter um aumento brutal repentino, enquanto no táxi isso não acontece”, explica.Em Portugal, os preços são tabelados pelo Estado e com uma uma “margem de lucro muito pequena”, mas que “o preço de hoje custa o mesmo mais tarde, custa amanhã ou daqui a dois meses”, complementa. Com o início da nova app, em que constará o valor final da viagem, Pedro Lopes confia que será um atrativo. Mas, na visão do profissional, só as modernizações e adaptações não são suficientes. “É preciso que os Governos olhem para nós, porque a existência dos táxis garante a todos os consumidores que os preços estejam minimamente controlados”, defende.Paulo Lopes ainda lembra que, em 2018, após uma grande manifestação dos taxistas, ficou acordado que as autarquias iriam controlar os TVDE, algo que “nunca aconteceu e que parece cada vez mais longe e a prejudicar o serviço de táxi, que existe há mais de 100 anos no país”.O presidente da Retális diz ter esperança de que a situação dos táxis entre na agenda do dia. “Esperamos que todos os Governos e todas as autoridades efetivamente comecem a olhar para o táxi e comecem a proteger o táxi e não somente a dar aos outros concorrentes muito mais trunfos, porque podemos coexistir com as plataformas”, salienta.Pedro Lopes também defende “mais fiscalização” aos TVDE e define que em muitos locais a situação é de “balbúrdia”, porque “não há nada que impeça um grande número de veículos no mesmo sítio, o que causa problemas de circulação”, citando o Porto e cidades do Algarve no verão.amanda.lima@dn.pt.Autoridade de Transportes recomenda inclusão da travessia fluvial do Sado entre Setúbal e Troia no passe Navegante